quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 125

Tédio Real
Data: junho de 1977 / Local: Rushmore Civic Center, Rapid City / Texto: Lu Gomes / Photo: RCA Victor. 

No final de sua vida quanto mais debilitado ficava, mais Elvis procurava refúgio em Graceland, seu castelo em Memphis. Nesse rancho de 33 acres, no mais puro estilo sulista, o Rei do Rock'n'Roll passava semanas - e às vezes até meses! - em seus aposentos, cercado de todos os cuidados enquanto curtia sua fossa existencial. Graceland está muito bem protegida, tem todas as janelas vedadas e o ar condicionado funciona ininterruptamente, para evitar que Sua Majestade fique transpirando. Agora Elvis está dormindo em sua enorme cama e cada vez mais se parece com Gladys, a sua adorada mãe, cuja foto em sua cabeceira ele contempla amiúde, por horas a fio. Seus cabelos estão grisalhos nas raízes e suas olheiras são profundas. E como ele está gordo! Sua obesidade, todavia, deve-se única e exclusivamente aos seus hábitos alimentares, criados e desenvolvidos quando criança. Elvis está sempre se encapuçando de comida a qualquer hora do dia ou da noite. No seu guarda roupas há uma geladeira tamanho família, recheada com guloseimas para saciar todos os seus repentinos ataques de fome. Durante as madrugadas Elvis é capaz de comer meia dúzia de melões ou tomar dezenas de iogurtes ou, ainda, devorar dúzias de picolés! 

Quando acorda sua primeira preocupação é com o relógio. Após uma ligeira olhadela na TV colorida aos pés da cama constantemente ligada, mas com o som inaudível Elvis telefona para a cozinha querendo saber que horas são: "Quatro horas, chefe!" - informa a cozinheira de plantão. "Da manhã ou da tarde?" pergunta ele ainda grogue pelos efeitos dos barbitúricos. Sua primeira refeição é sempre a mesma coisa, vinte fatias de bacon bem tostadas, batatas amassadas, uma porção de Sauerkreat (repolho cozido e fermentado), um prato de ervilhas e algumas rodelas de tomate. Misturando as batatas ao repolho e às ervilhas, ele transforma tudo numa pasta, a qual devora às colheradas. Com os dedos da mão esquerda ele pega os alimentos sólidos e, quando toma seu café, coloca os lábios na parte logo acima da asa da xícara, um lugar jamais tocado pela boca de uma outra pessoa. Rindo e brincando com seu prato como se fosse uma criança, sempre se distraindo com alguma coisa na televisão ou com o telefone que toca, sua comida acaba esfriando e é substituída por outra quente. 

Desse modo, Elvis acabava comendo grande parte de até três ou até mesmo quatro pratos! Portanto, a causa de sua "misteriosa doença" que fez com que ele atingisse os 120 quilos de peso, era apenas a sua gula compulsiva. Barriga cheia, é hora do Rei do Rock ir repousar e recrear seu espírito. Durante seus prolongados repousos, Elvis jamais ficava sozinho, salvo por algumas poucas ocasiões em sua vida. Quando desejava se entreter durante seus "retiros", havia dois televisores pendurados no teto de seu quarto, além de outra gigantesca aos pés da cama, onde Elvis assistia aos seus limites em video cassete. Ele curtia muito "As grande lutas do século", a cena do assassinato de John Kennedy, ou imaginar-se na pele de Clint Eastwood em Dirty Harry. Mas acima de tudo, Elvis adorava dar boas gargalhadas com o humor refinado dos filmes do grupo britânico Monthy Python. 

A comédia sofisticada e as piadas cheias de nonsense da trupe de humoristas ingleses o divertiam tanto, que demonstravam existir ainda resquícios de inteligência em sua mente deteriorada. Durante essas semanas de isolamento, Elvis podia observar qualquer cômodo da mansão ou ver os fãs no portão musical, graças a um sistema de TV de circuito fechado, com câmeras por controle remoto espalhadas por toda Graceland, e ligadas a monitores instalados atrás de sua cama. Era uma experiência comum a qualquer pessoa que pusesse os pés nesse estranho palácio perceber em meio à uma conversa que a câmera da sala havia parado e estava focalizada diretamente sobre o seu rosto - O Rei estava de olho!

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio. 

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 124

O Menino da Bolha de Plástico
Data: 1976 / Local: Dallas / Texto: Lu Gomes / Photo: RCA Victor. 

Retiro na Elvis Presley Boulevard 
Caso estivesse num astral romântico, Elvis gostava de ouvir o velho ator Charles Boyer declamar versos sntimentalóides sobre um fundo musical Hollywoodiano: "Se o coração é o lugar de onde vem o amor / Então para onde vai o amor quando se morre? / De volta ao coração de onde veio / Ou se transforma em lágrimas nos olhos?" Depois de mais alguns versos com pensamentos tão profundos como estes, um coro virginal invadia o sistema de som quadrafônico, os violinos subiam em crescendo e a música torna-se estratosférica e muito adequada para curtir uma dor de cotovelo sob efeito de drogas. 

Deitado no sofá da sua sala de estar que mais parece o hall de um hotel havaiano, escutando enlevado as açucaradas poesias recitadas pela voz profunda e ressonante de Charlers Boyer e completamente entupido de narcóticos, assim devemos imaginar o Rei do Rock curtindo seus momentos de ócio no período final de sua vida. A única coisa que tirava Elvis desse eterno torpor era a necessidade de voltar à estrada para cumprir seus contratos. Nessa altura de sua vida as viagens já haviam se tornado um farto na vida do cantor, pois viajar já não lhe trazia mais nenhum prazer. Para diminuir o desconforto da estrada, Elvis logo comprou um avião particular. Presley gabava-se de ser o único artista do mundo a possuir seu próprio jato de quatro turbinas batizado de Lisa Marie em homenagem à sua filha. Esse avião foi adquirido para comemorar seu 40º aniversário e sua intenção era voar numa réplica do Air Force One, o Boeing 707 do presidente dos Estados Unidos. Por pouco mais de 1 milhão de dólares, Elvis comprou e redecorou a seu gosto um Convair 880, que transportava 96 passageiros quando em operação pela Delta Airlines. 

Quando se olha para o Lisa Marie, lembra-se imediatamente do Air Force One, com aquelas faixas azul e vermelha atravessando o avião branco de cabo a rabo. Mas o interior do Lisa Marie não tem nada a ver com o avião presidencial: dividido em três seções principais, na frente fica a sala de estar e recreação, com sofás e mesas para jogos, televisores e um sistema de som quadrafônico de 15 mil dólares. No meio fica a sala de jantar ou de conferências, com uma grande mesa rodeada por seis poltronas tipo espacial. Esta sala é também um centro de comunicações, contando inclusive com um telefone capaz de fazer ligações para qualquer lugar do planeta. Na parte traseira, onde pode embarcar e desembarcar sem ser visto, fica o compartimento mais importante do avião: o apartamento de Elvis, uma versão aerotransportada de seu quarto e banheiro de Graceland, totalmente decorado em tons azul e com todas as comodidades encontradas na mansão. 

Como aquele garoto doente que só podia sobreviver dentro de uma bolha de plástico, Elvis parecia incapaz de viver fora de seu habitat artificial. Enquanto o majestoso avião cruza os céus dos Estados Unidos em direção ao deserto de Nevada, os controladores de tráfego aéreo dos aeroportos vão saudando o Rei do Rock'n'Roll por onde ele passa: "Alô oitenta Eco Papa!...Como gostaríamos de estar aí com vocês...Diga a Elvis que nós o amamos!".

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 123

Elvis, o mão aberta
Data: junho de 1977 / Local: Rushmore Civic Center, Rapid City / Texto: Lu Gomes / Photo: Elvis In Concert. 

Ouro de Tolo 
Com 40 anos de idade, Elvis Presley tinha conseguido ganhar milhões de dólares - e estava duro! O motivo é simples: ele era o mais impulsivo consumidor de todos os tempos. Suas extravagâncias tornaram-se lendárias. Uma noite em Memphis, ele comprou 14 cadillacs e, quando uma velha senhora negra vinha passando pela calçada, deu de presente a ela um dos carros mais luxuosos. A sua súbita mania de comprar aviões (depois de passar a vida inteira com medo de voar) fez dele o proprietário de uma frota de quatro aviões a jato. A disposição de instalar seus camaradas em casas novas, impulso que se estendeu a Linda Thompson, que além de ganhar uma casa só para ela, ainda ganhou uma para os pais e outra para o irmão. 

Esse jeito de gastar dinheiro, apenas permitido a um xeque do petróleo, só poderia mesmo deixar Elvis Presley a um passo da pobreza! Mas ele não foi sempre assim. Quando jovem Elvis era tão pão duro quanto seu pai Vernon. Mais tarde, no ínicio dos anos 60, Elvis ficou tão impressionado com textos religiosos do tipo "será muito mais díficil para um homem rico entrar no reino dos céus do que um camelo passar pelo buraco de uma agulha" e praticamente começou a jogar dinheiro fora nos seus anos finais. Considere esses atos de desvario. No 8º aniversário de Lisa Marie em 1976, Elvis estava recebendo em Graceland dois de seus amigos policiais preferidos: o detetive Ron Pietrafeso e o capitão Jerry Kennedy, ambos da polícia de Denver, Colorado. À noitinha, Elvis começou a falar sobre um incrível sanduíche que havia saboreado em um restaurante de Denver. A delícia era feita com pão francês, geléia, pasta de amendoim e bacon e custava 50 dólares, o que era o motivo de seu nome: Fool's Gold (ouro de tolo). Enquanto Elvis falava, um dos caras ficou com água na boca e disse: "Rapaz, como eu gostaria de um desses agora!". Imediatamente uma luzinha piscou na mente de Elvis e ele não vacilou. Qualquer que fosse o desejo que se fizesse no palácio do Rei do Rock, ele seria atendido: "Então vamos lá comer um!" - ordenou Elvis. Num piscar de olhos, 19 pessoas estavam à bordo do Lisa Marie voando para o Colorado. 

Pelo telefone do avião foram encomendados 22 suculentos sanduíches (três para a tripulação), uma caixa de champanhe e uma de água mineral. À 1:40h da madrugada, quando o Lisa Marie aterrissou no aeroporto de Denver, o dono do restaurante levou a comida a bordo e todos degustaram os sanduíches, em seguida o avião decolou de volta a Memphis, a 3000 Km de distância. De acordo com o piloto Milo High, esses 22 sanduíches mais os custos operacionais de colocar a aeronave no ar custaram ao Rei uma quantia superior a 100 mil dólares. O alto custo financeiro desse simples capricho e impulso de Elvis foi gasto em menos de três horas! Conseguir seu quinhão do tesouro real tornou-se um das maiores preocupações na corte do Rei moribundo. Um dos que se deram bem foi o médico particular de Elvis, Dr George Nichopoulos. Primeiro o médico ganhou a tradicional casa nova no valor de 350 mil dólares. Depois o Dr Nichopoulos se juntou a um grupo de médicos para construírem um centro clínico no valor de 5.5 milhões de dólares e de novo ele foi buscar ajuda financeira em seu principal cliente. A grana não era muito importante para os caras da máfia de Memphis no começo. Elvis nunca pagava um salário de verdade, mas isso realmente não importava quando se era jovem, solteiro, despreocupado e se ficava circulando com o chefe em carros luxuosos e curtindo uma festa todas as noites, onde havia pelo menos dez garotas para cada um deles. 

