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segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Oppenheimer

Oppenheimer 
Finalmente assisti a esse que foi um dos filmes mais falados, comentados e badalados de 2023. Conta a história do físico teórico J. Robert Oppenheimer em um dos momentos mais importantes de sua carreira, quando participou e coordenou o trabalho de diversos cientistas que iriam desenvolver em conjunto a primeira bomba atômica da história. O projeto Manhattan do governo dos Estados Unidos tinha como objetivo chegar naquela arma que seria tão poderosa que iria colocar um fim definitivo no conflito armado mais letal e destrutivo da história da humanidade, a Segunda Guerra Mundial. E como vemos no filme tudo foi muito bem sucedido, ou melhor dizendo, alcançaram todos os objetivos demarcados inicialmente pelos planos do governo Truman.

O tema, a história do filme, já é por demais interessante. É aquele tipo de filme em que a vitória já está meio confirmada, antes mesmo da bola rolar. A questão seria apenas decidir como contar essa história. No caso do roteiro aqui o foco foi mesmo todo para o protagonista. E aqui vejo problemas. O roteiro não tem coragem suficiente para mostrar exatamente tudo sobre Oppenheimer. Seu pensamento e mentalidae socialista, por exemplo, é sutilmente varrida para debaixo do tapete. Tudo fica em cima do muro, nada é decidido, nada é devidamente explicado. Se ele era ou não um socialista convicto fica sempre no meio das nuvens de indecisão. Parece que o diretor Nolan não teve coragem suficiente para mostrar esse lado da personalidade do cientista. Em tempos tão polarizados, principalmente dentro da política dos Estados Unidos, ele temeu revelar tudo. E isso é sem dúvida um ponto negativo. 

O roteiro também segue numa montanha-russa. O filme começa meio vacilante, mas logo começa a crescer em interesse, principalmente por causa dos planejamentos da primeira bomba atômica. Só que uma vez construída e testada a grande arma de destruição em massa, o filme desce a montanha, se refletindo em uma parte final cansativa, sem rumo, que cai no marasmo. Aquelas reuniões todas, aqueles depoimentos, etc. Nolan deveria ter optado por algo mais ágil, de acordo com o ritmo que a sétima arte pede e necessita para se fazer um bom filme. 

Então é isso. É um bom filme, não deixo de reconhecer. Só que faltou um pouco mais de cuidado no ritmo e na narração dos acontecimentos e também de coragem para revelar tudo sobre o cientista em foco. Poderia ser bem melhor se Nolan não fosse tão precavido, sempre com medo de pisar em ovos. Além disso é um filme, se formos pensar bem, um tanto convencional. Se falou muito em ousadia narrativa do diretor. Bom, eu particularmente não vi nada disso. O filme é no final das contas bem quadradinho e convencional em termos narrativos e de desenvolvimento da história.

Oppenheimer (Estados Unidos, 2023) Direção: Christopher Nolan / Roteiro: Christopher Nolan, Kai Bird, Martin Sherwin / Elenco: Cillian Murphy, Robert Downey Jr, Emily Blunt, Matt Damon / Sinopse: Baseado em fatos históricos reais, o filme conta a história do cientista americano J. Robert Oppenheimer e o seu papel no desenvolvimento da primeira bomba atômica.

Pablo Aluísio.

sábado, 4 de dezembro de 2021

Dunkirk

Título no Brasil: Dunkirk
Título Original: Dunkirk
Ano de Produção: 2017
País: Inglaterra, Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Christopher Nolan
Roteiro: Christopher Nolan
Elenco: Fionn Whitehead, Barry Keoghan, Mark Rylance, Barry Keoghan, Tom Glynn-Carney, Mark Rylance

Sinopse:
O filme mostra, em detalhes históricos precisos, a chamada retirada de Dunquerque quando barcos civis se arriscaram para salvar a vida de milhares de militares ingleses que batiam em retirada de Dunquerque, após um forte avanço das tropas alemãs do III Reich nazista.

Comentários:

Um dos melhores filmes sobre a II Guerra Mundial lançados nos últimos dez anos. O interessante (e estarrecedor) é que muita gente não entendeu as motivações do filme. Para os mais cínicos o filme retrataria um momento embaraçoso para os ingleses, quando eles tiveram que sair às pressas de Dunquerque, após o avanço das tropas nazistas. Não se trata disso. O filme tenta passar o valor da honra de muitos britânicos que se arriscaram para salvar a vida de seus patriotas. Muitos barcos civis se aventuraram no mar para ir até a praia de Dunquerque e de lá trazer os jovens soldados para casa. Não foi um ato de covardia, muito pelo contrário, mas sim um ato de coragem, de bravura, de muito patriotismo. Algumas produções já tinham tratado desse mesmo evento histórico, só que aqui se ganha contornos de uma melhor produção, com os avanços da atual tecnologia de efeitos especiais. Como se pode ver bem na cena dos aviões da Força Aérea real dando rasantes incríveis nas praias de Dunquerque. Enfim, temos aqui um grande filme sobre um grande momento da história da Inglaterra. Mostra bem os valores das pessoas que participaram desse momento único e histórico da Grã-Bretanha. Grande filme. Se você gosta de produções com enfoque na II Guerra Mundial então o filme se torna simplesmente obrigatório.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Tenet