Mas, quando os caras se casaram e tiveram filhos, as coisas mudaram e os salários passaram dos ridículos 35 dólares mensais em 1960 para 170 dólares semanais em 1970 e em 1976, 350 dólares por semana. Dessa forma Elvis estava desembolsando pessoalmente, todos os meses, cerca de 30 mil dólares apenas para manter sua guarda pessoal, sua entourage. Mas mesmo assim isso ainda era muito pouco para um serviço de dedicação exclusiva e que envolvia até mesmo risco de vida. Tá legal, de vez em quando Elvis jogava um carro luxuoso na mão de cada um deles, mas os caras eram obrigados a vendê-los porque, com o salário que ganhavam, não era possível sustentar um Cadillac ou uma Mercedes. E se algum deles caísse mesmo na graça do chefe poderia conseguir uma casa nova ou então todas as suas contas pagas. Existiam ainda as gratificações natalinas e um abono no final de cada excursão, mas os valores deles dependiam muito de quem os determinavam: se fosse Elvis, cada um dos caras recebia uns 5 mil dólares, mas se fosse Vernon (que odiava os caras da máfia) cada um ganharia apenas um salário semanal e olhe lá. 

Um dos grandes problemas dos caras era o desgaste de seus casamentos. Nenhum escapou do divórcio. Todas as esposas sabiam muito bem que, durante as excursões, seus maridos aprontavam o diabo. "Esposas não vão nas excursões", essa lei imposta por Elvis admitia apenas uma interpretação: Elvis ainda levava uma vida de solteiro mulherengo e os caras tinham que fazer o mesmo. As esposas odiavam esse esquema e o homem que o criou: Elvis Presley. E os caras ficavam entre dois fogos, como um cabo de guerra entre seu patrão e suas esposas. Também o que mais poderia se esperar? As esposas dos caras da máfia de Memphis eram todas ex showgirls, bailarinas e atrizes, e é claro que não eram do tipo que ficavam sentadas em casa, escutando todos aqueles boatos sobre as farras orgiásticas que seus maridos se metiam junto com Elvis Presley.

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio. 

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 122

Tomando conta dos negócios
Data: junho de 1977 / Local: Omaha / Texto: Lu Gomes / Photo: RCA Victor. 

800 mil dólares em jóias 
Durante esse mesmo ano ou talvez no seguinte, Elvis estava dando um concerto numa cidadezinha da Carolina do Norte. Ele detestava trabalhar nesses lugares. Porém como estava muito deteriorado pelo abuso de drogas e sendo selvagemente criticado pela imprensa, o coronel Parker achou melhor levar sua "propriedade" para se apresentar cada vez mais longe dos grandes centros urbanos. Embora Elvis fosse recebido como um messias, santo ou pastor religioso nessas cidades interioranas, havia ocasiões em que a platéia não gostava muito do que via. Mas, em vez de dar duro e conquistar o público, Elvis simplesmente o comprava. Afinal de contas ele era o Rei, e reis não precisam pedir nada às audiências - aliás, um rei concede audiências! Então, nessa noite em particular, vendo que não estava recebendo a devida atenção da platéia, Elvis de repente interrompeu o show. Enquanto todos no palco o olhavam incrédulos, o Rei chamou o seu ourives real, um joalheiro de Memphis chamado Lowell Hays e que, como todos ao redor de Elvis, também havia tirado a sorte grande. Hays acompanhava Elvis em todas as apresentações, sempre carregando consigo uma caixa cheia das mais caras jóias femininas, para Elvis presentear suas favoritas do momento ou qualquer outra que aparecesse, contanto que lhe desse vontade. 

Desse modo, em pouco tempo, Hays vendeu ao Rei do Rock mais de 800 mil dólares em jóias. Assim que o joalheiro entrou no palco, Elvis ordenou que a caixa fosse aberta. Então ele retirou um anel de seu interior e, como se fosse um desses animadores de TV que distribuem prêmios, Elvis mostrou a jóia ao público e perguntou: "Lowell, o que é isso que eu tenho na mão?" "Isso é um anel de ouro branco com uma estrela de safira incrustada, Elvis" - responde Hays. "Quanto custa, Lowell?". "Custa três mil e quinhentos dólares, Elvis". Com isso, Elvis se dirigiu a uma velhinha que estava sentada na primeira fila do teatro. "Vovó, quero que aceite isso porque você me recorda muita a minha velha avó Dodger, que está lá em Memphis!" E enfiou o anel no dedo da velha senhora. O auditório explodiu em gritos, suspiros e lágrimas! Pronto, agora Elvis tinha todos sob seu domínio. Mas acha que ele parou por aí? Que nada! Elvis não se contentava em dar apenas um presente espetacular e foi em frente até esvaziar por completo a caixa de jóias! 

No final, 35 mil dólares em anéis, brincos, pulseiras e colares foram distribuídos entre as duas primeiras filas do auditório, antes que Elvis desse prosseguimento ao seu show. Pobre Vernon! Ele quase teve um ataque cardíaco nos bastidores, ao ver o filho jogar dinheiro fora desse jeito tão tolo e infantil. Elvis por sua vez se divertiu como nunca, presenteando seus fãs, distribuindo beijos e abraços para todos! Esse seu comportamento extravagante Elvis justificava insistindo que poderia ganhar imensas somas em dinheiro na hora que quisesse, simplesmente se apresentando em um palco! E isso era a pura verdade como ele bem demonstrou nos anos 70. Em 1974 por exemplo Elvis deu 152 shows e ganhou uma incrível quantia de dinheiro. Nada mal hein? Mas isso não foi suficiente e no final do ano ele foi obrigado a sacar grande parcela dessa soma para poder pagar suas contas! Para onde foi essa grana toda? Para o mesmo lugar de sempre: altos custos operacionais, incluindo 1.7 milhão de dólares pelos serviços de seu empresário Tom Parker, 2.3 milhões de dólares para cobrir os custos de seus shows e banda, 1.8 milhão de dólares em impostos e mais de 1.5 milhão de dólares apenas com suas despesas pessoais. 

No final de tudo sobrava pouco mais de 700 mil dólares ao ano para Elvis de lucro, mesmo assim dava para muito bem para se virar com essa grana, mas não Elvis, que tinha entrado numas de comprar aviões! Quanto aos seus negócios com o Coronel Parker tudo o que Elvis sabia era que, toda semana, chegava uma nota de pagamento do escritório do coronel, relatando quanto ele havia ganho através de sua inúmeras firmas, bem como a dedução de 25% (às vezes até 50%) pelos serviços do empresário. Esse dinheiro ia para sua conta bancária e o banco se encarregava de deduzir os impostos. Só isso Elvis sabia a respeito de seus negócios! Resumindo: todo esse sistema era uma perfeita demonstração de como "não tomar conta dos negócios"!

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio. 

domingo, 26 de dezembro de 2010

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 121

Divórcio e Traição
Data: dezembro de 1972 / Local: Memphis, TN / Texto: "Elvis e Eu" de Priscilla Presley e Sandra Harmon / Photo: RCA Victor. 

O outro lado da história 
Mais tarde, naquela mesma noite, na suíte imperial do Hotel, Elvis encorajou-me a treinar com Mike Stone. "Ele possui a qualidade do matador. Não há nada de duas pernas que possa derrotá-lo. Estou impressionado desde a primeira vez que o vi lutar. Gosto do seu estilo". De volta a Los Angeles acertei com Mike Stone que iria à sua academia no final de semana e assistiria uma de suas aulas. Era uma viagem de carro de 45 minutos. Elvis tinha razão. Mike irradiava confiança e classe, assim como muito charme pessoal e espírito. Uma amizade profunda logo se desenvolveu entre nós. Por causa da distância, resolvi continuar o treinamento com um amigo de Mike, Chuck Norris, que tinha uma academia perto de minha casa. Mike aparecia por lá de vez em quando, como instrutor convidado. Eu estava saindo do mundo fechado de Elvis, compreendendo como minha existência fora resguardada até então. Mike e Chuck introduziram-me aos filmes populares de artes marciais japonesas, como a série do espadista cego. Em companhia de Mike, compareci a torneios de caratê locais e nos condados vizinhos, levando para casa fotos e filmes dos maiores lutadores de caratê. Queria absorver seus estilos individuais, a fim de partilhá-los com Elvis, na esperança de que fosse uma coisa que pudéssemos desfrutar em comum. 

Ao final, porém, criei um novo círculo de amigos, que me aceitava por mim mesma. As artes marciais me proporcionaram tanta confiança que comecei a experimentar meus sentimentos e expressar minhas emoções como jamais acontecera antes. Acostumada a reprimir minha raiva, eu podia agora descarregá-la honestamente, sem medo de acusações e explosões. Parei de pedir desculpas por minhas opiniões e de rir de piadas sem graça. Tive oportunidade de observar casamentos fora de nosso círculo intimo, em que a mulher podia se manifestar tanto quanto o homem nas decisões cotidianas e nos objetivos a longo prazo. Fui confrontada com a descoberta dura de que viver como eu vinha fazendo há tanto tempo era bastante anormal e prejudicial ao meu bem estar. Meu relacionamento com Mike Stone se desenvolvera agora para uma ligação amorosa. Eu ainda amava Elvis profundamente, mas durante os meses seguintes compreendi que teria que tomar uma decisão crucial sobre o meu destino. Sabia que devia assumir o controle sobre a minha vida. Não podia renunciar a minhas novas percepções. Havia um mundo enorme lá fora e eu tinha que encontrar o meu lugar nele. Gostaria que houvesse algum meio de partilhar com Elvis minha experiência e crescimento. Desde a adolescência que ele me moldara num instrumento de sua vontade. Com extremo amor, eu cedera à sua influência, tentando satisfazer cada desejo seu. 