O estúdio fez de tudo para que esse filme fosse adiado. Afinal, o mundo estava vivendo uma pandemia, os cinemas, em sua maioria, estavam fechados. O público tinha receios de ficar em uma sala fechada por mais de duas horas com medo de ser contaminado. Só que o diretor Christopher Nolan bateu o pé, insistindo para que o filme fosse lançado na data que havia sido programada. Pois bem, sua vontade prevaleceu. E o que aconteceu? Sim, "Tenet" se tornou um fracasso comercial. Esse filme virou um paradigma, um exemplo ruim do que poderia acontecer caso os estúdios colocassem seus principais filmes, suas grandes produções em cartaz nos cinemas em 2020. Era quase certo que todos ele iriam naufragar. O vírus, queiram ou não, colocou a indústria do cinema americano de joelhos. Enquanto a população não for vacinada, não existirá bilheterias milionárias (ou bilionárias). Com isso todos os blockbusters foram adiados. Christopher Nolan quebrou a cara com sua arrogância.

E após assistir a esse filme posso até arriscar dizer que mesmo sem a pandemia esse "Tenet" não iria ser um enorme sucesso de bilheteria. O filme é fraco! Essa é a verdade! O roteiro, escrito pelo próprio Christopher Nolan, parece deslumbrado com a existência de universos invertidos, onde as coisas caminham para trás, ao invés de irem para frente. Qual é a novidade nisso? Já no cinema mudo a exibição de cenas invertidas era usada em comédias pastelão. Será que Nolan não sabia disso? Será que ele pensou que as pessoas iriam ficar espantadas com seus personagens andando para trás? Que bobagem...

A trama gira em torno de uma arma, criada no futuro, que consegue manipular o tempo. Dois agente são encarregados de evitar que essa arma caía em mãos erradas. O principal vilão é um contrabandista de armas, interpretado pelo bom ator Kenneth Branagh. E com esse fiapinho de história o filme se arrasta por quase duas horas e meia de duração. Confesso que quase larguei o filme pela metade. Aquela coisa toda de universo invertido é uma verdadeira chatice. Esse é seguramente o filme mais pretensioso e banal da carreira do Nolan. Merecia o fracasso comercial, com ou sem pandemia.

Tenet (Tenet, Estados Unidos, 2020) Direção: Christopher Nolan / Roteiro: Christopher Nolan / Elenco: John David Washington, Robert Pattinson, Kenneth Branagh, Michael Caine, Elizabeth Debicki / Sinopse: Uma arma que manipula o espaço e o tempo é criada no futuro. Sua inventora decide enviá-la para o passado (o nosso presente) e dois agentes precisam colocar as mãos nela, antes que vá parar na mão de criminosos internacionais. Filme indicado ao People's Choice Awards.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 11 de julho de 2019

Amnésia

Quando esse filme chegou no Brasil, ainda no mercado de vídeo, basicamente ninguém por aqui conhecia o diretor Christopher Nolan. Poder-se dizer por isso que esse foi o filme que abriu as portas para ele dentro da indústria cinematográfica dos Estados Unidos, fazendo inclusive que ele fosse escalado algum tempo depois para dirigir "Batman Begins", a fita que definitivamente iria mudar sua carreira para sempre. Pois bem, nada poderia prever uma trajetória de tanto sucesso, a não ser o talento e a enorme criatividade desse roteiro. Escrito a quatro mãos, ao lado do irmão Jonathan Nolan, essa produção realmente chamou a atenção do público e da crítica quando foi lançada. Logo no começo, pela estrutura da linha narrativa, descobrimos que não se tratava de um roteiro comum. Bem ao contrário disso, Nolan sofisticava a narrativa ao estilo mosaico, indo até suas últimas consequências.

A trama dá inúmeras reviravoltas, com pedaços de estória que vão aos poucos se complementando, fazendo sentido. Não é um filme que indicaria para pessoas que estivessem apenas em busca de uma diversão, um passatempo de fim de noite. Ao contrário disso Nolan exigia bastante do espectador, fazendo com que ele de fato prestasse atenção ao que estava acontecendo na tela. Nada muito óbvio e fácil de pegar. O elenco não traz nenhuma grande estrela de Hollywood, mas isso definitivamente não faz falta nenhuma. Guy Pearce aqui tem provavelmente a melhor interpretação de sua filmografia. Enfim, um filme especialmente indicado para pessoas inteligentes que gostem de ser desafiadas por aquilo que assistem.

Amnésia (Memento, Estados Unidos, 2000) Direção: Christopher Nolan / Roteiro: Christopher Nolan, Jonathan Nolan / Elenco: Guy Pearce, Carrie-Anne Moss, Joe Pantoliano / Sinopse: Leonard (Guy Pearce) tenta desvendar o que teria acontecido com sua esposa, brutalmente assassinada, ao mesmo tempo em que tenta colocar uma ordem em suas confusas memórias pessoais. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Roteiro Original (Christopher Nolan e Jonathan Nolan) e Melhor Edição (Dody Dorn). Também indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Roteiro.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Dunkirk

Historicamente a retirada de Dunquerque foi um dos momentos mais cruciais da II Guerra Mundial. Os britânicos e franceses se viram cercados por forças nazistas e tiveram que abandonar às pressas uma região importante em termos de estratégia. O Primeiro Ministro Churchill preferiu a retirada ao invés de perder seus batalhões. Um passo atrás para no futuro continuar a avançar rumo à vitória. Esse evento já virou filme antes, bons filmes aliás, como "Tobruk" e "A Retirada de Dunquerque", dois clássicos do cinema de guerra. Agora o cineasta Christopher Nolan (da excelente trilogia do Batman) resolveu voltar para aquelas praias cercadas pelo inimigo.

O roteiro é direto ao ponto. Quando o filme começa vemos um jovem soldado inglês escapando por pouco dos tiros dos alemães. Eles parecem estar em todos os lugares (mas curiosamente nunca surgem na tela). Após quase morrer, o soldado finalmente consegue ir para a sua linha de combate. Assim como ele, milhares de outros soldados esperam a chegada dos navios da armada inglesa para irem embora de Dunquerque, afinal a ordem de retirada já foi dada e eles não possuem mais nada a fazer ali, a não ser sobreviver. Os navios porém não parecem chegar nunca. A força aérea da Alemanha nazista (a temida Luftwaffe) faz dos indefesos soldados estacionados naquela praia alvos fáceis. 

Três caças ingleses então são enviados, mas a jornada até as praias de Dunquerque se torna complicada. O roteiro também abre espaço para o esforço de guerra do homem comum. Na história vemos ingleses, cidadãos normais, usando seus barcos particulares para resgatarem o maior número possível de soldados. Um momento realmente impactante de heroísmo das pessoas simples, que tentam ajudar de alguma forma no front de batalha. Nolan assim usa três linhas narrativas para contar a história de seu filme. A do jovem soldado que espera ser resgatado nas praias de Dunquerque, a dos pilotos que lutam nos céus contra os inimigos para salvar os homens do exército e finalmente a das pessoas comuns, civis, que usam seus próprios barcos para ajudar de alguma forma na retirada. Tudo muito bem conduzido, com ótimas cenas de batalha, em especial com os caças da linha Spitfire, símbolos máximos da eficiência da RAF (A força aérea real inglesa) na guerra. Nolan também acerta em realizar um filme enxuto, que conta sua história de forma honesta, eficiente, sem encher a paciência do espectador com coisas desnecessárias. Desde "O Resgate do Soldado Ryan" não tinha assistido a um filme da II Guerra Mundial tão bem realizado. Está mais do que recomendado. 

Dunkirk (Dunkirk, Estados Unidos, Inglaterra, França, Holanda, 2017) Direção: Christopher Nolan / Roteiro: Christopher Nolan / Elenco: Tom Hardy, Kenneth Branagh, James D'Arcy, Cillian Murphy, Fionn Whitehead, Barry Keoghan, Mark Rylance / Sinopse: O filme mostra a retirada nas praias de Dunquerque das forças inglesas e francesas sob o ponto de vista de três personagens principais: um jovem soldado inglês, um piloto de caça da RAF e um homem mais velho, veterano, que usa seu pequeno barco para resgatar o maior número possível de soldados daquele cerco armado pelas forças nazistas. Filme indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Drama, Melhor Direção (Christopher Nolan) e Melhor Trilha Sonora (Hans Zimmer).

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Interestelar

Não é pequeno o número de pessoas que não gostaram desse filme. Eu sei explicar bem a razão. Não temos aqui um roteiro de fácil digestão. Na realidade o argumento é um dos mais inteligentes que já vi nos últimos anos. Ele lida com universos paralelos, dimensões espaciais e física, muita física, ou melhor dizendo, astrofísica. As distâncias e o espaço / tempo são tão grandiosos em termos universais que até mesmo nossos conceitos mais básicos se tornam elásticos e sem muito sentido diante da realidade explorada pelo filme em si. Os roteiristas de "Interestelar" não o escreveram para um público mediano, que mal consegue lidar com conceitos mais simples da ciência. Na verdade eles partiram do pressuposto que o espectador já teria algum colchão de conhecimento para absorver tudo o que verá pela frente. Só assim haveria a mínima possibilidade de compreender como o astronauta Cooper (Matthew McConaughey) consegue entrar em um buraco de minhoca, vindo parar em uma realidade paralela, em outra dimensão dentro de nosso próprio mundo. Uma vez lá ele tenta se comunicar com o seu Eu desse outro espaço tempo e o ciclo volta a se renovar, mostrando nesse sentido a universalidade da própria eternidade.

Já deu para perceber que não é uma ficção para quem andou cabulando as aulas de física no ensino médio não é mesmo? Pois bem. Se o espectador conseguir pelo menos pegar parte dessas nuances já terá feito alguma coisa. Na verdade o filme tem além de um roteiro excepcional uma direção de arte brilhante (que recria como seria alguns exoplanetas no universo) e efeitos especiais bem feitos e que trabalham em sintonia com a história que está contando. Provavelmente o filme vai agradar muito mais aos que já se interessam por esse tipo de tema. Os espectadores eventuais que não estejam dispostos a pensar muito vão acabar sofrendo para pegar tudo o que vê na sua frente. Não é um filme para amadores. "Interestelar" exige concentração e foco, algo que infelizmente falta em abundância no público que frequenta cinemas hoje em dia.