E agora ele não estava ao meu lado. Acostumada a viver em quartos e cômodos escuros, mal vendo o sol, dependendo de acessórios químicos para adormecer e acordar, sob o cerco de guarda costas que nos distanciavam da realidade, eu ansiava pelos prazeres mais normais. Comecei a apreciar as coisas simples que gostaria de partilhar com Elvis e não podia: passeios pelo parque, um jantar à luz de velas para dois, risos. Como a maioria dos casais rompendo um casamento, passamos por um período difícil, antes de finalmente aceitarmos o fato de que estávamos nos separando. O divórcio foi consumado a 9 de outubro de 1973. Embora Elvis e eu continuássemos a nos falar regularmente, não nos encontramos pessoalmente nos últimos meses, um período de tensão, enquanto os advogados procuravam acertar tudo. Elvis e eu acabamos resolvendo tudo diretamente. Ambos éramos bastante sensíveis e ainda preocupados com os sentimentos um do outro para saber que queríamos evitar discussões e acusações amargas e tentativas de atribuir a culpa um ao outro. A principal preocupação era Lisa, cuja custódia concordamos em partilhar. 

Permanecemos tão ligados que Elvis nunca se deu ao trabalho de pegar sua cópia da sentença do divórcio. Acompanhada por minha irmã Michele, esperei no tribunal de Santa Mônica pela chegada de Elvis. Quando ele apareceu, fiquei chocada por sua aparência. Suas mãos e rosto estavam inchados, ele suava profusamente. Fomos para a sala do juiz, seguido por Vernon, Michele e os advogados. Elvis e eu sentamos diante do juiz, de mãos dadas, enquanto ele efetuava as formalidades do divórcio. Mal ouvi as palavras ditas por ele, de tão atordoada pelo estado físico de Elvis; não parava de passar os dedos por suas mãos inchadas. Imaginei se a nova namorada de Elvis, Linda Thompson, saberia o quanto ele precisava de amor e atenção. E acabei sussurrando em seu ouvido: "Sattnin, ela está cuidando direito de você...vigiando seu peso e dieta, esperando você pegar no sono de noite?" O juiz acabou de ler a sentença. O sonho que eu acalentara, de uma união perfeita estava encerrado. A esperança de um casamento ideal, que absorvera todos os meus pensamentos e energia desde os catorze anos de idade, findava com o movimento de uma caneta. Sentindo um vazio enorme, voltei com Michele para meu carro. 

Elvis, seu pai, seu advogado e alguns dos rapazes encaminharam-se para a limusine. Na passagem, eu acenei, ele piscou-me. A afinidade mútua que partilhávamos sempre existira. Quando nos encontrávamos, era como se nunca estivéssemos nos separado, trocando beijos afetuosos e sentando de braços dados, com Lisa em nossos colos; quando estávamos apartados, jamais criticávamos um ao outro. Uma vez lhe perguntei: "Acha que realmente um dia poderá viver apenas com uma mulher?". Elvis respondeu me olhando nos olhos: "Acho que sim. E agora mais do que nunca. Sei que fiz muitas coisas estúpidas, mas a pior de todas foi não compreender o que tinha até que perdi. Quero minha família de volta".

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio. 

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 120

Divórcio e Traição
Data: Fevereiro de 1973 / Local: Hotel Hilton, Las Vegas / Texto: Phill Moss / Photo: New York Times.

O Dia em que Elvis quis matar Mike Stone 
Cantor e músico do grupo The Stamps, que começou sua carreira como intérprete de hinos religiosos, J. D. Sumner fez revelações ao repórter americano Phil Moss em 1980, sobre a época em que foi uma espécie de guru e confessor de Elvis Presley. Sumner começou a entrevista declarando: "Eu não nego que Elvis usasse as pílulas receitadas pelo Dr. George Nichopoulos, condenado na justiça por lhe ter receitado doses excessivas de drogas. Mas ele não era viciado em tóxico algum. Acontecia é que abusava da medicação. O medico legista de Memphis teve razão ao dizer que Elvis morreu de um ataque cardíaco e não de conseqüências de ingestão de uma dose excessiva de tóxicos". Ele explica: "A mãe de Elvis morreu na casa do 40 anos. Um de seus tios maternos também morreu com a mesma idade. A mãe dele tinha problemas com o fígado. Elvis, alem de ter problemas com o fígado, tinha também uma doença de cólon. Essas duas enfermidades deterioraram todo o seu organismo e provocaram o mal cardíaco. Sabendo disso, Elvis me disse: 'Eu sei que não chegarei aos 50 anos'. E, realmente, ao morrer, a 16 de agosto de 1977, tinha apenas 42". 

Sumner sabe, de ciência própria, o que são problemas cardíacos, pois já se submeteu a uma cirurgia de coração, em 1978. Como ele era 10 anos mais velho do que Elvis, mereceu a confiança deste, sendo escolhido para seu confidente. O único homem que chegou a gozar do mesmo grau de intimidade com Elvis foi o professor de caratê do cantor, Ed Parker. Mas faz uma reserva: "Ele e Parker só falavam em caratê e das influencias espirituais desse exercício, enquanto comigo se abria sobre outros assuntos, que nem ao próprio pai revelava". O mais curioso de tudo é que nem Parker, nem Sumner, faziam parte da folha de pagamento permanente do cantor. Baixando o tom de voz, Sumner falou da fúria que se apoderou de Elvis Presley, quando descobriu que sua esposa, Priscilla, a quem adorava, o estava enganando com o instrutor de caratê Mike Stone. E acrescentou: "Elvis queria mandar assassinar Mike Stone. Isso aconteceu às 4h30min da madrugada, num dia de 1973, no Hotel Hilton, de Las Vegas" - relembra J.D. Sumner - "Nessa noite eu estava num quarto do 28º andar, quando, em plena madrugada, o telefone tocou. Era Joe Esposito, um dos membros da chamada Máfia de Memphis, que me pedia para subir, com urgência, à suíte de Elvis, no 30º andar. Encontrei-o na cama, furioso, com a mão direita inchada e esfolada. Estivera dando murros na parede. Acabara de saber que sua esposa era amante de outro homem". Fui logo perguntando, "Mas o que é isso, Elvis? Que diabos aconteceu?" 

Ele disse: "Aquele filha de uma cadela, o Mike Stone, tomou a milha mulher...Eu tenho que matar aquele filho de uma cadela!" Sumner diz que nunca tinha visto Elvis Presley tão enfurecido e tão violento. Precisava pensar depressa. E lhe declarou: "Pois então me dê a sua pistola! Telefone ao piloto do seu avião para que ele me leve agora mesmo a Los Angeles, onde o tal Mike Stone se encontra. Eu sei onde ele vive e o encherei de balas..." Sumner diz que Elvis ficou um tanto desconcertado com a rapidez de sua decisão e disse: "Não, não quero que você faça isso..." Era evidente que J.D. Sumner não tinha a menor intenção de matar o amante de Priscilla, apenas disse que o mataria. Summer explica: "Falei isso para Elvis na intenção da fazê-lo se convencer de que eu estava solidário com ele. Achei que, na ocasião, era o que de melhor lhe poderia dizer" E continua J.D. Sumner: "Naquela madrugada, resolvemos rezar. E disse a Elvis: Ouça, quando uma pessoa está numa situação dessas só ha uma pessoa que pode lhe dar alivio e consolo. Essa pessoa é Deus. Você quer me acompanhar numa oração?" E sua resposta foi sim. "Então chamei todos, inclusive Red e Sonny West, seus primos, que acabariam escrevendo um livro devastador contra ele anos mais tarde. Segurei uma das mãos de Elvis e rezamos. Depois dessa reza, ele se acalmou e foi dormir. O mais extraordinário foi o que aconteceu depois que ele acordou. O furor homicida da véspera havia desaparecido. E Elvis, arrependido, queria mandar de presente a Mike Stone um valioso colar. Eu lhe declarei que não fizesse isso e não o transformasse num dos nossos. Tão descabida quanto a reação anterior. Mas era perfeitamente explicável. Elvis começou a se analisar e a culpar a si mesmo pelo fracasso do seu casamento. O verdadeiro culpado era ele mesmo e não Mike Stone". 

O modo como Sumner reconstituiu esse episódio difere da versão dos guarda costas Red e Sonny em seu livro, "Elvis: o que aconteceu?". Segundo esse livro, só eles dois e Linda Thompson, a namorada de Elvis, estavam presentes quando o cantor pensou em matar Mike Stone. Mas ainda Sumner declara que não se tratava de simples rumores, boatos ou mexericos. "Ao contrário, fora a própria Priscilla quem, de forma leal e corajosamente, dissera ao marido que não gostava mais dele e se apaixonara por Mike. O casamento deles estava acabado. Mas é preciso que se diga, foi o próprio Elvis quem lançou Priscilla nos braços do amante, exigindo que ela tomasse lições de caratê com ele. Eu nunca deixaria minha esposa numa cidade, tomando lições de caratê com outro homem, e ir cantar num cassino de Las Vegas, durante um mês inteiro. Alguma coisa poderia acontecer. E, na verdade, aconteceu!" Por vezes, tinha ele de ouvir durante seis horas a fio as confidências do cantor, ainda confuso com o seu drama intimo. E, ao fim de tudo, Elvis perguntava: "Mas o que aconteceu com a minha vida conjugal? Que aconteceu comigo e Princilla? Não posso falar com meu pai sobre essas coisas, prefiro falar com você". E humildemente, declarara: "Não posso me conformar com o que aconteceu. Fiz tudo o que poderia fazer, mas Priscilla simplesmente não quer se reconciliar comigo!" De uma coisa J.D. Sumner teve certeza: O fim do casamento com Priscilla marcou o começo da derrocada final de Elvis Presley.

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio. 

sábado, 25 de dezembro de 2010

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 119

Elvis e a busca espiritual
Data: fevereiro de 1967 / Local: Hollywood / Texto: Pablo Aluísio / Photo: "Clambake", United Artists. 

Elvis e a Era de Aquárius 
Nos anos 60 durante as filmagens de mais um novo filme do Rei do Rock, o cabeleleiro do estúdio não pôde comparecer para cuidar do cabelo do Elvis. Foi então que um substituto foi enviado. Seu nome era Larry Geller, hippie, nova iorquino e judeu, uma combinação bem estranha sem dúvida, mas que era o típico espiritualista em moda naquela época. Uma pessoa versada em quase todas as religiões conhecidas, desde budismo, hinduismo, xintoismo e outras várias, que só ingeria comida natural e praticava yoga e outros tipos de vertentes das religiões orientais. Ao cuidar do cabelo de Elvis, Larry percebeu que enquanto ele estava sentado na cadeira esperando o serviço ficar pronto, ficava lendo o livro "Autobiografia de um Yogue". Logo Larry puxou papo com Elvis e lhe disse que gostava muito do assunto, de religiões esotéricas, da nova era de aquário, da busca espiritual, telepatia, de ocultismo, etc. 

No começo Elvis pensou que ele seria apenas mais um bajulador como tantos outros que ele encontrava pelos estúdios, mas quando Larry começou a expor seus conhecimentos, Elvis ficou completamente impressionado! Começou a surgir daí uma amizade muito especial para Elvis, pois finalmente ele havia encontrado alguém com quem discutir esses assuntos de que tanto admirava e estudava. Larry mostrou a Elvis que havia muitos outros grandes mestres além de Jesus Cristo e começou a trazer a Elvis livros sobre Buda, Confuncio, Maomé, etc. E Elvis absorveu toda a literatura disponível, sempre seguindo os conselhos de Larry nesse campo. Elvis perguntou a Larry porque tinha sido tão abençoado por Deus em sua vida, e porque mesmo tendo tudo não conseguia atingir a felicidade! Ele queria entender seu propósito nessa vida, qual era o plano de Deus para ele, qual seria a sua missão! E desabafou que se sentia frustrado pois até sua tão gloriosa carreira de outrora agora perdia o brilho e tudo estava resumido em se fazer 3 filmes por ano com trilhas sonoras estúpidas. 

Ele disse a Larry que mesmo rodeado de muitas pessoas, se sentia na verdade extremamente solitário em sua vida. Larry acabou virando uma espécie de analista na vida de Elvis, um ombro amigo em que ele podia desabafar sempre que quisesse. E Elvis, para a ciumeira geral de seu grupo, começou a chamar Larry de "meu Guru" e "meu Mestre". A primeira conseqüência disso foi o gradual afastamento de Elvis das amizades anteriores, como os caras da Máfia de Memphis. Elvis sempre estava ao lado de Larry discutindo os grandes temas universais e como os demais membros da máfia não entendiam do assunto e nem tinham cultura para tanto, acabaram ficando de lado na vida de Elvis. Com Priscilla também não foi diferente. Elvis incentivou ela a também estudar todos esses assuntos, mas isso não a interessava. E assim Priscilla também começou a sentir ciúmes de Elvis, pois mesmo quando ele estava em casa, ficava distante e ausente, lendo e devorando o material recomendado por Larry. Nesse ponto a religião se tornara o ponto focal de sua vida - para Elvis nada mais tinha importância, nem seus amigos, nem seus filmes e discos e muito menos sua namorada Priscilla. 

O Coronel Tom Parker começou a ficar preocupado de verdade. Chegou a perguntar a Joe Esposito: "Joe, o que está acontecendo com o menino? Parece distante e desinteressado!". Joe Esposito prometeu ao Coronel que iria ficar de longe, observando essa amizade de Elvis e Larry. Então na manhã em que Elvis iria começar as filmagens de seu novo filme, chamado Clambake (O Barco do Amor, no Brasil), ele acordou meio sonolento e não viu o fio da TV no chão. Ao caminhar para o banheiro Elvis tropeçou no fio e caiu de forma violenta, batendo a cabeça fortemente. Ao recobrar a consciência Elvis percebeu que se machucara pra valer na cabeça. "Mas que merda! Quem colocou esse fio aqui!?". Priscilla, assustada, chamou Joe Esposito imediatamente ao quarto. Em poucos minutos o recinto estava cheio de gente: médicos, produtores, Larry, os caras da máfia de Memphis e o Coronel. 

O doutor declarou que Elvis tinha uma forte concussão na cabeça e que deveria ficar em repouso nas semanas seguintes, pois seria necessário a realização de mais exames, para se certificar de que nada mais grave tivesse lhe ocorrido. O começo das filmagens estava adiado por tempo indeterminado. O Coronel ficou furioso com o acontecimento. Para ele tudo era culpa dos livros espiritualistas. Elvis estava com a cabeça nas nuvens, não se importava com mais nada e nem com ninguém. Tinha se tornado uma pessoa distante e desligada do mundo. Foi então que ele resolveu reunir Elvis, Larry e todos os caras da máfia de Memphis. Para o Coronel o momento era de colocar as coisas em ordem novamente. 

Tom Parker não deixou por menos: "Elvis, Larry está mexendo com a sua cabeça, eu tenho certeza que ele está tentando fazer uma lavagem cerebral em você! Eu posso garantir isso! Você deve se afastar dele e dessa literatura barata. Não deve mais perder tempo com essas coisas. Você tem uma carreira para cuidar! Deve se concentrar em atuar e cantar bem e nada mais. Você não é pago para salvar o mundo, mas sim para entreter as pessoas! Deve honrar seus compromissos e cumprir seus contratos, nada mais. Você é um artista e não um guru! Você deveria queimar todos esses livros de uma vez! E vocês - disse apontando o dedo para os caras da máfia de Memphis - devem deixar Elvis em paz, ele é um artista e não um ombro amigo para trazer problemas. Cuidar de uma pessoa já é difícil, imagine onze! Isso faz qualquer homem vergar, meu Deus! Isso acaba agora, me entenderam?! Vocês devem deixar Elvis em paz, qualquer problema de agora em diante deve ser levado ao conhecimento de Joe Esposito!" - Esse último recado foi dirigido face a face a todos os membros da máfia de Memphis e a Larry Geller em especial. 

Foi uma bronca daquelas, com o Coronel gritando com todos a plenos pulmões! Elvis ouviu tudo calado, com a cabeça abaixada e não contestou as incisivas palavras do Coronel e nem saiu em defesa de Larry. Em um ponto Priscilla e toda a turma da máfia de Memphis concordavam com a visão do Coronel Tom Parker: todos queriam que Elvis mandasse Larry embora de Graceland e tocasse fogo em seus livros espiritualistas. A pressão foi tamanha que numa noite Elvis, ao lado de Priscilla, resolveu fazer uma grande fogueira nos fundos de Graceland para queimar toda a sua coleção de livros. Elvis apenas ficou lá, abalado e não muito certo de sua decisão, olhando todos os seus queridos livros virarem cinzas. Chegou a murmurar: "Não se deve queimar livros!". Ele sentiu muito, mas achou que aquele era o momento certo para fazer aquilo. Pelo menos por enquanto tudo estava resolvido, enfim. Porém, conforme o tempo foi passando, Elvis foi, aos poucos, voltando aos temas espirituais. Esse assunto sempre lhe fascinara e apesar de tudo ainda lhe despertava muita atenção. De fato isso não seria o fim da amizade entre Larry e Elvis, pois esse ainda iria voltar na vida do Rei nos anos 70. Tanto que nos anos seguintes Elvis voltaria a comprar quase todos os livros que ele havia jogado na fogueira naquela noite. Definitivamente Elvis tinha sido fisgado de uma vez por todas pela chamada "Era de Aquárius".

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio. 

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 118

O Guru de Elvis
Data: fevereiro de 1967 / Local: Los Angeles / Texto: Lu Gomes / Photo: "Clambake", United Artists. 

Fronteiras do desconhecido
 Larry Geller era um judeu nova-iorquino, um dos primeiros espécimes de uma raça que logo seria comum na Costa Oeste e nos resto do mundo - o hippie espiritualista dedicado à alimentação natural. Às vezes Elvis brincava se referindo a ele como "o meu guru". Mas Larry Geller absolutamente não fez a cabeça de Elvis Presley, embora cortasse seu cabelo toda semana. Geller apenas acendeu o pavio. Quase todos os dias, Elvis e Larry engajavam-se em prolongadas discussões sobre os livros de ocultismo que Larry lhe indicava e Elvis estudava com afinco. E o ocultismo ocupou seu lugar na vida do Rei. Não demorou nada para que ele se colocasse na posição de "grande mestre" e líder espiritual, e sua idéia de origem divina começou a se firmar como um dos princípios de sua vida. Elvis passou a pregar a todos que lhe rodeavam, jogando sobre eles tudo o que havia lido nos livros. Elvis estudava teologia, filosofia oriental, numerologia, Madame Blavatsky, objetos voadores não identificados, espiritismo, reencarnação, vida após a morte, telepatia, etc. 

Chegou inclusive a fazer muitas tentativas para se comunicar telepaticamente, mas invariavelmente acabava usando o telefone. Elvis estava particularmente curioso sobre os mistérios da morte e assegurou aos caras que, se morresse, iria encontrar um jeito de se comunicar do além. Como se não bastasse, Elvis passou a freqüentar uma academia espiritualista em Pasadena (Califórnia), fundada em 1952 por Paramahansa Yogananda, o autor de "Autobigrafia de um Yogue". Esse "Shangrilá" ficava no topo de uma montanha, onde havia um hotel, e pelos gramados mulheres caminhavam vestidas com sáris coloridos. Existia também um jardim para meditação, que Elvis imediatamente duplicou em Graceland. No sopé da montanha havia uma cidadezinha totalmente cercada, onde ficavam os alojamentos dos irmãos e irmãs que viviam em celibato, em perpétua meditação. 

Quando soube que essa área lhe era proibida, Elvis não resistiu ao impulso de se declarar um celibatário e conhecer o misterioso lugar. Nessa montanha ele conheceu uma moça que se dizia chamar Daya Mata e que era uma das discípulas de Paramahansa. No primeiro encontro que teve com ela Elvis pediu que lhe ensinasse os segredos da Kriya Yoga, o último degrau da escala de auto realização. Daya Mata lhe aconselhou humildade, paciência e perseverança. Em troca Elvis ofereceu dinheiro, que ela aceitou agradecida em nome da fundação espiritualista. Mas nem toda a espiritualidade foi capaz de fazer com que Elvis controlasse seu terrível temperamento. Até mesmo quando acabava de sair de uma sessão com Daya Mata, Elvis era capaz de atos de irracional violência. Uma vez ele estava voltando para casa e passou por um posto de gasolina na encosta da montanha, onde dois empregados estavam boxeando de brincadeira. Elvis ordenou que sua limusine entrasse no posto e, abrindo sua janela, fez um discurso para os brigões, dizendo a eles que deviam abraçar o amor e não a hostilidade. 

Assim que o carro arrancou, um dos sujeitos lhe fez o clássico sinal de "vá se f*", isto é, o dedo médio erguido com a mão fechada. Instantaneamente o carro brecou, Elvis desceu, aproximou-se do primeiro empregado e lhe aplicou um golpe de Karatê que o jogou longe. Em seguida sacou seu revólver 38 do coldre sob o braço e estava pronto para atirar no segundo sujeito, quando Hamburguer James chegou correndo e gritando: "Me dá essa arma!". Automaticamente, Elvis virou-se e entregou o revólver ao seu valete real. Num segundo, todos estavam de volta ao carro, que saiu em disparada. 

Single nas lojas: 
Indescribable Blue (Darren Glenn) - Essa música foi lançada em janeiro de 1967, como lado A de um single considerado de transição dentro da carreira de Elvis. Só o fato do single não ser de nenhuma trilha sonora dos filmes de Elvis já era um alívio para os fãs. A qualidade também era muito superior, mostrando uma clara evolução técnica e qualitativa dentro dos estúdios. Com arranjo primoroso, vocais e banda em ótimo momento, "Indescribable Blue" representava para os fãs naquele momento um breve, pequeno, mas importante sinal de mudanças na carreira de Elvis. Infelizmente as vendas foram baixas e o single sequer entrou no top 30, mas o mais importante era a clara intenção demonstrada por Elvis em gravar material com melhor qualidade musical. 