Interestelar (Interstellar, Estados Unidos, 2014) Direção: Christopher Nolan / Roteiro: Jonathan Nolan, Christopher Nolan / Elenco: Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Michael Caine, John Lithgow, Ellen Burstyn, Jessica Chastain, Casey Affleck / Sinopse: Ex piloto do programa espacial é recrutado para uma nova missão da NASA. Ele deverá ir junto com sua tripulação em direção a um enorme "buraco de minhoca" cósmico em busca de respostas sobre três missões anteriores que não retornaram ao planeta Terra. O objetivo é procurar um novo lugar para colonização pela raça humana pois os recursos naturais da Terra estão virtualmente esgotados. O lema da missão passa a ser "A humanidade nasceu na Terra, mas não precisa morrer nela". Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhores Efeitos Especiais. Também indicado nas categorias de Melhor mixagem de Som, Melhor Edição de Som, Melhor Design de Produção e Melhor Música Original.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 31 de março de 2015

Interestelar

Piloto de testes no passado, Cooper (Matthew McConaughey) agora precisa cuidar de uma fazenda no meio oeste americano. O programa espacial foi praticamente desativado pois o planeta passa por um sério problema com sua agricultura. Várias culturas agrícolas essenciais para a humanidade estão simplesmente deixando de existir por questões ambientais. Indignada com os gastos do programa espacial a população acabou exigindo que todos os gastos com a exploração do cosmos fossem suspensas. Para Cooper, que é viúvo e vive ao lado de seus dois filhos adolescentes e seu pai na sede da fazenda, a ciência é agora apenas um ponto nostálgico de sua vida passada. Após uma terrível tempestade de areia em sua propriedade rural ele percebe que há um estranho fenômeno acontecendo no quarto de sua filha - uma alteração gravitacional sem explicação aparente. Tentando decifrar o enigma, ele acaba descobrindo que há uma linguagem binária envolvida naquela situação. Usando os números como guia acaba descobrindo tratar-se de uma posição geográfica. Indo até lá, no meio do deserto, acaba descobrindo uma imponente instalação governamental, um projeto espacial secreto, que tem como objetivo enviar astronautas na exploração de um "buraco de minhoca" perto de Saturno. O termo é usado designar fendas cósmicas que conseguem alinhar o tempo-espaço do universo. Esse lugar proporciona um salto interestelar, tornando possível uma viagem até uma estrela longínqua do universo e seu próprio sistema planetário. Imediatamente Cooper é convidado pelo cientista e professor Brand (Michael Caine) para participar de uma nova missão de reconhecimento rumo ao desconhecido. Acontece que três pioneiros foram enviados para exoplanetas há muitos anos e de lá nunca retornaram. Estarão vivos ou foram tragados pelo universo? A única maneira de responder a essa pergunta é enviando uma nova missão para esses planetas desconhecidos. Assim Cooper se une à filha de Brand (interpretada pela atriz Anne Hathaway) para juntos cruzarem o buraco de minhoca. Uma vez lá descobrem que nem tudo é tão dimensional e simples de explicar como tenta entender a vã ciência humana.

Que Christopher Nolan é um dos diretores mais talentosos do cinema americano atual já não restam dúvidas. Qualquer filme assinado por ele já é motivo por si só para ser conferido, até de forma obrigatória, pelos cinéfilos mais antenados. Nessa produção Nolan resolveu ir além. Desde os primeiros momentos sabemos que ele vai explorar um tema que já foi muito caro na história da sétima arte. Não precisa ir muito longe para entender que o grande modelo seguido por Nolan foi o clássico de Stanley Kubrick, "2001 - Uma Odisseia no Espaço". O argumento basicamente segue os passos do clássico filme original. De certa maneira tudo pode até mesmo ser encarado como uma revitalização do tema ou até mesmo uma forma de tornar sua proposta mais acessível ao grande público. Obviamente que essa produção não tem a consistência filosófica e existencial do filme original. isso porém não se torna um problema. Acredito que Nolan quis apenas realizar uma ficção científica inteligente, lidando com temas da Astrofísica que estão bastante em voga atualmente. Se você não entende ou não curte ciência não precisa também se preocupar. Nolan escreveu seu filme de forma que seja acessível ao homem médio. Claro que conceitos relativos como tempo, espaço e gravidade, formam a espinha dorsal do enredo, mas isso pode ser entendido sem maiores problemas desde que você tenha ao menos uma base de física (até mesmo o feijão com arroz ensinado no ensino médio lhe trará algum apoio nesse sentido). Assim o que temos aqui é uma estória até simples, muitas vezes bem fantasiosa, com um background científico mais aprofundado. Algumas situações do roteiro chegam um pouco a incomodar pelas soluções fáceis demais que vão surgindo. Por exemplo, mesmo aposentado há anos o personagem de Matthew McConaughey é logo incorporado na missão espacial, assim quase da noite para o dia, algo que seria inimaginável em uma situação real. Parece que Nolan e seu irmão Jonathan capricharam nas tintas científicas de sua trama e se descuidaram um pouco de certos acontecimentos mais banais do enredo.