Fools Fall in Love - (Leiber / Stoller) - Para o lado B de "Indescribable Blue" foi escolhido essa canção de Elvis, que fica bem na média do que ele andava produzindo na época. Só o fato de ser de Leiber e Stoller já desperta atenção. O ritmo é agradável, o arranjo de metais é bem escrito e Elvis mostra animação nos vocais. Rotineira, mas empolgante, o que a salva de maiores críticas. Breve reencontro entre Elvis e a dupla Leiber e Stoller que merece ser redescoberto.

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 117

O Coronel Tom Parker
Data: janeiro de 1957 / Local: Los Angeles / Texto: Lu Gomes / Photo: EPE. 

O Coronel Tom Parker 
O último dos grandes empresários do show business americano, herdeiro da velha escola de P.T.Barnum (aquele que disse "Nasce um otário a cada minuto") O Coronel Tom Parker faz parte do folclore. As histórias que se contam sobre ele já fez muita gente dar risada: de como vendia cachorro quente só com as pontas das salsichas aparecendo, o interior do pão sem carne nenhuma, como pintava pardais de amarelo e os vendia como canários, ou como fazia seus perus dançarem colocando-os sobre uma chapa de ferro quente aquecida por uma resistência elétrica. E muitos outros disparates. Mas afinal quem é esse homem misterioso que adora elefantes? Outra historinha: durante as filmagens de "Em cada sonho um amor", em Cristal River, na Flórida, o Coronel insistiu em visitar um velho paquiderme que tinha conhecido em seus tempos de circo. Tom Parker só ficou sossegado quando chegou ao Zoo e alimentou o animal, que demonstrou reconhecê-lo, abanando a cabeça e arrastando o pé acorrentado. 

Na década de 30 o Coronel trabalhava com o Royal American Shows, um circo que viajava pelos Estado Unidos e Canadá num trem particular de 70 vagões. Sobre o que fazia nesse circo existem divergências: alguns afirmam que o Coronel vendia algodão doce e maçãs carameladas; outro o colocam como intendente da companhia, um trabalho de muita responsabilidade para alguém com vinte e poucos anos. Tudo o que sabemos é que sua escola foi o circo, onde aprendeu a manipular o público. Tom Parker também era um homem com extraordinários poderes psíquicos. Ele era, por exemplo, um ótimo hipnotizador. 

Durante os anos em que as organizações Presley esteve confinada a uma tediosa rotina de fazer um filme atrás do outro, o Coronel uniu seu estilo bonachão aos seus poderes de controlar a mente produzindo cenas de irresistível humor, como conta Albert Goldman em seu livro "Elvis": "Durante as filmagens de Kid Galahad, certa vez o coronel hipnotizou Sonny West, o guarda costas de Elvis, instruindo-o para que dissesse ao diretor Phil Karlson que o filme cheirava mal, a atuação era horrível, a direção era nojenta e toda a produção era uma terrível perda de tempo. Num intervalo da filmagem, o grande, corpulento Sonny caminhou até o diretor e lançou-lhe a impressionante e insultosa conversa. O diretor ficou boquiaberto com o choque, enquanto o Coronel bebia a cena, rindo consigo mesmo e esforçando-se para que seu rosto não o traísse. 

Finalmente Karlson gritou: "Quem é esse sujeito? Tirem-no daqui!" Quando lhe explicaram a piada, o diretor ficou espantado por Sonny West ter atuado tão convincentemente e sem dar um sorriso sequer. "Ele estava hipnotizado" explicou o Coronel. "Ele não poderia ter feito isso de outro jeito". Virando-se para Sonny o diretor do filme perguntou: "Isso é verdade?" "Sim Senhor, é verdade sim", admitiu Sonny. Os dotes psíquicos do Coronel não eram limitados apenas à hipnose. Há anos ele sofria de uma ruptura de disco na coluna, motivo pelo qual ele sempre usava uma bengala. Mas nunca se submeteu a uma cirurgia, preferindo controlar a dor, às vezes insuportável, através do poder de sua mente.

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio. 

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 116

Quem foi Tom Parker?
Data: março de 1960 / Local: Memphis, Tennessee / Texto: Lu Gomes / Photo: Time Life. 

Andreas Cornelius Van Kuijik 
O que mais sabemos sobre o Coronel? Ele nunca assinou um cheque, nunca teve um cartão de crédito e pagava tudo em dinheiro vivo, além de fazer questão de não dever um centavo ao imposto de renda. Embora atuasse em um negócio internacional ele nunca teve um passaporte. Por quê? Segundo o próprio não podia provar seu nascimento pois era um filho enjeitado. Nunca devendo ao imposto de renda, evitando submeter-se a investigações para a obtenção de cartões de crédito e não se sujeitando ao escrutínio do pessoal da imigração para tirar um passaporte, um homem pode passar toda sua vida nos Estados Unidos sem precisar dizer exatamente quem ele é. O Coronel foi casado durante mais de 50 anos com a mesma mulher, Marie, e não teve filhos. Antes de Elvis, por nove anos, de 1944 a 1953, o Coronel dedicou-se a empresariar o cantor Eddy Arnold. A patente de "Coronel", que tantos benefícios lhe trouxe, é um título honorário, que lhe foi concedido por Jimmy Davis, governador da Louisiana, em 1948. 

Virtualmente único em sua profissão, por sempre se dedicar exclusivamente a um único cliente, o Coronel tinha somente duas paixões, fora o trabalho. Uma era comer, o que fez com que seu peso subisse até os 150 Kg, a outra era o jogo. Tom Parker era um jogador prodigioso. Em Las Vegas, onde mantinha um apartamento, era considerado um dos maiores jogadores da história. Na roleta, sempre fazia a aposta máxima, 10 mil dólares, chegando a perder, às vezes, mais de um milhão de dólares por mês. O Coronel tinha 47 anos quando ficou famoso, graças à sua associação com Elvis Presley, mas nunca conversou com jornalistas. Não que recusasse a atender a imprensa. Pelo contrário - qualquer jornalista que lhe pedisse uma entrevista, era atendido gentilmente pelo Coronel: "Ficaria encantado em lhe conceder uma entrevista. Você deseja uma curta ou uma longa? O preço da curta é de 25 mil dólares, a longa custa 100 mil". Após a morte de Elvis, a verdadeira identidade do Coronel Parker foi sendo descoberta pelos autores que escreveram sobre o cantor. 

Alguns acontecimentos sempre chamaram a atenção, como por exemplo, o fato de Elvis nunca ter cantado fora dos Estados Unidos (exceto uma única vez no vizinho Canadá). Outro fato também intrigou os autores: durante seu serviço militar na Alemanha, Elvis nunca foi visitado por Tom Parker. Sem dúvida havia algo de errado com o Coronel, a questão que surgiu foi saber por quê o Coronel evitava sempre viajar para fora dos Estados Unidos? Após uma investigação descobriu-se que o Coronel não havia nascido em Hungtington, West Virginia, como sempre afirmou e sim em Breda, na Holanda, em 26 de junho de 1909. Nome verdadeiro: Andreas Cornelius Van Kuijik. Não se sabe como o Coronel veio parar nos Estados Unidos, mas com certeza foi de maneira ilegal. Seus primeiros registros em solo americano datam de 1929, quando ele tinha 18 anos. Em 1929 o Coronel se alistou no exército americano, onde serviu de 1930 a 1932. E depois disso ele apagou todas as pistas sobre seu passado. Albert Goldman matou a charada em 1980. Junto a Lamar Fike eles resolveram ir direto ao coração do problema. 

É Goldman quem recorda: "Quando descobrimos essa história, Lamar Fike, que viajou muito com o Coronel nos velhos tempos afirmou que não via o Coronel como uma figura inalcançavel e propôs: 'Porque não telefonamos ao Coronel e esclarecemos o mistério?' Quando Lamar conseguiu falar com o Coronel, foi muito bem tratado e começou: 'Coronel, vocês sempre me disse que se houvesse alguma coisa que eu quisesse saber sobre você, deveria perguntar-lhe pessoalmente'. De Hollywood a voz do velho homem fez-se ouvir em Nova Iorque: 'Está certo Lamar, o que você quer saber?' 'Bem, Coronel', disse Lamar, 'tem um livro aqui que diz que seu nome verdadeiro é Andreas Van Kuijik e que você nasceu em Breda na Holanda'. Houve uma pequena pausa na linha e uma perceptível mudança de tom na voz de Parker: 'Oh, sim', respondeu o Coronel, 'Isso já saiu em mais de quinze lugares. Essa é velha... não é nenhuma novidade!' Lamar ficou tão impressionado com a inesperada resposta que protestou: 'Mas Coronel, eu o conheço há mais de 20 anos - porque nunca me contou que era holandês?'. O Coronel, sempre com uma resposta na ponta da língua, retrucou: 'Porque você nunca me perguntou'. Muitos anos depois, quando perguntado como resumiria sua sociedade com Elvis Presley o Coronel afirmou: 'Quando conheci esse rapaz ele só tinha o potencial de um milhão de dólares. Agora ele já ganhou muito mais do que o seu Milhão!'. Coisas de Tom Parker, ou melhor, Andreas Van Kuijik...

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio. 

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 115

Girl Happy (1965)
Data: junho de 1964 / Local: MGM Studios, Culver City / Texto: Victor Alves, exceto * de autoria de Pablo Aluísio / Photo: RCA Victor. 

Louco por Garotas (1965) - 1964. Em fevereiro deste ano os Beatles aportavam nos USA, mudando para sempre a música e instaurando a maior revolução musical desde 1956, revolução esta que daria origem, junto com uma série de outros fatores, à psicodelia e à revolução sexual e social que os USA iriam vivenciar anos mais tarde: a famosa era de aquário. 64 também foi o ano em que o número de soldados americanos no Vietnã aumentou consideravelmente. Protestos e lutas raciais encabeçadas por Martin Luther King começavam a levar a nação a verdadeiros espasmos sociais. A década de 60 efetivamente chegava para fazer barulho e sacudir o American Way of Life. 

E Elvis? Bom, 64 para Elvis foi, de um modo geral, só mais um ano de trabalho. E um não muito bom. Ele continuou fazendo três filmes por ano de qualidade duvidosa e a lançar trilhas, em sua maioria medíocres. Se bem que discos como Rostabout, se comparados com trilhas de 65 e 66 são verdadeiros clássicos. Ou seja, a coisa iria piorar. E muito. Também foi o ano em que Elvis entrou em um longo cochilo musical, do qual daria sinais de querer acordar em 66 e 67, mas que só viria a efetivamente fazê-lo nos estúdios da NBC em junho de 68. Foi o 1º ano em que ele não emplacou nenhum top 10. Foi o ano em que ele conseguiu seu último disco em 1º lugar na década. Foi o ano em que o maior número de singles foi lançado, nenhum com grande repercussão.. Foi o ano do início de suas buscas espirituais, que o fizeram se afastar de sua música e de suas origens. 

Mas também foi o ano de um dos mais divertidos filmes de Elvis: Girl Happy. O roteiro é decente, a trilha razoável. Elvis conta com uma de suas melhores e favoritas Lead Ladies: Shelley Fabares (que viria a atuar com ele em mais dois filmes). Possui diálogos e situações engraçadas e é um retrato da América do início da década de 60, ainda inocente. Além disso, Elvis está bonitão e com um figurino impecável. Possui algumas falhas tipo Elvis tocando violão em Do The Clam e dele saindo um som de guitarra elétrica ou o fato de Elvis tentar, em uma cena, pegar bronze de camisa de manga longa e sapato e calça social! Mas a gente perdoa. 

O roteiro é simples. Elvis é Rusty Wells, líder de uma banda que se apresenta em um hotel chique que pertence a um poderoso mafioso e vê suas férias em Fort Lauderdale frustradas quando este lhe pede para ficar mais algumas semanas. Para resolver o problema Elvis junta o útil ao agradável e descobre que o mafioso está preocupado com sua filha Val, interpretada por Shelley Fabares, que vai ficar em um hotel com suas amigas em..... Fort Lauderdale. 

Então Rusty se oferece para tomar conta de sua filha, sem Val saber. É claro que tomar conta de um avião como Fabares vai dar mais trabalho do que se imaginava. Biquínis, mulheres bonitas, uma trilha dançante, um trio de apoio engraçadíssimo e paisagens belíssimas fazem de Girl Happy um prazer sem culpas. Tudo o que você tem que fazer é desligar o cérebro e sentir a " Spring Fever". 

A trilha de Girl Happy é razoável, não possuindo nenhuma porcaria como Barefoot Ballad, mas também nenhum clássico como Return to Sender. Tem a vantagem de conter pouquíssimas baladas e ser bem para cima. Apesar disso, Elvis soa como se estivesse entediado e as sessões de gravação, feitas em junho de 64, foram no mínimo frustrantes. Ele só voltaria a gravar alguma coisa em fevereiro de 65. Eis as músicas: 

Girl Happy (Pomus / Meade) - O filme abre com essa música que passa longe de ser classificada entre as melhores de Elvis, mas que possui um excelente ritmo. E por falar em ritmo, o curioso é que, não estranhe se a voz de Elvis parecer muito aguda, pois a velocidade da música foi aumentada para 8% mais rápida de seu original, fato único em sua carreira. A letra é bem interessante, podendo ser comparada com "Eu gosto é de mulher" do nosso Ultraje a Rigor. Uma das poucas músicas de Doc Pomus que Elvis gravou sem a parceria de Mort Shuman. É inevitável se deixar contagiar por sua intensa alegria. 

Spring Fever (Giant / Baum / Kaye) - Outro caso em que ritmo dá de dez na letra. Elvis a canta em uma cena dentro de um carro, quando está indo em direção a Fort Lauderdale. A canção é executada em dueto com seus membros de banda no filme. Animadinha, mas com uma letra boba. 

Fort Lauderdale Chamber of Commerce (Tepper / Bennett) -Definitivamente a pior música do filme, com um ritmo que enche o saco e uma letra no mínimo estúpida e sem sentido, essa música entra fácil para a lista das piores de Elvis. No filme Elvis a canta para convencer Val a ir ver o show de sua banda. Com uma música dessa, entendemos por que ela recusou. 

Startin' Tonight * (Rosenblat / Milrose) - Outra música leve e divertida da trilha. Este filme de Elvis seguiu uma linha que tinha como maior ícone na época o dublê de ator Frankie Avalon e sua famosa turma da praia. Colocar Elvis para imitar Frankie Avalon realmente é um absurdo sem tamanho. Isso demonstra como os produtores de Hollywood estavam equivocados em relação a Elvis, que não era Frankie, que sempre foi considerado um cantor sem consistência ou profundidade musical, além de ator vazio dos esquecíveis filmes de verão dos anos 60. Elvis era muito mais do que isso e talvez por essa razão sua carreira não tenha dado bons frutos em Hollywood, pois sem dúvida sempre foi subestimado, participando de projetos aquém de seu verdadeiro potencial. Em resumo: desperdício de talento mesmo! 

Wolf Call (Giant / Baum / Kaye) - Novamente bom ritmo só que aqui com PÉSSIMA letra, aliada a um vocal horrível de um dos membros dos Jordanaires. No filme misture tudo isso a um membro da platéia imitando um lobo e você terá um show de mau gosto. Só se salva mesmo a presença no palco da belíssima Mary Ann Mobley, que também "atuou" com Elvis em Harum Scarum.

Cross My Heart And Hope Die (Wayne / Weisman) - Elvis canta essa música para uma garota.... em uma floresta! A música em si não é das piores e o ritmo conta com um ótimo baixo, cortesia de Bob Moore, que dá um tom meio jazz à música. A letra é toda Elvis se desculpando, de uma forma bem legal, temos que dizer, por ter pisado na bola com uma garota. Interessante é o verso que diz: " Eu não tenho que prestar muita atenção para perceber o que eu tenho no meu próprio quintal." Bem sugestivo, mas também criativo, uma ótima metáfora. Essa é uma daquelas músicas que você deve escutar para relaxar. 

The Meanest Girl In Town (J. Byers) - Uma das melhores da trilha, essa música não foi feita originalmente para o filme e é de autoria do produtor da Columbia Records, Bob Johnston, que escreveu ótimos rocks para as trilhas de Elvis como C´mon Everybody, Hard Knocks, Let Yourself Go, entre outras, sob o nome de sua esposa Joy Byers. Esse rock agitado conta com um excelente solo de sax de Boots Randolph e um bom trabalho de guitarra. Adoro essa música por seu ritmo acelerado. Elvis cantando essa música em 68 com aquele vozeirão rouco iria ficar perfeito. A letra fala daquele tipo de garota que é a dor de cabeça de todo homem: bonita, esperta, que sabe jogar, mas que no fim só quer te usar. Quem não teve uma dessa? Pena que em seus shows na década seguinte Elvis não desse chance a verdadeiras pérolas como essa em seu repertório de shows. 

Do Not Disturb (Giant / Baum / Kaye) - É impressionante como Elvis levou 36 takes para gravar essa música... e não conseguiu um master adequado, abandonando frustrado a sessão de gravação. Aqui nota-se que mesmo recebendo material de qualidade inferior Elvis continuava levando seu trabalho a sério. Na sessão tem uma hora que o engenheiro de som diz "OK", como se o resultado fosse satisfatório e Elvis diz: "Eu não gosto de OK". Antes ele tomasse as rédeas assim na escolha do material. 

Puppet On A String (Tepper / Bennet) - Uma das músicas lançadas em single, essa belíssima e tenra balada ocupou o 14º lugar na Billboard em 1965, fazendo sucesso na época, mas logo caindo no esquecimento. Uma pena, pois é uma das melhores músicas de Elvis no período e a cena em que Elvis a canta para Val no filme é sutil, mas sincera. Com uma melodia bonita e uma letra simples, "Puppet on a String" tem versos como: "Tudo que você tem que fazer é tocar minha mão e o seu desejo é uma ordem. Aí eu me torno uma marionete de cordas e você pode fazer o quiser comigo. Se você realmente me ama, querida seja boa comigo. Eu te ofereço o amor mais verdadeiro que você encontrará." Muito linda. 

Do The Clam (Wayne / Weisman / Fuller) - Lançada como single, alcançou 21º lugar nos USA e 19º lugar na Inglaterra. Para acompanhar essa música o coreógrafo David Winter, que já havia trabalhado em "Viva Las Vegas", criou uma dança chamada "The Clam". Isso se deve ao fato de na época danças como "The Twist", "The Bird", "The Mashed Potato", serem criadas a rodo e fazerem muito sucesso. A dança nunca pegou. A letra dessa música às vezes é taxada como péssima, o que não é verdade quando se percebe que o Clam (marisco) a que ela se refere é a dança e não mariscos propriamente dito. Bem animadinha e com um solo de sax bem legal, por incrível que pareça é um dos pontos altos da trilha. 

I've Got To Find My Baby (J. Byers) - Essa música foi brutalmente editada, por motivos incertos, o que a fez ter a duração de pouco mais de 1 minuto e meio. O master completo não foi encontrado e por incompetência do pessoal da RCA é possível que nunca escutemos a versão completa dessa música, também escrita por "Joy Byers", sendo um excelente momento da trilha. Esse rock, ao estilo de The Meanest Girl in Town, conta também com um solo de Boots Randolph, que aliás é o músico destaque nessa trilha.

Lançado em Abril de 1965 o filme "Girl Happy" (Louco por Garotas, no Brasil) ficou em 25º lugar entre os mais assistidos do ano e a trilha foi mais um Top Ten para Elvis alcançando 8º lugar tanto nos USA quanto na Inglaterra, além de ter tido a curiosidade de ser o único filme de Elvis a ter duas músicas lançadas em dois singles diferentes e ser livre de músicas ruins (com exceção de "Fort Lauderdale Chamber of Commerce"). Em suma: Por essa época os filmes e trilhas, apesar de em termos de qualidade estarem em ritmo decrescente, ainda faziam sucesso, mas sinais de desgaste já começavam de leve a aparecer na carreira de Elvis Presley.

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 114

Elvis Country
Data: 1971 / Fonte: site EPHP (Pablo Aluísio) / Texto: Victor Alves e Pablo Aluísio / Photo: FTCD. 

Elvis Country - "Ele não vai durar". Essa foi uma frase dita por um Zé Ninguém invejoso em 1956 e dirigida na época para um tal de Elvis Presley, mais uma moda passageira. Bom, se esse cara estava vivo em 1970, certamente mordeu a língua, pois 14 anos depois Elvis Presley continuava fazendo sucesso e sendo um dos melhores e mais badalados artistas do mundo. Seu especial na NBC em 1968 foi uma marco e o maior ato de regeneração de uma carreira já visto. Procedido dele veio as sessões de gravação de Memphis em 1969, que entre outras pérolas gerou 4 hits seguidos, incluindo "Suspicious Minds", que alcançou o primeiro lugar, e é considerada por muitos como a melhor música da carreira de Elvis. Como se já não bastasse Elvis Presley bateu ainda todos os recordes em Las Vegas, a cidade mais difícil de ser conquistada por um artista. 