Além disso alguns aspectos dos planetas visitados são bem pueris (diria até primários) do ponto de vista astronômico, mas nada disso chega a se tornar um problema de complicada superação. O que vale mesmo em tudo é o conceito de dimensões paralelas explorada por Nolan, principalmente nas sequências finais quando temos uma verdadeira flâmula dos conceitos de multi universos dimensionais. Sim, alguns aspectos do roteiro serão banais, como a enésima exploração do tema de um planeta exaurido em seus recursos naturais, mas se pensarmos bem tudo isso nada mais é do que uma bengala narrativa para que Nolan desenvolva seu tema principal. No geral a família - que mais parece ter saído de um filme de Spielberg por causa da pieguice excessiva - acaba também servindo de uma ferramenta puramente narrativa para que o diretor desenvolva suas ideias mais científicas, as principais no final de tudo. Certamente Interestelar é um belo filme, com uma proposta que vai até mesmo soar intrigante nos dias de hoje. Poderia ser uma obra prima se Nolan fosse mais além mesmo, com coragem, como fez Kubrick no passado em sua obra cinematográfica imortal. Ao dar espaço para pequenas concessões comerciais em seu roteiro, Nolan perdeu talvez a grande chance de realizar a maior obra prima de toda a sua carreira. Nem sempre tentar agradar ao grande público que lota os cinemas comerciais pode compensar, olhando-se tudo sob esse ponto de vista, esse tipo de situação. De bom mesmo o que ficará dessa produção será o desenvolvimento de conceitos científicos e a bela mensagem de Nolan sobre a importância do amor, encarado quase como uma variável puramente astrofísica. Quem diria que um cineasta conseguiria reunir dois temas assim tão dispares em um mesmo pacote? Sensacional.

Interestelar (Interstellar, EUA, 2014) Direção: Christopher Nolan / Roteiro: Jonathan Nolan, Christopher Nolan / Elenco: Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Michael Caine, John Lithgow, Ellen Burstyn, Jessica Chastain, Casey Affleck / Sinopse: Ex piloto do programa espacial é recrutado para uma nova missão da NASA. Ele deverá ir junto com sua tripulação em direção a um enorme "buraco de minhoca" cósmico em busca de respostas sobre três missões anteriores que não retornaram ao planeta Terra. O objetivo é procurar um novo lugar para colonização pela raça humana pois os recursos naturais da Terra estão virtualmente esgotados. O lema da missão passa a ser "A humanidade nasceu na Terra, mas não precisa morrer nela". Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhores Efeitos Especiais. Também indicado nas categorias de Melhor mixagem de Som, Melhor Edição de Som, Melhor Design de Produção e Melhor Música Original.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Batman Begins

Com o último filme da trilogia estreando nas telas resolvi rever as duas primeiras produções da franquia a começar por esse "Batman Begins" que só tinha assistido uma única vez justamente na sua estréia. Lembro que gostei bastante na época mas como já não me recordava muito dos detalhes resolvi reavaliar. Acredito que nessa altura do campeonato ninguém mais duvida da qualidade dessa nova trilogia e todas as suas qualidades já surgem aqui no primeiro filme. O roteiro é muito bem escrito fazendo com que a trama, muito inteligente por sinal, se feche redondinha em si. O argumento consegue contar as origens do herói sem se focar apenas nisso abrindo espaço também para uma boa aventura ao estilo dos quadrinhos com o vilão Espantalho. O que mais caracteriza essa nova releitura de Batman no cinema assinada por Christopher Nolan é o apego com a realidade. Mesmo lidando com um personagem de universo fantástico como Batman o diretor tenta de todas as formas manter sempre um pé na realidade. Essa situação fica mais evidente se lembrarmos de outras encarnações do morcego nas telas de cinema. Não há espaço para a fantasia em excesso, o Batman de Nolan é o mais próximo possível do que seria um universo plausível, longe de exageros ou tramas infanto-juvenis.

Outro ponto forte de "Batman Begins" é seu elenco. A escolha de Christian Bale se mostrou acertada. Ele é notoriamente um ator pouco carismático ou simpático mas que se torna adequado para o personagem Batman pois esse é um sujeito com muitos demônios internos, frustrações e traumas pessoais. Assim o semblante taciturno de Bale acaba caindo como uma luva para o cavaleiro das trevas. Cillian Murphy também surge muito bem como um psiquiatra almofadinha com ar insuportável que acaba utilizando de alucinações induzidas para aumentar seus domínios. Rever os veteranos Morgan Freeman e Michael Caine sempre é um prazer e até a chatinha Katie Holmes surge bem em seu papel. Já Liam Neeson parece não ter esquecido ainda seu personagem Jedi - a todo momento ficamos com a impressão que ele vai sacar um sabre de luz! Em suma, Batman que quase sempre se deu bem nos cinemas aqui ressurge de forma muito satisfatória, em um bom roteiro que discute a diferença entre justiça e vingança de forma muito inteligente e perspicaz. "Batman Begins" é um filme à prova de falhas, bom de sua primeira à última cena, que aliás anuncia o surgimento do Coringa na franquia. Mas essa é uma outra história...

Batman Begins (Idem, Estados Unidos, 2005) Direção: Christopher Nolan / Roteiro: Christopher Nolan, David S. Goyer baseados nos personagens criados por Bob Kane / Elenco: Christian Bale, Cillian Murphy, Michael Caine, Morgan Freeman, Liam Neeson, Katie Holmes, Gary Oldman, Rutger Hauer, Tom Wilkinson, Ken Watanabe / Sinopse: Após testemunhar a morte de seus pais o milionário Bruce Wayne (Christian Bale) resolve criar um símbolo de luta contra a criminalidade que se alastra em uma Gothan City corrupta e violenta. Esse símbolo passa a ser personificado por Batman, o Cavaleiro das Trevas.

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 11 de julho de 2014

O Grande Truque

Título no Brasil: O Grande Truque
Título Original: The Prestige
Ano de Produção: 2006
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Christopher Nolan
Roteiro: Jonathan Nolan, Christopher Nolan
Elenco: Christian Bale, Hugh Jackman, Scarlett Johansson, Michael Caine

Sinopse:
A rivalidade entre dois talentosos mágicos ultrapassa todo e qualquer limite. Agora, um deles terá que enfrentar uma séria acusação de assassinato. Verdade ou apenas mais um truque desses geniais profissionais? Filme indicado ao Oscar nas categorias Melhor Direção de Arte e Fotografia. Também indicado ao prêmio da Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films nas categorias Melhor Filme e Melhor Figurino.

Comentários:
Os mágicos de hoje em dia perderam muito de seu charme original. Mais parecem metaleiros do que nobres que dominam o misterioso mundo da magia. Vide os grandes astros da categoria em Las Vegas atualmente. Esse "The Prestige" recupera um pouco essa antiga mistica! Christopher Nolan rodou o filme entre "Batman Begins" e "Batman - O Cavaleiro das Trevas" e talvez por essa razão seus méritos tenham sido um pouco ofuscados, até porque os filmes de Batman não eram apenas produções comuns, mas eventos cinematográficos que ultrapassavam em muito a mera exibição das aventuras do homem-morcego pelas telas do mundo afora. "O Grande Truque" por sua vez se propõe a contar uma boa estória, adornado com uma maravilhosa direção de arte e um clima singular, onde realidade e fantasia se misturam muito bem. E como é bem do feitio de Nolan, os efeitos especiais são meras ferramentas em prol do enredo e dos personagens, e não a desculpa principal da existência do filme em si. Assim, já que o impacto dos filmes de Batman passou, talvez seja uma boa hora de rever com mais calma essa interessante obra do cineasta. Roteiro inteligente, boas atuações e um clima nostálgico irresistível garantem um ótimo programa para o gosto de qualquer cinéfilo.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Insônia

Título no Brasil: Insônia
Título Original: Insomnia
Ano de Produção:
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Christopher Nolan
Roteiro: Hillary Seitz, Nikolaj Frobenius
Elenco: Al Pacino, Robin Williams, Hilary Swank

Sinopse:
Dois detetives do departamento de homicídios de Los Angeles são enviados a uma cidade do norte, onde o sol não se põe, para investigar o assassinato de um adolescente local. As provas parecem confirmar a atuação de um serial killer na região. Filme indicado ao prêmio da Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films nas categorias Melhor Roteiro e Melhor Ator Coadjuvante (Robin Williams).

Comentários:
Um dos mais interessantes filmes do cineasta Christopher Nolan. Ele conseguiu trazer para o público todo um clima opressor e sufocante, levando o espectador a sentir o dilema pelo qual passa o protagonista. Esse grande domínio das técnicas de narração foi aliás o fator que levou a Warner a se decidir definitivamente pelo nome de Nolan para dirigir a nova franquia de Batman para os cinemas. Afinal de contas basta ver o clima onde tudo se passa aqui para entender que o espírito sombrio que seria usado nas aventuras do cavaleiro das trevas já estava presente. Já para os fãs de Pacino o filme se mostrou um grande presente pois o ator se entregou de corpo e alma para seu personagem. Aqui Pacino se utilizou de uma interpretação bem menos intensa, preferindo optar pelos pequenos detalhes, pelas mínimas nuances em cada momento. Outro ponto a se destacar vem com Robin Williams, que aqui ressurge em um papel perturbador, bem longe de suas atuações cômicas. Sempre fico intrigado quando vejo Williams nesse tipo de atuação pois ele prova que não é apenas um comediante ao estilo metralhadora giratória mas também um ator de mão cheia. Em suma, um filme diferente que revela aspectos adormecidos em todos esses grandes nomes da sétima arte.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge

Há um velho estigma dentro do cinema que afirma que a terceira continuação de uma franquia é sempre a pior. Fazendo uma retrospectiva realmente temos muitos exemplos disso. Esse último filme de Batman sob a direção de Christopher Nolan não contradiz essa velha máxima. Realmente é o filme menos brilhante da franquia mas é bom ressalvar que apesar disso ainda consegue ser um filme realmente excepcional. Ainda considero “Batman Begins” o melhor roteiro escrito e “Batman O Cavaleiro das Trevas” como o mais marcante em termos de atuação e direção (basta lembrar do Coringa de Heath Ledger para entender isso). Esse último filme de trilogia se destaca por ser o mais caótico, diria até mesmo anarquista, de todos eles. A figura de Bane surpreende por se revestir de tons revolucionários, pregando o poder para o povo (mesmo que seja mera desculpa para seus atos terroristas). Sua retórica chega a lembrar até mesmo dos líderes populistas e falsos socialistas que proliferam na América Latina atualmente.

A trama é brilhantemente construída. É uma pena que não possa debater aqui todos os detalhes e reviravoltas que surgem em cena pois não daria qualquer tipo de spoiler que estragasse as surpresas do filme mas fica a observação de que, pela primeira vez em muito tempo, Hollywood conseguiu criar um argumento muito sólido que consegue explicar excepcionalmente bem a origem e as motivações de seus personagens. Mesmo com tantos acertos encontramos erros também no timing da película. Embora seja um grande filme temos que reconhecer que há certos momentos que quebram a espinha dorsal da trama. Achei excelente o uso de certos momentos mas também pude perceber nitidamente a presença de cenas desnecessárias que quebraram o ritmo frenético dos acontecimentos. Batman, ou melhor dizendo, Bruce Wayne, surge incrivelmente vulnerável nesse terceiro filme. Quase sempre se recuperando de alguma lesão ou fratura – o que lhe deu uma humanidade muito acentuada, valorizando o lado mais realista do personagem, algo bem típico dos filmes de Christopher Nolan, que sempre procura ficar com os pés no chão. Um exemplo disso vemos também no próprio vilão Bane. Nos quadrinhos e desenhos animados ele é basicamente um brucutu brutal que literalmente “infla” com músculos desproporcionais, virando uma espécie de gigante descomunal. Nolan ignorou tudo isso em favor de um maior realismo (algo que esperava embora no íntimo tenha ficado torcendo para ele virar o monstro que conhecemos dos gibis).

Em termos de elenco nada a acrescentar ou criticar. Certamente a atriz Anne Hathaway como Mulher Gato passa longe do carisma de Michelle Pfeiffer (que continua sendo a melhor personificação do personagem no cinema) mas mesmo assim não compromete no saldo final. Ela na verdade é pouco sensual, mais parecendo uma daquelas modelos sem sal das revistas de moda, mas não faz feio.  Christian Bale continua muito bem como Bruce Wayne / Batman. Ator sem muito carisma conseguiu se sair muito bem na pele do complexo e martirizado milionário. Seu jeito sorumbático caiu como uma luva para o personagem sombrio que vive em eterna crise existencial. O restante do elenco de apoio continua ótimo, todos grandes atores que trazem muito para o resultado final. Já analisar o trabalho do ator Tom Hardy como Bane fica mais complicado. Com uma máscara que lhe tira toda a expressão facial não há como qualificar como bom ou ruim sua performance. Bane é um personagem que não abre muitos espaços para interpretações inspiradas como Coringa ou Pingüim.

Nos quadrinhos ainda é menos expressivo se limitando a ser uma montanha de músculos brutalizada. Aqui pelo menos ainda criaram toda uma estória em torno dele, tentando obviamente lhe passar alguma personalidade. De qualquer maneira as cenas de ação e lutas ficaram muito bem elaboradas e executadas. Impossível não sentir um frio na espinha na hora em que ele dá um golpe quase mortal no herói mascarado, quebrando suas costas. Em suma, reforçando minhas conclusões diria que “Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge” é certamente o mais fraco da série mas isso não significa em absoluto que seja ruim ou deixe a desejar, pelo contrário. O que acontece é que os filmes anteriores são maravilhosos e esse também é excepcional mas um ponto abaixo dos demais. Parabéns a Christopher Nolan pelo talento, bom gosto e competência na realização dessa extremamente bem sucedida franquia que se encerra aqui. Não sei qual é o futuro do Homem-Morcego nas telas – provavelmente volte em uma nova franquia daqui alguns anos – mas sei de antemão que se igualar ao nível de qualidade dos filmes de Nolan não será nada fácil. De qualquer modo fico realmente feliz em saber que essa trilogia foi fechada com chave de ouro.

Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises,  Estados Unidos, 2012) / Direção: Christopher Nolan / Roteiro: Christopher Nolan, Jonathan Nolan / Elenco: Christian Bale, Gary Oldman, Morgan Freeman, Michael Caine, Anne Hathaway, JosephGordon-Levitt, Liam Neeson, Tom Hardy, Cilliam Murphy, Marion Cotillard, Juno Temple, Daniel Sunjata, Joey King, Matthew Modine / Sinopse Após os acontecimentos do filme anterior Bruce Wayne (Christian Bale) tenta se recuperar fisicamente dos ferimentos sofridos. Nesse meio tempo surge em Gotham City um terrorista mercenário chamado Bane (Tom Hardy) que deseja sob uma falsa retórica populista destruir a cidade. Apenas Batman pode deter seus planos de destruição.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Batman - O Cavaleiro das Trevas

"Batman - O Cavaleiro das Trevas" é considerado a obra prima dessa nova franquia dirigida por Christopher Nolan. Existe um certo consenso de que essa seria a melhor transposição já feita do personagem para o cinema. O clima soturno, pessimista e gótico está bem acentuado. Além disso temos aqui um roteiro muito mais sombrio do que o visto em "Batman Begins". O texto explora muito bem a falta de esperança em uma cidade infestada por criminosos de todos os tipos. Dentre eles finalmente surge o Coringa numa brilhante interpretação de Heath Ledger. Aliás o filme é sempre muito mais lembrado pela caracterização do vilão mais famoso do universo de Batman do que por qualquer outra coisa. Ledger está muito inspirado em cena, assustador e insano na dose exata. O ator parece ter incorporado o papel, o que não deixa de ser algo bem assustador. Sua morte trágica logo após a conclusão do filme mitificou ainda mais seu trabalho em "Dark Knight" confirmando uma velha regra não escrita que diz que no cinema Batman sempre tem seus filmes roubados por seus vilões em cena. De fato aqui não há muito o que ponderar, o filme é de Ledger deixando Bale e seu herói em uma incômoda posição secundária dentro da trama. 

Se em "Batman Begins" se discutia a diferença entre justiça e vingança aqui em "Cavaleiro das Trevas" o foco é diferente. O argumento mostra a tentativa do Coringa em provar que até o mais honesto homem de Gotham City, o promotor Harvey Dent, pode ser corrompido. Considerado o último pilar de honradez da cidade ele logo se torna alvo do insano criminoso que quer acima de tudo demonstrar que nem os mais virtuosos cidadãos estão à salvo de passarem para o outro lado. Excelente também é a identidade que ambos os personagens Batman e Coringa parecem ter. São na verdade faces diversas de uma mesma moeda. O núcleo do elenco segue praticamente o mesmo do primeiro filme (Bale, Caine e Freeman). A única mudança mais significativa aqui acontece com a personagem de Rachel Dawes que acabou indo para as mãos de Maggie Gyllenhaal, o que não deixa de ser positivo pois ela é seguramente melhor atriz do que Katie Holmes. O diretor Christopher Nolan basicamente segue os passos do êxito do primeiro filme, ou seja, procura não deixar a trama se distanciar da realidade. O Coringa, por exemplo, está menos espalhafatoso, menos carnavalesco e mais assustador do que nas outras versões. Idem o próprio Batman, cada vez mais inseguro de sua própria posição diante dos acontecimentos. Nolan certamente encontrou o tom ideal nesse filme que é extremamente bem realizado. Agora resta esperar pela conclusão da trilogia. Espero que consiga fechar tudo com chave de ouro pois não restam dúvidas que os dois primeiros filmes são realmente primorosos.  

Batman - O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, Estados Unidos, 2008) Direção: Christopher Nolan / Roteiro: Christopher Nolan, Jonathan Nolan / Elenco: Christian Bale, Heath Ledger, Morgan Freeman, Gary Oldman, Aaron Eckhart, Maggie Gyllenhaal, Michael Caine, Eric Roberts, Anthony Michael Hall / Sinopse: O Coringa (Heath Ledger) resolve se unir a máfia de Gotham City para tirar do caminho Batman (Christian Bale) que está arruinando todos os seus negócios escusos. Para tanto terão ainda que enfrentar o novo promotor da cidade, o honesto Harvey Dent (Aaron Eckhart) que logo vira alvo dos planos do Joker.  

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

A Origem

"A Origem" é uma excelente ideia que ficou no meio do caminho. Seu roteiro chama a atenção pela extrema imaginação e originalidade, seu argumento é ótimo com uma ideia central muito rica em possibilidades, com tudo bem costurado, coerente e fechadinho mas que se perde em uma narrativa sofrível que prejudica muito o filme no saldo final. Em poucas palavras: Um roteiro extremamente criativo que afunda numa edição ruim e numa linha narrativa pior ainda. Também falta coragem em se assumir como uma ficção totalmente inteligente e conceitual. No desespero de agradar aos mais jovens que frequentam cinema hoje em dia o diretor Christopher Nolan se acovardou e encheu a produção de correrias, tiroteios ultra exagerados (e bregas) tornando tudo banal, mais do mesmo. Não ousou ir até o fim, até as últimas consequências (como Kubrick fazia em seus filmes). Poucas vezes vi um ponto de partida tão promissor se perder em um emaranhado tão vasto de bobagens de estilo e cenas de ação gratuitas. A ideia central do filme não é complicada de se seguir (embora tenha deixado alguns espectadores sem entender muito bem o que acontece). Basicamente é uma alegoria do inconsciente que aqui deixa de ser meramente individual para se tornar coletivo, em um plano compartilhado por várias pessoas ao mesmo tempo. Falando assim até parece sem sentido, mas não é. Quem assistiu sabe disso. O problema é que o diretor Nolan faz um rocambole dos diabos com isso.

O calcanhar de Aquiles de "A Origem" é essa: as coisas acontecem em um ritmo tão acelerado e desorganizado que deixa o espectador médio aturdido. Faltou ao diretor organizar melhor as ideias e as distribuir na sequência de cenas de uma forma menos caótica. A terça parte final do filme é um verdadeiro abismo em termos de edição. Temos três níveis de sonhos, mais delírios de subconsciente e lembranças tudo misturado em uma quase inexistente linha de narração. A impressão nítida que tive foi que Nolan se perdeu totalmente nessa parte do filme. As coisas são literalmente vomitadas em cima do espectador que fica sem saber direito o que está afinal acontecendo. Alguns se esforçam para seguir o fio da meada mas pelo pude constatar na sala que assisti a maioria simplesmente desistiu de tentar acompanhar. Para esses Nolan distribuiu fartas cenas de ação vazias que permeiam toda a narrativa. Estaria tentando acordar os mais sonolentos? Foi o que me pareceu. Assim em determinado momento a produção se torna muito chata, afundada numa sucessão de sonhos dentro de sonhos que por sua vez estão dentro de outros sonhos. O filme também é muito pretensioso mas não cumpre o que prometia. Em poucas palavras: se torna um filme intragável para grande parte do público. Realmente faltaram foco, organização, ousadia e sensibilidade no resultado final. Espero sinceramente que Nolan não leve todos esses defeitos para o próximo Batman. Pretensão demais pode levar qualquer filme à sua própria ruína.

A Origem (Inception, Estados Unidos, 2011) Direção de Christopher Nolan / Roteiro: Christopher Nolan / Elenco: Leonardo DiCaprio, Joseph Gordon-Levitt, Ellen Page / Sinopse: Don Cobb (Leonardo Di Caprio) é um especialista em adentrar sonhos e mentes alheias com objetivos ilegais e ilícitos. Em uma dessas invasões acaba se envolvendo em uma rede de interesses industriais e comerciais do qual não consegue mais ter controle.

Pablo Aluísio.