Esse fato ocorreu em agosto de 1969, com uma série de 57 apresentações, que mostraram um Elvis tão bom quanto em 1956, e quem sabe talvez até melhor, pois era um astro com mais maturidade. Mas isso não era tudo, pois Elvis iria ainda ter novos êxitos de bilheteria nos shows da temporada seguinte nessa mesma cidade em janeiro de 1970. E como se isso tudo não bastasse ele ainda iria realizar uma série de seis grandes concertos no Houston Astrodome. Pela segunda vez em sua carreira "Elvis Was Back!" (Elvis estava de volta!). Foi nesse espírito de renovação que Elvis entrou em estúdio em junho de 1970 para cumprir seus compromissos com a gravadora RCA Victor. De sua banda de shows só o guitarrista James Burton estava presente. Isso não tira a qualidade desse grupo que tocou com Elvis pois os outros membros da banda eram músicos experientes de estúdio, que não ficavam em nada a dever à TCB Band. 

Jerry Carrigan, Nobert Putman, David Brigs, Charlie Mc Coy eram alguns dos feras que participaram das gravações desse disco, que meses depois seria batizado de "Elvis Country". Eles eram músicos jovens de Nashville, que também iriam marcar presença nas sessões do ano seguinte, na mesma cidade. Durante esses dias os músicos foram extremamente produtivos pois em poucos dias Elvis e banda conseguiram gravar um número fantástico de novas canções; para se ter uma idéia no total foram registradas mais de 34 músicas!! Foi tanta música que, mesmo dois anos depois das gravações, no LP "Elvis Now", ainda se podia encontrar algumas delas vendo à luz do dia pela primeira vez. No total essas canções ficaram espalhadas em três álbuns, a saber: "That´s The Way It Is", "Love Letters From Elvis" e "Elvis Country", sendo esse não só o melhor álbum de estúdio de Elvis da década de 70, como também o que se deu melhor nas paradas, alcançando 12º lugar nos Estados Unidos e 6º na Inglaterra. 

A capa, contendo a primeira foto de Elvis, ainda criança, e a idéia de juntar todas as faixas com segmentos de "I Was Born About Ten Thousand Years Ago" fizeram esse álbum soar bem diferente dos demais de sua carreira. Mas tudo isso aconteceu de forma natural pois Elvis não entrou em estúdio para gravar um álbum country. As músicas simplesmente foram sendo gravadas, sem nenhum álbum temático em mente ou projeto pré determinado. Quem escuta os "Alternate Takes" dessas sessões pode inclusive notar o clima de improviso. Aqui está um breve comentário sobre as músicas desse disco, que acabou se tornando um dos mais importantes da carreira de Elvis Presley: 

Snowbird (G. Mac Lellan) - O disco começa com uma música que curiosamente não foi gravada nas sessões de junho de 1970, mas sim nas de setembro desse mesmo ano. Essa belíssima música, que ganhou algumas versões ao vivo em 1971, estava nas paradas na voz da cantora canadense Anne Murray, quando Elvis a gravou. De melodia leve e com uma letra super bonita. Vide os versos: "Então pássaro da neve me leve com você para onde for / Para as terras de brisas gentis / Onde as águas pacíficas correm". O destaque dessa música é a guitarra que não é executada por James Burton, que sequer participou das sessões de setembro e sim de outro músico talentoso, Chip Young. 

Tomorrow Never Comes (E. Tubb / J. Bond) - Caso raro em que o arranjo de orquestra fica bem em uma música de Elvis. Ela foi gravada originalmente em 1944 por Ernest Tubb (que na época era promovido pelo Coronel Tom Parker). Elvis estava com ótima voz nessas sessões e isso fica evidente nessa música. Essa maturidade vocal só foi adquirida ao longo dos anos, provavelmente Elvis não teria sucesso se a gravasse nos anos 50, por exemplo. Sua introdução é parecidíssima com a da música "Running Scared" de Roy Orbison. Elvis a cantou em um ensaio em julho de 1970, mas a master ainda é a melhor versão. 

Little Cabin On The Hill (L. Flatt / Bill Monroe) - O autor dessa música também escreveu uma das primeiros canções do rei na época da Sun Records: Blue Moon Of Kentucky. E como a anterior essa também data da década de 40. Talvez a música mais country do álbum inteiro com um ótimo trabalho de gaita por parte de Charlie Mc Coy. Tem um take mais longo disponível no CD "Essential Elvis vol 4". The Fool (N. Ford) - Uma das melhores músicas do disco, essa música de letra "auto crítica irônica", devia estar na cabeça de Elvis já há um bom tempo, visto que ele a praticou bastante na Alemanha em 1959, só que usando piano na introdução ao invés dos riffs de James Burton, que ficaram bem melhores. Não acho ela muito country, está mais para pop blues. Destaque novamente para a gaita de Charlie McCoy. 

Whole Lot-ta Shakin' Goin' On (D. Williams / S. Davis) - Não sei como essa música veio parar nesse álbum, pois de country ela não tem absolutamente nada. É sim, um dos melhores rocks que eu já ouvi na voz de Elvis! Coloca a versão de Jerry Lee Lewis no chinelo, sem dúvida. Isso graças a banda que detona com os vocais furiosos de Elvis berrando nos minutos finais da música - Claro, tudo para compensar a falta de letra. Para quem não entendeu o título de 5 palavras traduz uma só ideia: sexo. Não chega a ser uma daquelas músicas de Elvis como "Baby Let´s Play House" ou "Let Yourself Go" onde a proposta sexual é bem mais explícita, mas a malícia está lá. Uma versão mais longa se encontra no "Essential Elvis vol 4". Essa música fez parte do "Aloha From Hawaii", num medley com "Long Tall Sally". Também foi executada ao vivo em vários outros medleys até 1974. Já havia sido gravada por Elvis em shows em agosto do mesmo ano, em Las Vegas.

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio. 

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 113

Elvis Country
Data: 1971 / Fonte: site EPHP (Pablo Aluísio) / Texto: Victor Alves e Pablo Aluísio / Photo: FTCD. 

Elvis Country
Funny How Time Slips Away (Willie Nelson) - O autor dessa música viria, após a morte de Elvis, a ressuscitar "Always on My Mind". Elvis gravou essa música pela primeira vez ao vivo em 1969 e em uma única tentativa a gravou em estúdio no mês de junho de 1970. Muito bonita e aconselhável para relaxar, ela ganhou destaque em muuuitos shows de Elvis até sua morte, destacadamente os do período 1972 / 1976. Aqui na versão master Elvis dá um tratamento em ritmo de blues, contando com um solo simplesmente espetacular de James Burton. 

I Really Don't Want To Know (H. Barnes / D. Robertson) - Don Robertson escreveu várias músicas para Elvis, sendo que entre as que ele gravou estão: "They Remind Me To Much Of You", "There's Always Me", "Starting Today", além de muitas outras. Essa parceria vem de longa data, pois a primeira música de Robertson gravada por Elvis foi "I´m Couting on You", que fez parte do seu primeiro disco. Só que "I Really Don´t Want to Know" não foi escrita especialmente para Elvis e sim para Eddie Arnold que a gravou em 1954, no mesmo ano em que Elvis começou sua carreira. Essa música ganhou ainda algumas versões incompletas ao vivo em 1977 e foi lançada como lado A de um single em 1971 para promover o disco "Elvis Country", porém só alcançando 21º lugar nas paradas. 

There Goes My Everything (D. Franzier) - Sincera e particularmente não gosto dessa música. O ritmo é arrastado, apesar da boa letra. Mas isso é questão de gosto. A música é muito bem executada e uma das favoritas de Elvis dentre as que ele gravou nessa sessão em particular. Mas acho que não faria a menor falta na discografia dele. Lançada como lado A na Inglaterra alcançou 6º lugar! Ganhou algumas versões ao vivo em 70 e 71, mas como disse não é das melhores e não vai mudar sua vida. Ganhou uma versão gospel no ano seguinte com a mesma melodia, mas letra diferente chamada "He Is My Everything". 

It's Your Baby You Rock It (S. Milete) - S. Milete escreveu três músicas para essa sessão sendo "Life" a melhor delas e "When I´m Over You" a pior. Essa fica num meio termo, apesar dos vocais perfeitos de Elvis e um solo muito show de James Burton. Uma das músicas mais country do disco e a única gravada pela primeira vez, as chamadas "Originals". 

Faded Love (B. Willis / J. Willis) - Elvis virou essa música de ponta cabeça, se comparado com a versão original (coisa que ele fazia com bastante freqüência), transformando um country puro em um pop rock de primeira, com destaque para dois solos meio estilo blues de James Burton. Quem quiser ter uma noção de como era a versão original ouça a uma mini versão country dessa música no CD "Essential Elvis vol 4", onde ele enquanto espera a chegada da letra de "Faded Love" grava "The Fool". 

I Washed My Hands In Muddy Waters (J. Babcock) - Uma das melhores do disco. Novamente um caso de uma música pop rock, que não tem muito a ver com country. Destaque absoluto para a banda, desde James Burton e seus solos até a própria orquestra que ficou ótima nessa música. Basta comparar com a "unddubed version" disponível no "Essential Elvis vol.4". Os caras detonaram nessa música gravada em apenas uma tentativa. Com uma letra diferente falando da história de um cara que se meteu em enrascada e acabou preso. Foi ensaiada nos ensaios de julho, mas nunca teve uma versão ao vivo. 

Make The World Go Away (H. Cochran) - Essa música em sua versão original alcançou primeiro lugar em 1965 e a versão de Elvis difere dela, pois aqui a orquestra está presente de forma bem pesada e Elvis a canta de forma bem mais emocionante. Definitivamente uma das músicas que exigiu mais do vocal de Elvis, como ele mesmo admitiu, principalmente em sua parte final. A mais bonita do disco e uma ótima escolha para encerrá-lo. Ganhou versões em 1970 , 1971 e uma em 1973. 

I Was Born Ten Thousand Years Ago* (Arr. Elvis Presley) - Esta música foi "picotada" entre as faixas do LP. No disco "Elvis Now" ela aparece completa da forma como foi gravada em meados de 1970. A idéia de colocar a canção unindo todas as músicas do disco foi do produtor Felton Jarvis. Isso surgiu porque Elvis sugeriu a ele que colocasse como subtítulo do LP a frase: "I'm 10.000 Years Old" ou "Eu tenho 10 mil anos". Sem dúvida isso retrata a face esotérica do Rei do Rock, que na época estava muito interessado em estudar as religiões orientais, tais como Budismo e Hinduismo, que pregavam a reencarnação da alma até o atingimento do nirvana, fase no qual o espírito não precisaria mais retornar à terra, pois já estava devidamente evoluído. Segundo os cálculos de Elvis, sua primeira reencarnação havia sido há 10.000 anos, o que justificava a frase como subtítulo do disco. Todo esse misticismo acabou chegando ao Brasil e influenciando duas pessoas muito importantes em nossa cultura. 

Elvis Presley foi um dos maiores ídolos do baiano Raul Seixas. Isso não é segredo pra ninguém, mas, o que pouca gente sabia é que a música "Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás" - além de um pleonasmo vicioso - é também uma homenagem ao velho Rei do Rock. O som de Raul foi gravado em 1976, seis anos depois de Elvis gravar "I Was Born About Ten Thousand Years Ago". O título é igualzinho e o conteúdo das letras é bem parecido (compare as duas), abordando temas mitológicos, bíblicos e históricos. A versão de Raul é creditada a Raul Seixas e Paulo Coelho e não faz referência nenhuma à música gravada por Elvis, que é de domínio público. Paulo Coelho foi procurado pela redação do programa Fantástico da TV Globo e, por e-mail, admitiu: "Realmente, a letra foi inspirada na música do Elvis. Era uma maneira de Raul prestar sua homenagem ao seu maior ídolo".

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio. 

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 112

Elvis On Tour
Data: 1972 / Fonte: site EPHP (Pablo Aluísio) / Texto: Pablo Aluísio / Photo: MGM. 

Elvis Triunfal - No verão de 1972 Elvis foi informado pelo coronel Parker que a MGM estava interessada em filmar um documentário que mostrasse suas concorridas turnês pelas cidades dos Estados Unidos. A direção seria entregue a um dos maiores documentaristas em atividade e o aclamado diretor de cinema Martin Scorsese iria coordenar parte dos trabalhos de edição e montagem. Em Las Vegas, nesse mesmo mês, Elvis se encontrou pessoalmente com os produtores Pierre Adidge e Bob Abel. A conversa foi muito franca, tanto do lado de Elvis como dos produtores que lhe disseram abertamente: "Depois do sucesso do filme Woodstock entendemos Ter chegado o momento de filmar um documentário mostrando a origem de tudo isso, desse movimento social: você! 

Não gostamos de That's The Way It Is e seus filmes dos anos 60 foram tão ruins que ficamos até surpresos em como a MGM conseguiu comercializá-los. Apreciamos seu trabalho atual, mas preferimos as músicas que você cantava nos anos 50" Elvis, por sua vez, disse que não se sentiu muito à vontade nos estúdios da MGM durante as gravações de "That's The Way It Is" por causa das enormes câmeras de cinema que foram instaladas durante as filmagens, atrapalhando o movimento e a espontaneidade dele e do seu grupo de apoio. A conversa se prolongou e foi muito produtiva, os realizadores prometeram a Elvis que ele seria filmado por câmeras especiais, do tipo portátil e que seu raio de ação não seria limitado por falta de espaço como no caso de "That's The Way It Is". 

Pierre Adidge disse a Elvis, com seu forte sotaque francês, que esse filme seria produzido com a utilização do que havia de mais moderno em termos de edição de filmagem. Tudo seria de primeira linha. Elvis deveria se mostrar de forma autêntica, agir de maneira habitual e espontânea, e não se importar com a equipe de filmagem que iria acompanhá-lo para todos os lugares. A intenção era filmar Elvis não só no palco, mas também nos camarins, no contato com os fãs, interagindo com os músicos, sem roteiros ou scripts pré determinados, tudo o que se queria captar era a verdadeira essência do mito Elvis Presley. Para tanto a equipe da MGM já começaria a gravar algumas cenas como teste nos seus próximos shows e iria acompanhá-lo nos estúdios da RCA em sua próxima sessão de gravação onde ele iria registrar novas músicas - entre elas uma tal de "Always On My Mind" e outra de um novo compositor, uma canção que Elvis tinha ouvido e gostado muito chamada "Burning Love"! 

A parte da direção musical ficaria inteiramente sob controle de Elvis e de seu produtor Felton Jarvis, sem intervenção do pessoal da MGM. Três dias depois Elvis se reuniu com a TCB Band e os avisou que sua próxima turnê seria filmada para o cinema. Elvis resolveu providenciar uma mudança no repertório com a introdução de novas canções nos shows. Trabalho duro pela frente!. Enquanto a RCA lançava o single "American Trilogy" - com "The First Time Ever I Saw Your Face" no lado B - Elvis começava sua turnê no leste do país, com a MGM gravando tudo o que acontecia nessa primeira rodada de shows. Elvis foi filmado dentro do avião, antes dos shows, conversando com fãs, enfim, todo o delírio que acontecia ao redor de uma turnê do rei do rock foi registrado pelo pessoal do estúdio. Mais de 250 pessoas da equipe de filmagem acompanharam Elvis e banda nesses quinze shows realizados em várias cidades, como Buffalo, Indianapolis, Detroit, Dayton, Hampton Roads, Knoxville, Charlotte, Macon e Jacksonville. 

Segundo alguns membros da equipe que participaram do time da MGM mais de 40 horas de material foram filmados para "Standing Room Only" – o nome original do filme, depois mudado para "Elvis On Tour" (Elvis Triunfal no Brasil) – mas que nunca foram mostrados ao público. Shows inteiros foram filmados e não aproveitados, ficando no chão da sala de edição de Martin Scorsese. Esse precioso material pode um dia ser lançado, mas atualmente jaz nos arquivos dos estúdios MGM em Hollywood. Sem dúvida muita coisa foi gravada, mas a principal apresentação de Elvis nessa turnê ficou de fora!!! Talvez o pior erro cometido pelos produtores de "Elvis On Tour" foi não Ter filmado os shows de Elvis no Madison Square Garden em Nova Iorque. 

Até hoje a MGM não consegue dar uma resposta satisfatória por ter deixado passar essa apresentação – uma das mais importantes da carreira de Elvis – em branco. Como é que cometeram uma bobeada dessas? Durante a coletiva à imprensa em NY os jornalistas perguntaram a Elvis e ao Coronel porque não iriam ser filmados seus shows no MSQ? Os dois saíram pela tangente e não souberam responder a pergunta!!! – até mesmo porque essa era uma decisão da Metro e não de Elvis e nem do Coronel Tom Parker. Ninguém sabe ao certo porque essa infeliz decisão de não filmar em Nova Iorque foi tomada.

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio. 

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 111

Elvis On Tour
Data: 1972 / Fonte: site EPHP (Pablo Aluísio) / Texto: Pablo Aluísio / Photo: MGM. 

Elvis Triunfal - A última coisa a ser gravada para esse documentário foi uma entrevista particular que Elvis deu nos estúdios da MGM para os realizadores da película. A intenção era usar esses trechos falados entre as imagens com cenas dos shows, mas essa idéia foi abandonada depois. Essa entrevista que continua em grande parte inédita até hoje, teve mais de duas horas de duração e Elvis falou sobre tudo: a origem de sua música, seus ídolos de infância, sobre sua vida pessoal etc. Desse rico material só foi aproveitado um pequeno trecho em áudio, de alguns segundos, que foi utilizado durante as cenas de Elvis na TV americana nos anos 50. 

Muitos anos depois de seu lançamento, Martin Scorsese durante entrevista à revista Premiere, deu seu depoimento sobre sua participação em Elvis On Tour: "Standing Room Only foi um documentário que participei nos anos 70. Esse projeto foi filmado durante vários shows do cantor Elvis Presley pelos Estados Unidos afora. Ele acabou se tornando um grande exercício de cinema para mim porque o considero de certa forma um predecessor da linguagem dos vídeo clips atuais, da linguagem moderna da MTV. Essa edição foi muito dinâmica, quisemos mostrar um ritmo alucinante onde tudo acontecia ao mesmo tempo agora. Havia shows de Elvis em que colocávamos 12 câmeras rodando de forma simultânea, tudo focado nele e na banda, de todos os ângulos possíveis. Claro que esse vasto material se transformou num inferno na sala de montagem! Era muito material filmado para um filme de no máximo 90 minutos. Meu primeiro copião tinha 4 horas! Uma pena porque muito material rico foi cortado mesmo! Pegamos cenas incríveis de Elvis mas que não aproveitamos porque não havia espaço na metragem. 

A aparência física de Elvis também nos deu muito trabalho. Em um show ele aparecia jovem, bonito, bronzeado e esbelto, mas no dia seguinte ele se apresentava gordo, pálido, suado e com a aparência nada saudável. Fiquei perplexo em acompanhar tamanha mudança física em tão pouco espaço de tempo. Era uma situação de altos e baixos, ao limite. Mas tirando isso, essa experiência atrás das câmeras foi muito produtiva para o meu trabalho de diretor. E depois foi muito instrutivo participar de um projeto desses. Posso dizer com certeza que todos os documentários de shows que foram lançados depois de Standing Room Only – esse era o seu nome inicial, do qual gosto muito – beberam de sua fonte. Basta dar uma olhada nos projetos dos Rolling Stones e do Led Zeppelin. Sem dúvida nos copiaram!" Quando lançado o filme foi muito bem elogiado pela crítica americana e muito disso se deu em decorrência de seu visual inovador e dinâmico. A revista Rolling Stone não poupou elogios e afirmou que "Finalmente havia sido lançado o primeiro filme de Elvis Presley". 

O coronel Parker já estava por essa época em negociações com a TV para a realização de um grande especial com Elvis, que iria ser transmitido via satélite para o mundo. Por isso pressionou os produtores para lançarem "Elvis On Tour" logo, pois caso contrário o filme iria acabar se transformando em concorrência para o especial de TV. O pior aconteceu com a trilha sonora do filme. Parker simplesmente resolveu cancelar seu lançamento, pois ele estava mesmo apostando em dois outros projetos de discos gravados ao vivo – um no Madison Square Garden e outro do especial via satélite – e por essa razão se tornava inviável o lançamento de mais um disco ao vivo. Três discos iguais, com apresentações ao vivo de Elvis, seriam demais para o mercado! Mas uma coisa é certa: todo esse trabalho acabou valendo muito a pena. Quando foram anunciados os nomes dos filmes que iriam concorrer ao Globo de Ouro - o segundo mais prestigiado prêmio da indústria cinematográfica dos Estados Unidos, atrás apenas do Oscar - "Elvis On Tour" estava presente na lista, disputando na categoria de "melhor documentário do ano". 

Elvis, bastante nervoso, acompanhou a noite de premiação de sua suíte no Las Vegas Hilton. Quando o mestre de cerimônias finalmente leu o nome do ganhador de melhor documentário do ano de 1972 – "Elvis On Tour" de Pierre Adidge e Bob Abel – Elvis deu um pulo da poltrona e simplesmente explodiu de felicidade! Não havia espaço dentro da suíte para tamanha comemoração por parte de Elvis e dos caras da Máfia de Memphis! O Rei também não deixou barato e nessa mesma noite deu uma das maiores festas que Las Vegas já presenciou! Todos correram para cumprimentá-lo e lhes dar os parabéns. Elvis não se conteve de tanta alegria e entre abraços, lágrimas e risos anunciou com muito orgulho que finalmente havia vencido o Globo de Ouro. Era a primeira vez que um filme de Elvis Presley ganhava um prêmio dessa importância. Foi uma das maiores glórias de sua já tão gloriosa carreira. Elvis estava mais do que nunca... Triunfal!

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio.