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domingo, 11 de junho de 2023

Alta Sociedade

Alta Sociedade
Tive o prazer de assistir nesses últimos dias a esse clássico musical da era de ouro em Hollywood. Basta ver os nomes envolvidos na produção para entender que se trata de um excelente filme. A atriz Grace Kelly aqui fez sua última atuação no cinema. Ela resolveu se casar com o príncipe de Mônaco e abandonou sua carreira em Hollywood. Que pena! Ainda era tão jovem e certamente teria muitos anos de atividade no cinema, mas enfim, cada um é dono de seu próprio destino. Na tela ela interpreta uma jovem mimada de família rica. Ela está prestes a se casar pela segunda vez na linda mansão da família. Tudo parece correr bem, mas logo problemas surgem no horizonte. 

Seu primeiro marido, interpretado pelo cantor Bing Crosby, decide aparecer em sua mansão nas vésperas do casamento de sua ex. Ele ainda a ama e não perde a oportunidade de relembrá-la dos bons momentos que viveram juntos, inclusive cantando o clássico "True Love" que foi um dos grandes sucesso da época em que o filme foi lançado. Outro cantor famoso, Frank Sinatra, interpreta um jornaista bisbilhoteiro que trabalha numa revista de fofocas. Ele quer descobrir tudo sobre as novas núpcias da protagonista. Cínico e petulante, aproveita também para ir apresentando suas canções entre uma cena e outra. E dois dos maiores cantores do século XX fazem um belo dueto juntos. Só isso já valeria pelo filme inteiro. Achou pouco? Que tal o talento de Louis Armstrong e sua banda como brinde? E não podemos esquecer que toda a trilha sonora foi composta pelo gênio Cole Porter. Nada mal, não é mesmo?

Um fato que me chamou atenção na despedida de Grace Kelly do cinema é que sua personagem saiu do tipo habitual do que ela costumava interpretar. Grace sempre interpretava loiras elegantes, quase gélidas. Sua personagem aqui tem muita personalidade, é espevitada, gosta de criar situações engraçadas e até mesmo toma um porre daqueles na noite anterior ao seu próprio casamento, claro dando um vexame enorme na frente dos convidados. Quem poderia imaginar algo assim? Enfim, um belo filme, lindamente fotografado, com trilha acima do sublime e cenários requintados e glamorosos. Pois é, esse tipo de classe, elegância, graça e glamour o cinema americano certamente perdeu com o passar dos anos. 

Alta Sociedade (High Society, Estados Unidos, 1956) Direção: Charles Walters / Roteiro: John Patrick, Philip Barry / Elenco: Bing Crosby, Grace Kelly, Frank Sinatra, Louis Armstrong, John Lund, Louis Calhern / Sinopse: Jovem mimada de família rica vai se casar pela segunda vez. Ela planeja uma grande festa, mas logo problemas surgem com a presença de seu ex-marido e de um jornalista que trabalha em uma revista de fofocas. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Música Original (True Love de Cole Porter) e Melhor Trilha Sonora (Cole Porter). 

Pablo Aluísio.


segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

As Cartas de Grace Kelly - Parte 9

Após o lançamento do faroeste Matar ou Morrer, a atriz Grace Kelly virou alvo de fofocas em Hollywood. Havia jornalistas que eram especializados nesse tipo de imprensa marrom. E assim que o filme chegou nos cinemas e virou um grande sucesso de bilheteria, ela também começou a aparecer nas capas de revistas de fofocas. A grande novidade, o grande escândalo, é que ela tinha se envolvido romanticamente com o ator Gary Cooper. Havia dois problemas básicos aí para a sociedade moralista da época. Ele era bem mais velho do que ela e era um homem casado. Uma fofoca dessas poderia prejudicar Grace logo no começo da sua carreira. 

Grace Kelly nessa etapa de sua vida se considerava uma garota liberal, de mente aberta e não se preocupou muito com isso. Mesmo que carreira não desse muito certo no cinema, ela poderia viver como modelo em Nova Iorque tranquilamente. Além disso, era uma garota de família muito rica, aristocrata. Pouco se importou com as fofoquinhas que pulavam de um lado para o outro nas revistas. Ao terminar o filme, ela viajou para Nova Iorque, onde considerava ser o seu lar. Ela só ia em Los Angeles quando era necessário para atuar em algum filme.

Foi então que pintou um convite muito interessante. Produtores de Hollywood queriam que ela atuasse em um filme que era passado na África. Para ser um filme mais bem realista, toda a equipe técnica e o elenco deveriam mesmo viajar para um safári nas terras africanas. Isso por si só já chamou muita atenção de Grace Kelly, pois ela adorava viajar. Nunca havia estado no continente africano e achava tudo muito exótico, interessante. Mesmo que o roteiro não fosse lá grande coisa, só o fato de passar alguns meses fora dos Estados Unidos, em um ambiente que ela nunca esteve antes, já a atraía para ir atuar nessa nova produção.

E aconteceu também algo curioso. Como as revistas de fofoca estavam sempre falando nela, Grace acabou se tornando muito famosa por essa época. Era a velha máxima do "falem mal de mim, mas falem de mim". E as estrelas de Hollywood muitas vezes viviam mesmo de fofocas. Basta lembrar do caso de Marilyn Monroe. Grace também era uma atriz loira buscando estrelato em Hollywood, e tinha que dançar conforme a música tocada. E ela aprendeu que isso significava, muitas vezes, abrir mão de aspectos de sua vida pessoal. Era um jogo de celebridades em curso. E ela tinha toda a vocação do mundo para ser uma celebridade Internacional. Disso ninguém tinha dúvidas.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Disque M Para Matar

Esse filme é outro clássico do mestre do suspense Alfred Hitchcock. Ele criou um excelente clima com um enredo relativamente até bem simples. Na trama temos a figura de Margot Mary Wendice (Grace Kelly). Ela é uma jovem esposa que começa a se decepcionar com seu casamento. A rotina e o tédio acabam destruindo suas esperanças de viver um matrimônio feliz. Após longos anos de união, ela começa a ter um caso amoroso extraconjugal com um grande amor de seu passado, o escritor de romances policiais Mark Halliday (Robert Cummings). Ambos estão muito apaixonados e começam a trocar cartas de amor. Eventualmente uma delas vai parar nas mãos do marido traído, Tony (Ray Milland).

Fingindo não saber de absolutamente nada, ele então planeja uma forma de matar a esposa infiel para de quebra se tornar o único herdeiro de sua fortuna. Para colocar em prática sua artimanha criminosa, resolve chantagear um antigo colega de universidade, Swan (Anthony Dawson), que agora vive de explorar mulheres idosas, ricas e solitárias. Enquanto se garante com um álibi, em um evento social, seu comparsa deve entrar em sua casa para asfixiar sua esposa, tentando passar a ideia de que tudo foi apenas um roubo mal sucedido. No começo tudo ocorre bem até que algo acaba não saindo como havia sido inicialmente planejado.

Que Alfred Hitchcock foi um dos grandes gênios do cinema ninguém mais duvida. O diretor tinha um talento incomum para contar enredos sórdidos de uma maneira toda especial. Na superfície, seus personagens viviam em uma espécie de conto de fadas moderno, onde todos eram ricos, felizes e bonitos. Por debaixo dessa aparente normalidade se escondia os mais terríveis sentimentos mesquinhos. Veja o caso do casal formado por Mary (Kelly) e Tony (Milland). Ela é uma bem sucedida mulher, loira e linda, que não desperta suspeitas. Todos pensam ser a esposa ideal. Ele é um ex-tenista, agora aposentado, que se diz muito feliz em se dedicar completamente à esposa e seus caprichos. Um casal realmente perfeito a admirável. Isso é o que a sociedade pensa ser a verdade.

Por debaixo de tudo se esconde uma mulher infeliz com seu casamento de fachada, a ponto de nutrir um amor secreto e inconfessável. Na verdade ela não sente nenhum carinho ou afeição pelo marido e morre mesmo de amores por um antigo amor, um escritor de tramas policiais. Como não pode assumir esse seu sentimento proibido publicamente, começa a ter encontros escondidos com o amante. O marido, que sempre aparentou ser um homem muito educado e fino, um verdadeiro gentleman, acaba descobrindo a traição de sua jovem esposa, mas ao invés de se divorciar em um escandaloso rompimento perante a sociedade ele resolve ir por um caminho mais sutil e... fatal. Ele entra em contato com um antigo conhecido da universidade, um sujeito que não conseguiu se dar bem na vida, vivendo de pequenos e grandes golpes, explorando mulheres velhas e ricas. Um verdadeiro escroque.

A intenção é clara, o sujeito deve matar sua esposa infiel, em sua própria casa, enquanto ele, o marido, surge numa festa, na frente de todos, o que o livraria de uma eventual acusação de tê-la matado. Para atrair ela até um quarto escuro de sua casa, onde o assassino cometerá o crime, Tony usa o telefone. Assim que Margot o atender deverá ser assassinada. Aqui Hitchcock expõe todos os detalhes do plano e depois dos acontecimentos que vão surgindo em decorrência de vários imprevistos. O personagem Tony (Ray Milland) é extremamente inteligente e consegue armar contra todos, inclusive enganando os experientes inspetores da polícia. Tudo acaba caminhando muito bem, mesmo que por linhas tortas, até um pequeno, quase invisível detalhe, colocar tudo a perder. Esse roteiro pode ser descrito como um intrigado caso criminal, baseado muitas vezes em um tipo de suspense mais intelectual, apelando quase sempre para a perspicácia do espectador, que deve ficar bem atento para não perder nenhum detalhe. Nesse aspecto é certamente um dos grandes filmes da carreira do mestre. É um clássico absoluto do suspense na história da sétima arte.

Disque M Para Matar (Dial M for Murder, Estados Unidos, 1954) Estúdio: Warner Bros / Direção: Alfred Hitchcock /Roteiro: Frederick Knott / Elenco: Grace Kelly, Ray Milland, Robert Cummings, John Williams, Anthony Dawson / Sinopse: Marido planeja matar a esposa infiel contando com a colaboração de um amigo. Tudo é minuciosamente planejado. Porém dar certo como previsto já seria uma outra história completamente diferente. Filme indicado ao BAFTA Awards na categoria de Melhor Atriz (Grace Kelly).

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Janela Indiscreta

Outro clássico absoluto da filmografia do mestre Alfred Hitchcock. O enredo é relativamente bem simples. Depois de sofrer um acidente durante um trabalho, onde acaba quebrando sua perna, o fotógrafo L.B. 'Jeff' Jefferies (James Stewart) fica imobilizado em seu apartamento em Nova Iorque. Para passar o tempo e matar o tédio ele começa a observar de sua janela a rotina de seus vizinhos. Há de tudo. Uma solteirona desesperada e deprimida para arranjar o amor de sua vida; um casal em pleno fogo de lua de mel; uma bailarina bonita que é cortejada por vários pretendentes; um compositor que passa os seus dias ao piano e... um vendedor que supostamente teria matado a própria esposa durante a madrugada! Após presenciar atos bem estranhos dele, Jeff se convence que ele matou a mulher, a esquartejou e colocou partes de seu corpo numa mala. Realidade ou pura ilusão de sua mente?

Após ler um conto de suspense e mistério escrito por Cornell Woolrich, o diretor Alfred Hitchcock decidiu que iria realizar uma versão cinematográfica daquela estória. Obviamente não seria algo fácil. O texto era pequeno, simples e se baseava em apenas uma situação: a de um homem imobilizado, por estar com a perna engessada, que descobria, por acaso, um suposto assassinato no prédio vizinho onde morava. Não havia mesmo muito enredo a se desenvolver, mas Hitchcock era um gênio e acabou realizando uma verdadeira obra prima do cinema. A simplicidade do texto original foi mantida, mas Hitchcock começou a jogar com as situações vividas por seu protagonista, tirando dos pequenos detalhes as maiores qualidades do filme.

Tudo está lá. A atitude voyeur do fotógrafo, sua bisbilhotice inconveniente e condenável, sua hesitação em casar com a noiva, uma jovem linda, rica e maravilhosa (interpretada por Grace Kelly) e por fim sua incapacidade de controlar as situações que vão acontecendo diante de seus olhos. Jeff (o personagem de James Stewart) é um homem de ação, que viveu toda a sua carreira viajando para os lugares mais distantes. Agora ele está impedido de agir por causa da situação em que se encontra. Hitchcock assim mistura ansiedade, imobilismo e suspense em um mesmo caldeirão. O resultado é primoroso. Em termos de linguagem cinematográfica o diretor conseguiu trazer o melhor de si para o espectador. Ele utiliza de todas as formas de narrativa disponíveis na época para deixar o público se sentindo como parte de tudo o que acontece na tela.

Também usa, com muita competência, a linguagem subjetiva, principalmente quando o protagonista Jeff espia o que está acontecendo ao redor de sua janela. Nesse caso a visão do personagem é a mesma do público. A ideia é dar a todos as mesmas sensações que o fotógrafo sente, onde tudo vê, mas nada pode realmente fazer. Uma posição passiva que causa o desconforto que o cineasta quer passar. Por tudo isso e muito mais esse é um clássico da filmografia de Alfred Hitchcock que merece ser sempre revisto. E para aqueles que gostam de achar as pequenas pontas que o próprio Hitchcock gostava de fazer em seus filmes, repare no quarto do compositor. Bem ao lado do pianista lá está a figura inconfundível do grande mestre do suspense. Mais divertido, impossível.

Janela Indiscreta (Rear Window, Estados Unidos, 1954) Estúdio: Paramount Pictures / Direção: Alfred Hitchcock / Roteiro: John Michael Hayes / Elenco: James Stewart, Grace Kelly, Wendell Corey, Thelma Ritter, Raymond Burr, Georgine Darcy / Sinopse: O filme acompanha L.B. 'Jeff' Jefferies (James Stewart). Imobilizado em uma cadeira de rodas após sofrer um acidente ele começa a espiar seus vizinhos, apenas para matar o tédio. Só que acaba descobrindo algo terrível acontecendo do lado de fora de sua janela. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Direção (Alfred Hitchcock), Roteiro (John Michael Hayes), Fotografia (Robert Burks) e Som (Loren L. Ryder).

Pablo Aluísio.

Ladrão de Casaca

Talvez o filme mais atípico da carreira de Alfred Hitchcock. Segundo algumas biografias isso se deu por um motivo básico: o diretor estava apaixonado pela estrela Grace Kelly (com quem havia trabalhado em "Disque M Para Matar" e "Janela Indiscreta") e por essa razão aceitou dirigir esse filme muito soft, centrado muito mais no romance do que propriamente no suspense, que era a marca registrada do cineasta. A imprensa da época inclusive chegou a ironizar chamando "Ladrão de Casaca" de "Champanhe Hitchcock". Não há como negar que a produção é muito bonita e bem realizada. Inovando em várias novas tecnologias (Widescreen e Vistavision) o filme foi realmente considerado bem revolucionário nesse aspecto.

Curiosamente o estúdio escalou o veterano galã Cary Grant para fazer o par romântico com a jovem e linda Grace Kelly. Grant estava às portas de se aposentar quando fez o filme. O sucesso de bilheteria acabou dando uma renovada em sua carreira como um todo e ele resolveu voltar para fazer mais filmes nos anos seguintes (com resultados irregulares). Foi filmando "Ladrão de Casaca" que Grace Kelly conheceu o príncipe Rainier de Mônaco. Há tempos ele procurava se envolver com alguma estrela de Hollywood para levantar seu pequeno principado que estava decadente. Chegou inclusive a sondar o mito Marilyn Monroe que não quis nada com o nobre por lhe achar muito feio e sem atrativos. Grace Kelly porém não pensou assim e começou um romance com Rainier, algo que perturbou o velho Hitchcock pois ela logo anunciaria o fim de sua carreira no cinema para se dedicar apenas ao seu futuro marido. O diretor jamais se perdoou quando soube disso!

Talvez por essa razão o velho Hitchcock tenha depois espinafrado tanto o filme, afirmando que era o que menos apreciava em sua carreira. De fato o cineasta realmente fez muitas concessões em prol de Grace Kelly, fugindo até bastante de suas principais características como diretor. Quando ela o deixou para se casar com Rainier ele interpretou isso quase como uma traição pessoal. Anos depois tentaria trazer Grace Kelly de volta para estrelar Marnie, um de seus filmes menos inspirados, mas ela novamente recusou. Como dito "Ladrão de Casaca" não consegue se sobressair no meio de tantos outros clássicos do mestre do suspense. O filme tem um tom muito ameno, beirando o sentimentalismo exacerbado, o que destoa do restante da obra de seu criador. De bom mesmo ficaram apenas as maravilhosas locações da Rivieira Francesa que foram magnificamente fotografadas e a nostalgia de ver a beleza insuperável de Grace Kelly, no auge de seu esplendor. Como suspense em si o filme deixa a desejar. O tema também passa longe da sordidez reinante em outros filmes de Hitchcock. Mesmo assim é impossível não se render a todo o charme e elegância que desfilam pela tela. Nesse quesito a dupla central de atores realmente era insuperável. Se não é um dos melhores filmes de Hitchcock, pelo menos fica longe das mediocridades que se produzem hoje em dia. Assista sem medo de se arrepender. 

Ladrão de Casaca (To Catch a Thief, Estados Unidos, 1955) Direção: Alfred Hitchcock / Roteiro: John Michael Hayes, Alec Cooper baseados no livro de David Dodge / Elenco: Grace Kelly, Cary Grant, Jessie Royce Landis, Brigitte Auer, Charles Vanel, John Williams, Georgette Anys, Jean Martinelli, Roland Lesaffre / Sinopse: John Robie (Cary Grant) é um veterano ladrão de jóias aposentado que vive tranquilamente na bela Riviera Francesa. Apelidado em seus dias de fama como "O Gato" ele agora começa a ficar intrigado por uma série de roubos recentes na região que repetem o seu conhecido modus operandi. Para provar sua inocência e pegar o novo ladrão o antigo “Gato” resolve voltar à ativa.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Mogambo

Esse é um clássico do gênero "Aventura na África". Uma produção com um elenco estelar da era de ouro do cinema clássico de Hollywood. No enredo um caçador americano no continente africano, Victor Marswell (Clark Gable), é contratado pelo pesquisador Donald Nordley (Donald Sinden) para comandar um safári nas montanhas remotas onde vivem gorilas selvagens. Donald quer registrar o comportamento desses animais em seu habitat natural, os filmando na natureza. Victor inicialmente não acha uma boa ideia pois poucos homens estiverem naquele lugar distante, porém acaba aceitando a generosa oferta. O que o cientista Donald nem desconfia é que sua própria esposa, Linda Nordley (Grace Kelly), está se apaixonado cada vez mais por Victor. Para concretizar seu romance porém ela terá que passar por cima de Eloise Y. Kelly (Ava Gardner), uma dançarina de night club, que também está perdidamente apaixonada por Victor.

John Ford deu um tempo em seus clássicos de western para se arriscar no gênero aventura nessa produção. O resultado foi esse "Mogambo", certamente um bom filme, mas que jamais pode ser comparado com obras primas como "Rastros de Ódio" ou "Rio Bravo". O enredo se passa numa África ainda colonial e praticamente inexplorada. É lá que vive o personagem de Clark Gable, um veterano caçador branco que captura animais exóticos para vendê-los a circos e zoológicos de todo o mundo. Sua rotina de trabalho acaba mudando completamente com a chegada de uma dançarina americana chamada Eloise (Ava Gardner) que realizou uma longa viagem dos Estados Unidos até a África pensando que iria encontrar um milionário indiano, mas acaba se dando mal ao saber que ele foi embora uma semana antes de sua chegada.

Imediatamente Eloise se apaixona por Victor, porém as coisas não saem como ela queria. Victor torce o nariz ao saber que ela era uma dançarina de boates. Pior do que isso, começa a tratar a garota com um certo desdém (a ponto de dizer a um de seus amigos que ela na verdade seria uma "mulher de todos os homens!"). Nada aliás poderia sair mais diferente de Eloise do que a também recém chegada Linda (Grace Kelly). Loira, linda, recatada e educada, com extrema finesse, ela sim se mostra a mulher que Victor gostaria de ter ao seu lado. Infelizmente para o velho caçador há um problema: Linda já é casada, justamente com o homem que o contratou para um safári rumo às montanhas, em busca de gorilas selvagens.

É verdade que o roteiro acaba se rendendo ao moralismo da época em seus momentos finais, mas nem isso estraga "Mogambo". Ford já havia demonstrado em seus faroestes que ele conseguia com muito brilho tanto dirigir um bom filme de entretenimento como também desenvolver psicologicamente bem todos os seus personagens. Não havia espaço para papéis rasos e sem sentido em seus filmes. Não é à toa que até hoje ele é considerado um mestre, um verdadeiro gênio da sétima arte. "Mogambo" tem um elenco maravilhoso, com três grandes estrelas da época, e um roteiro extremamente bem escrito. Dito isso também temos que reconhecer que o tempo também cobrou seu preço. O tempo, como diria o provérbio, é o senhor da razão. O que era normal há 60 anos hoje já não soa tão comum.

O filme mistura cenas rodadas em estúdio com filmagens reais realizadas por Ford e sua equipe de segunda unidade no continente africano. Não poucas vezes as duas filmagens são mescladas em edição. Nem sempre isso funciona. As imagens capturadas na África não possuem, por exemplo, a mesma qualidade das cenas que foram realizadas em estúdio com os atores. Por isso a diferença de uma para outra se torna muito perceptível ao espectador. Tecnicamente o filme envelheceu mal. Pode parecer que algo assim seria um excesso de zelo, porém é um fator que envelheceu dramaticamente, tornando o filme de Ford menor do que ele realmente era. De qualquer forma o que temos aqui é certamente um clássico do gênero aventura nas selvas. Com a genialidade de John Ford não era de se esperar nada muito diferente disso.

Mogambo (Mogambo, Estados Unidos, 1953) Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) / Direção: John Ford / Roteiro: John Lee Mahin, Wilson Collison / Elenco: Clark Gable, Grace Kelly, Ava Gardner, Donald Sinden / Sinopse: Pesquisador da vida selvagem contrata um caçador para levá-lo a uma montanha onde vivem gorilas selvagens. No meio da expedição sua esposa acaba se apaixonando pelo caçador. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Atriz (Ava Gardner) e Melhor Atriz Coadjuvante (Grace Kelly). Vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz (Grace Kelly).

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Matar ou Morrer

Will Kane (Gary Cooper) é um xerife de uma pequena cidade do oeste. Após ser informado que bandidos estão chegando no local ele tenta recrutar alguns cidadãos para lhe ajudar a enfrentar os facínoras, mas a ajuda é negada pelos moradores locais. Sozinho e abandonado à própria sorte, ele decide enfrentar o bando que está prestes a chegar na cidade apenas com sua bravura e dignidade de homem da lei. Esse foi o filme da vida do ator Gary Cooper e isso, meus amigos, não é pouca coisa já que Cooper foi um dos maiores nomes da história do cinema americano.

Grace Kelly, na flor da idade, esbanja beleza e charme. No elenco de apoio duas curiosidades para os cinéfilos: Lee Van Cleef, que se tornaria um dos "vilões" mais recorrentes em filmes de western nos anos seguintes e Lon Chaney Jr, isso mesmo, o Lobisomen em pessoa dos antigos filmes de terror. Ele aliás tem ótima cena ao lado de Cooper em que diz que "as pessoas não se importam realmente com honra e e justiça". A produção do filme é minimalista. O interessante é que tudo o que foi preciso para contar a estória do filme foi a cidade cenográfica (até bastante despojada) e a estação de trem. Nada mais. É o típico caso em que a produção se resguarda para não atrapalhar o clima psicológico em que vive o xerife naquele momento crucial que antecede a chegada dos pistoleiros na cidade.

O roteiro segue em tempo real (uma grande novidade na época). Embora o enredo em si pareça simples, na realidade não é. Seu subtexto traz diversas leituras, inclusive sobre a hipocrisia que reina em toda comunidade humana. Muito interessante, vale a pena procurar e descobrir as diversas entrelinhas que o argumento tenta passar aos espectadores. A direção do filme é simplesmente excelente, Fred Zinnemann realmente era craque, um cineasta de mão cheia. Existe uma determinada cena que ilustra bem como sua direção é inspirada. Enquanto o xerife caminha pela cidade vazia a câmera dá um travelling e sobe, mostrando toda a solidão e abandono do personagem naquele momento. "Matar ou Morrer" é seguramente um dos maiores clássicos do western americano. Um filme obrigatório.

Matar ou Morrer (High Noon, Estados Unidos, 1953) Direção: Fred Zinnemann / Roteiro: Carl Foreman inspirado na estória "The Tin Star" de John W. Cunningham / Elenco: Gary Cooper, Grace Kelly, Thomas Mitchell, Lee Van Cleef, Lon Chaney Jr / Sinopse: Will Kane (Gary Cooper) é um xerife de uma pequena cidade do oeste. Após ser informado que bandidos estão chegando no local ele tenta recrutar alguns cidadãos para lhe ajudar a enfrentar os facínoras mas a ajuda é negada pelos moradores locais. Sozinho e abandonado à própria sorte ele decide enfrentar o bando que está prestes a chegar na cidade apenas com sua bravura e dignidade de homem da lei. Filme premiado pelo Oscar nas categorias de Melhor Ator (Cooper), Melhor Edição, Melhor Música original (High Noon (Do Not Forsake Me, Oh My Darlin')  e Melhor Trilha Sonora Incidental (Dimitri Tiomkin). Também indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro.

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 24 de abril de 2019

As Cartas de Grace Kelly - Parte 8

Quando a atriz Grace Kelly casou com o príncipe Rainier de Mônaco ela pensou que estava realizando o sonho de toda jovem, se tornando a princesa de um lindo principado europeu. Era um conto de fadas! A realidade de Monte Carlo porém era bem diferente do que ela pensava. O pequeno principado na verdade estava falido. Os hotéis viviam vazios, os restaurantes só eram frequentados por algumas velhinhas francesas aposentadas e os cassinos viviam praticamente às moscas. Grace ainda não havia entendido que seu casamento no fundo havia sido um grande golpe publicitário para levantar aquele outrora point turístico do passado.

De uma forma ou outra o fato da princesa ser Grace Kelly acabou chamando o interesse novamente para aquela região que parecia meio esquecida, afundada em dívidas. Navegando pela costa de Mônaco em seu maravilhoso iate Christine o milionário Aristóteles Onassis se interessou em conhecer melhor aquela pequenina monarquia, muito por causa da interessante história de Grace Kelly. Empreendedor nato ele viu que do ponto de vista capitalista tudo andava bem decadente. Como era um investidor sagaz Onassis resolveu que iria investir em Mônaco, a começar pelo country club que estava desativado, às moscas. No passado ele havia gostado de jogar golfe ali e ficou realmente desolado de ver que toda aquela beleza natural estava abandonada e esquecida.

Grace Kelly o conhecia desde os tempos de Hollywood e viu que seria ótimo que Onassis investisse em Mônaco, dando todo o apoio possível para seu desejo de investir lá. O curioso é que a empresa que administrava o desativado Country Club não gostava de Onassis e por isso recusou todas as propostas de venda do lugar. Inconformado e se recusando a ser esnobado Onassis resolveu comprar a própria empresa que insistia em lhe dizer não. Só assim ele teria total controle do Country Club de Mônaco. Depois disso não parou mais, comprou hotéis, cassinos e restaurantes. Muito do renascimento de Mônaco se deveu a Onassis que dizem as más línguas fez tudo isso porque nutria uma paixão platônica por Grace Kelly (quem poderia lhe culpar por algo assim?)

Assim Grace e Rainier não apenas ficaram gratos pela força milionária em Mônaco por parte de Onassis como também se tornaram amigos dele e de sua companheira, a cantora lírica Maria Callas. Com o dinheiro do rico Onassis a cidade resplandeceu e começou a novamente atrair turistas, especialmente americanos. Isso trouxe divisas, empregos e riqueza para Monte Carlo. Muitas e muitas vezes para celebrar os bons negócios Onassis convidava Grace Kelly e seu marido para longos passeios no iate Christine. Não era um barco comum, era o maior iate particular do mundo. Certa vez Onassis comentou com Grace Kelly que a embarcação tinha doze suítes de luxo, mas que viviam vazias. Intrigada Grace perguntou porque viviam vazias, sem ninguém, ao que Onassis respondeu: "Não existem doze pessoas interessantes no mundo que me faça querer compartilhar meu tempo e minha privacidade com elas".

Pablo Aluísio.

As Cartas de Grace Kelly - Parte 7

Grace Kelly (1929 - 1982) foi uma das mais belas atrizes de Hollywood. Preferida do mestre Alfred Hitchcock estrelou um de seus grandes clássicos, "Ladrão de Casaca". Foi vencedora do Oscar de Melhor Atriz em 1954 por "Amar é Sofrer". No começo de sua carreira foi modelo de sucesso em Nova Iorque. Logo se tornou um ícone da moda. Entretanto o sucesso nas revistas da moda não a interessavam tanto como o mundo do cinema. Obviamente que naqueles tempos havia um preconceito contra mulheres que se dedicavam à carreira de atriz em Hollywood. E Grace Kelly tendo nascido em uma família rica e tradicional enfrentou preconceitos ainda mais fortes e presentes. Mesmo assim passou por cima de tudo e enfrentou o desafio de ser uma atriz.

Grace Kelly foi atriz na era de ouro do cinema dos Estados Unidos. Tinha o tipo certo para isso. Era um tempo em que os estúdios estavam atrás de rainhas da beleza para os filmes. A beleza era fundamental nesse aspecto. Quanto mais belas, maiores eram as chances de emplacar uma carreira de sucesso na capital do cinema. Porém não era apenas isso que contava. E Grace sabia disso, por isso procurou estudar a profissão de atriz, frequentou cursos de arte dramática, tanto em Nova Iorque como em Los angeles para onde se mudou por causa da carreira.

E assim ganhou a confiança de grandes diretores de cinema, entre eles Alfred Hitchcock que com ela rodou alguns de seus maiores clássicos. Em "Janela Indiscreta" explorou na atriz a figura da mulher fiel, que sempre estava pronta a apoiar seu companheiro, mesmo quando ele colocava na cabeça que havia um crime sendo planejado e executado no apartamento vizinho. Já em "Ladrão de Casaca" o diretor a escalou para ser uma das peças de seu tabuleiro. Na rica Mônaco um jogo de roubo e charme era jogado e pelas mesmas pessoas, imagine você!

Depois de trabalhar com Hitchcock ela estava pronta para trabalhar com qualquer direitor, mas no final de tudo trocou sua carreira por uma coroa, na mesma Mônaco onde havia filmado seu filme com o mestre do suspense. Dizem que anos depois iria se arrepender de suas escolhas, mas será mesmo? De certa maneira ela trocou mesmo a insegurança de uma carreira de atriz, por mais bem sucedida que fosse, pela posição de esposa do monarca, de princesa de Mônaco. Que bela jovem de sua época não queria ser uma princesa de verdade? Era a concretização de um conto de fadas!

Pablo Aluísio.

terça-feira, 23 de abril de 2019

As Cartas de Grace Kelly - Parte 6

Em 1951 Grace Kelly aceitou o convite para ir até Hollywood filmar um novo faroeste que iria se chamar "Matar ou Morrer". Ela teve um certo desejo de não aceitar o convite porque afinal de contas estava se dando muito bem em Nova Iorque, trabalhando como modelo e como atriz em peças na Broadway e em teleteatros filmados que eram exibidos nos canais de TV. Tudo corria maravilhosamente perfeito, mas seu agente lhe disse que um convite como aquele não poderia ser recusado. Outro ponto que a fez recuar um pouco foi o fato de que o filme seria um faroeste ao velho estilo, estrelado pelo astro do gênero Gary Cooper. Ela não tinha pretensões de fazer filmes desse estilo. Porém, mesmo com certa hesitação, ela terminou assinando o contrato para fazer o filme.

Assim, até meio a contragosto, ela finalmente arranjou três semanas livres e voou até Los Angeles. Acabou encontrando um set de filmagens com um diretor muito estressado pois o cineasta Fred Zinnemann era detalhista ao extremo, No elenco ela encontro um amigo, o ator Gary Cooper, que aos 51 anos era um veterano das telas, com décadas de carreira em Hollywood. Enquanto isso Grace era apenas uma novata esforçada, aos 21 anos de idade. Apesar da diferença de gerações (afinal ele tinha idade para ser o pai dela), as coisas fluíram muito bem entre eles. O que começou com uma amizade sincera entre dois colegas de trabalho acabou se tornando algo mais.

Grace Kelly levou o romance das telas para a vida real. Ela teve um romance com o cinquentão Cooper, que dono de uma personalidade bem tímida e retraída, nunca ficou muito confortável com aquela situação. Na verdade o ator ficou em dúvida se aquela jovem queria tirar algum proveito dele ou se realmente tinha um verdadeiro sentimento no relacionamento que começou bem no meio das filmagens. De uma forma ou outra o próprio Cooper resolveu acabar com o breve romance. Ele disse a Grace Kelly, já perto do fim das filmagens, que já tinha vivido muito para saber que algo como aquilo não tinha muito futuro. Assim de forma educada e gentil resolveu encerrar o romance. Ele gostava de cultivar a imagem de homem honrado dentro da comunidade em Hollywood. Um caso com uma atriz tão jovem não iria pegar bem.

Nos anos que viriam Grace Kelly iria se relacionar com muitos atores com quem trabalharia. Ela parecia ter um tipo de fetiche em namorar os grandes astros de Hollywood, por isso acabou ficando conhecida por ser muito namoradeira na época. Só um grande astro resistiu ao seu charme. Apesar de todos os esforços Grace Kelly não conseguiu conquistar o homem que ela considerava perfeito: Rock Hudson. Grace ficou apaixonadíssima por ele, pois era alto, bonito e tinha um ótimo carisma, se revelando simpático e muito acessível. O que Grace não sabia (poucos sabiam disso em Hollywood) era que Hudson era gay e escondia isso do estúdio e do público em geral. Afinal segredos eram para ser bem guardados.

Pablo Aluísio.

As Cartas de Grace Kelly - Parte 5

Em 1951 Grace Kelly finalmente estreou em Hollywood no filme "Horas Intermináveis" de Henry Hathaway. Era um filme da estética noir, com trama forte e pesada, mostrando um homem em desespero, prestes a cometer suicídio. O elenco era estrelado pelo ator Paul Douglas, cujo sucesso foi efêmero. Hoje em dia poucos se lembram dele, ao contrário de Grace Kelly que estava destinada a ser uma grande estrela. Outro nome interessante no elenco era o de Jeffrey Hunter, que assim como Grace, também estava em um papel coadjuvante.

A personagem de Grace se chamava senhorita Louise Ann Fuller e não tinha maior importância no filme. Isso porém era algo não tão importante, pois o que valia a pena mesmo era tentar se tornar mais conhecida em Hollywood. Em Nova Iorque Grace já tinha uma boa base de contatos no mundo fashion, da moda, e nos episódios de algumas séries de TV. Em Hollywood porém ela ainda tinha que se fazer conhecida.

Apesar de seu primeiro filme ser um noir sem muito orçamento (típico desses filmes da época), a produção ao menos conseguiu chamar atenção suficiente para arrancar uma indicação ao Oscar na categoria de melhor direção de arte. Um crítico de Los Angeles inclusive chegou a elogiar Grace Kelly por causa de sua beleza e boa presença de cena, algo que repercutiu entre os produtores da indústria. O produtor e diretor Stanley Kramer estava escalando o elenco de um novo western que seria estrelado pelo astro Gary Cooper. A direção já havia sido acertada com o mestre Fred Zinnemann. O papel da esposa do xerife Kane estava em aberto. Várias atrizes tinham sido testadas para interpretar Amy Fowler Kane, mas sem sucesso.

Foi então que Kramer pensou em Grace Kelly. Ele havia assistido "Horas Intermináveis" e gostado muito de Kelly no filme. O problema é que ao tentar entrar em contato com seu agente, o produtor descobriu que Grace havia viajado de volta naquela manhã para Nova Iorque. Kelly tinha compromissos na cidade, para atuar em uma série de programas de TV e ensaios para revistas de moda. A sorte da atriz é que a pré-produção de "Matar ou Morrer" (um dos maiores clássicos do western de todos os tempos) também atrasou, fazendo com que ela tivesse tempo de cumprir todos os seus compromissos para só assim voltar para Los Angeles. Esse seria o primeiro grande filme de sua carreira e aquele que mudaria os rumos de sua trajetória de atriz para sempre!

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 22 de abril de 2019

As Cartas de Grace Kelly - Parte 4

Grace Kelly continuou trabalhando como modelo e atriz. Sua primeira peça em Nova Iorque foi muito bem, o que a animou a procurar por outros trabalhos. Uma de suas promessas à família era tentar vencer apenas com seus esforços pessoais, com seu trabalho, sem a necessidade de pedir apoio a sua família aristocrática. E ela estava se saindo muito bem. Grace também não se descuidou dos estudos, ela continuou a levar muito à sério suas aulas de arte dramática.

Em 1950 surgiu um convite novo. Grace foi convidada para aparecer em um episódio da série de TV "Believe It or Not". Era uma experiência nova como atriz, já que até aquele momento ela só havia atuado no teatro, no palco. Será que se daria bem em frente às câmeras? Grace topou o desafio e apareceu no episódio intitulado "The Voice of Obsession".

Tão boa foi a experiência que logo depois surgiu outro convite, também para a TV, para atuar no programa "Actor's Studio". A ideia era muito boa: os jovens atores da famosa escola de arte dramática Actor's Studio em Nova Iorque iriam atuar numa série de adaptações para a TV de peças clássicas do teatro americano e inglês. A TV ainda era uma grande novidade na época e estava se tornando cada vez mais popular. Também abria um novo mercado de trabalho para os profissionais da arte de atuar. Nunca havia sido tão excitante ser ator ou atriz como naquela época de descobertas e novas oportunidades.

Grace Kelly foi então contratada para aparecer em três adaptações: "The Swan", "The Token" e "The Apple Tree". No primeiro acabou interpretando uma princesa russa chamada Alexandra, numa prévia do que iria acontecer em sua vida no futuro, onde ela própria iria se tornar uma princesa da vida real. A exibição desses programas era de costa a costa e seu talento e beleza chamaram a atenção dos estúdios de cinema em Hollywood. O cineasta Henry Hathaway telefonou imediatamente para os executivos da Twentieth Century Fox em Nova Iorque para que contratassem Grace! Ela era linda, talentosa e a pessoa certa para atuar em seu próximo filme "Fourteen Hours". A carreira de Grace Kelly no cinema estava prestes a começar...

Pablo Aluísio.

As Cartas de Grace Kelly - Parte 3

O tio de Grace Kelly, o ator George Kelly, foi o grande incentivador em sua vida para se tornar uma atriz. Ele era o membro excêntrico da aristocrática família Kelly, sempre se tornando o assunto principal nos jantares familiares refinados dos parentes. Era considerado um sonhador com alma de poeta. Os familiares de Grace eram todos grandes profissionais, médicos, advogados, engenheiros de sucesso. Ter um ator no meio de toda aquela gente era realmente uma excentricidade. Todos se perguntavam quem iria herdar a vocação artística de George. Imagine a surpresa dos pais de Grace quando descobriram que a própria filha era a herdeira artística de George Kelly.

Assim que terminou o colegial, Grace decidiu que queria ser atriz. Conversando com seu tio esse lhe aconselhou a ir morar em Nova Iorque onde havia as melhores escolas de teatro, além de um mercado promissor para jovens atores e atrizes. Havia a Broadway, a Off-Broadway e inúmeros teatros independentes espalhados pela cidade. Além disso Grace poderia estudar com os melhores professores de arte dramática do país (e do mundo). Assim, com apenas 19 anos de idade, ela arrumou as malas e foi embora. Seus pais ficaram desconcertados com sua decisão, mas resolveram apoiar na última hora. O tio George deu todos os conselhos para Grace. Ela deveria estudar para ser atriz, mas também deveria procurar por algum trabalho para se sustentar na cidade. Enquanto os papéis não aparecessem, seria bom procurar algo para sobreviver.

Embora fosse filha de uma rica e tradicional família da Pennsylvania, Grace topou o desafio de tentar sobreviver em Nova Iorque com seus próprios esforços. Ela passou a dividir um pequeno apartamento com outras jovens garotas e começou a procurar por trabalho na cidade. Com 1.75m de altura, corpo esbelto, loira e beleza natural, ela começou a visitar agências de modelo. Não demorou muito e seu jeito aristocrático de ser logo chamou a atenção de estilistas que a contrataram. Grace começou a trabalhar como modelo em desfiles e sessões fotográficas. O salário era muito bom e os horários de trabalho eram flexíveis, o que abria margem para ela frequentar o curso de teatro a cinco quadras de seu apartamento.

Anos depois Grace relembraria que em certo momento poderia ter decidido a se tornar apenas modelo em Nova Iorque. Ela conseguia contratos facilmente e ganhava bem. Em algumas sessões para revistas de moda ela chegava a ganhar sete vezes mais do que uma atriz na Broadway. Ser modelo para ela porém era apenas um modo de ganhar a vida. O que ela desejava mesmo era se tornar atriz. Por isso topou o desafio de também fazer inúmeros testes, quase sempre levando um "não" para casa. A sorte mudou quando conseguiu seu primeiro papel em uma peça chamada "O Pai". Ela seria encenada em um dos mais belos e bem frequentados teatros de Nova Iorque. Era um grande passo estar no elenco. Para sua felicidade a peça foi muito bem de crítica e público. Embora bem jovem ainda Grace recebeu uma linha de elogio na crítica que foi publicada no New York Times. Isso poderia fazer toda a diferença do mundo, pois poderia lhe trazer convites para atuar em outras peças teatrais. Dito e feito. Após nove semanas em cartaz Grace começou a ser procurada por produtores. Sua carreira de atriz, pelo jeito, estava começando a decolar.

Pablo Aluísio.

domingo, 21 de abril de 2019

As Cartas de Grace Kelly - Parte 2

As Cartas de Grace Kelly
Grace Kelly nasceu em uma família tradicional da Pennsylvania. Seus antepassados eram alemães que foram para os Estados Unidos em busca de oportunidades e se deram muito bem, se tornando profissionais bem sucedidos. A mãe de Grace era uma mulher muito elegante, fina e sofisticada que falava várias línguas. Ela era disciplinada, estudiosa, desportista e se formou em uma prestigiada universidade. Algum tempo depois se tornou professora nessa mesma instituição. O pai de Grace também era um homem bem sucedido no ramo de negócios. Toda a sua família era extremamente bem estruturada.

Grace era a filha do meio. Ela tinha duas irmãs mais velhas e um irmão mais jovem, o caçula. Por ser a irmã do meio ela não sofreu todas as pressões que as garotas mais velhas sofreram, mas tampouco foi tão mimada quanto o caçula da família. A mãe de Grace desejava que ela fosse para uma prestigiada universidade para estudar medicina. Para isso a matriculou em uma excelente escola católica dirigida por freiras onde apenas moças da alta sociedade estudavam. O ensino era realmente maravilhoso e assim Grace Kelly teve uma educação primorosa.

A mãe de Grace queria que sua família tivesse uma educação prussiana, tal como ela havia sido criada em sua infância e juventude. Isso significa disciplina, boa educação e bons modos. A família Kelly assim era uma das mais requintadas da  Philadelphia, muito bem conceituada dentro daquela sociedade. Todos as irmãs de Grace se tornaram pessoas influentes, bem sucedidas. O futuro parecia traçado por sua mãe, mas ela esqueceu de perguntar para Grace o que a filha queria fazer de sua vida. E Grace queria ser atriz, desde sua adolescência. Ela não queria ser uma médica, para passar o resto de sua vida em um hospital. Ela nem gostava de ambientes hospitalares!

O curioso é que havia artistas na tradicionalíssima família Kelly. A tia de Grace tinha tentando se tornar atriz em sua juventude. Ela até começou a dar certo em sua carreira, mas a pressão familiar falou mais alto e ela acabou largando seus sonhos. Largou a profissão de atriz, que era mal vista dentro do clã, e se casou com um rico homem de negócios. Acabou a vida frustrada, afundando as mágoas na bebida. Sobre ela Grace relembraria: "Pobre titia... Tão talentosa, mas havia nascido na época errada! Havia tanto preconceito contra artistas naqueles tempos!". A maior influência na vida de Grace porém vinha de um tio chamado Georgie. Ele não apenas sonhou em ser ator como se tornou um ótimo profissional de teatro e cinema, mesmo com todas as críticas e as constantes desaprovações dos demais familiares. Era considerado a ovelha negra da família Kelly, um sujeito com fama de ser uma pessoa exótica, sonhadora... Praticamente tudo o que Grace sonhava secretamente se tornar no futuro.

Pablo Aluísio.

As Cartas de Grace Kelly - Parte 1

Após deixar Hollywood para se casar e ser literalmente uma princesa na Europa, Grace Kelly resolveu manter uma boa postura sobre sua despedida do cinema. Ele raramente deu entrevistas ou disse o que achava da capital do cinema mundial. Discreta, procurou evitar polêmicas desnecessárias, afinal de contas uma nobre de sangue azul não poderia se envolver em fofocas e coisas do tipo. Isso ficou guardado a sete chaves até que recentemente várias cartas de Grace Kelly foram divulgadas, trazendo algumas opiniões da atriz sobre os anos em que passou trabalhando para os grandes estúdios americanos.

Esses escritos revelam de certa forma uma dubiedade na opinião dela sobre tudo o que vivenciou em seus anos como atriz famosa e estrela de Hollywood. Ora Grace parece ter uma visão muito ruim e pessimista sobre a indústria, ora parece saudosista e com muitas saudades daqueles anos. Sobre as relações sociais em Hollywood Grace resumiu tudo em uma frase bem mordaz dizendo: "Tenho muitos conhecidos por lá, mas nenhum amigo!". Depois confessou que o clima de se trabalhar naqueles grandes estúdios não era tão glamoroso quanto o público pensava naquela época. Sobre isso ela escreveu a uma amiga confessando: "Hollywood é um lugar sem piedade. Não conheci nenhum outro lugar no mundo com tantas pessoas sofrendo de crises nervosas, com tantos alcoólatras, neuróticos e tanta gente infeliz. Parece sagrada para o público, mas na verdade é mais profana do que o demônio.”

Um aspecto que chamou bastante a atenção de Grace Kelly quando trabalhava em Hollywood e que talvez tenha sido crucial para que ela largasse a vida de estrela veio da observação que teve sobre a realidade das atrizes mais velhas do que ela. Elas tinham sido estrelas do passado, mas agora não tinham mais importância para os produtores. Grace chegou na conclusão de que quanto mais velha se ficava em Hollywood, menos se conseguia bons papéis e bons salários nos filmes em que atuavam. Isso, claro, quando se conseguia trabalho, pois Grace ficava entristecida como certas estrelas do passado eram mal tratadas pelos produtores após a idade chegar para elas. Ele resumiu suas conclusões em uma carta escrita a um amigo jornalista de Nova Iorque que perguntava se um dia ela retornaria para trabalhar em algum filme. Respondendo a ele, Grace escreveu: "Não vou voltar! Conheci grandes estrelas do passado que praticamente imploravam por um papel quando perdiam a beleza e a juventude! Era muito triste! Elas tinham sido grandes estrelas, fizeram com que os estúdios ganhassem milhões com seus filmes, mas depois de muitos anos ninguém mais se importava com elas ou as respeitavam! Eu quero outro futuro para a minha vida!"

A carga de trabalho também não era nenhum passeio como ela bem explicou: "Há alguns anos, quando cheguei a Hollywood, eu começava a fazer a maquiagem às oito horas da manhã. Depois de uma semana o horário foi adiantado para às 7h30. Todos os dias via Joan Crawford, que começava a ser preparada às cinco, e Loretta Young, que já estava lá desde as quatro da manhã! Deus me livre de viver em uma atividade em que tenho de me levantar cada vez mais cedo e levar cada vez mais tempo para poder encarar as câmeras”. De qualquer maneira Grace Kelly nunca chegou a fechar definitivamente as portas para quem sabe um dia voltar para o cinema! Quando Alfred Hitchcock a convidou para voltar para apenas mais um último filme ela lhe respondeu de volta agradecendo, mas explicando que não voltaria tão cedo. Para o mestre do suspense Grace escreveu: “Obrigada, meu querido Hitch, por ser tão compreensivo e atencioso. Odeio decepcionar você! Também odeio o fato de que provavelmente existam muitas outras ‘cabeças’ capazes de fazer esse papel tão bem como eu – Apesar disso, espero continuar a ser uma de suas ‘vacas sagradas”. Nesse trecho Grace fez um trocadilho com uma declaração que Hitchcock havia feito sobre os atores e atrizes com quem havia trabalhado, os comparando com gado! Depois de forma muito terna ela se despediu dizendo: "Com um imenso carinho me despeço querido amigo" (onde acabou destacando bem a palavra “imenso”). Assinado “Grace”.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 26 de maio de 2017

Horas Intermináveis

Título no Brasil: Horas Intermináveis
Título Original: Fourteen Hours
Ano de Produção: 1951
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Henry Hathaway
Roteiro: John Paxton, Joel Sayre
Elenco: Paul Douglas, Richard Basehart, Grace Kelly, Debra Paget, Jeffrey Hunter, Barbara Bel Geddes
  
Sinopse:
A vida não tem mais sentido para Robert Cosick (Richard Basehart). Desesperado por ter perdido tudo, ficando arruinado financeiramente, ele decide subir até o décimo quinto andar de um edifício de Nova Iorque para pular. O policial Charlie Dunnigan (Paul Douglas) é então chamado para atender essa ocorrência e tenta convencer o potencial suicida para que não pule em direção à morte. Filme indicado ao Oscar na categoria Melhor Direção de Arte (Lyle R. Wheeler e Leland Fuller). Também indicado ao BAFTA Awards na categoria Melhor Filme Americano do Ano.

Comentários:
Um filme noir que acabou sendo conhecido por ser o começo das carreiras de atores jovens (e naquela época ainda desconhecidos), que iriam fazer sucesso em Hollywood nos anos que viriam. O caso mais famoso nesse aspecto foi a da estreia de Grace Kelly no cinema, ainda bastante inexperiente, interpretando uma personagem coadjuvante. Jovem e linda, ainda não se sabia que ela iria se tornar uma das maiores estrelas do cinema americano. Além de Grace o elenco de apoio ainda trazia Jeffrey Hunter, que iria se consagrar interpretando Jesus Cristo no épico "Rei dos Reis" e Debra Paget, que se tornaria famosa ao fazer a namorada do roqueiro Elvis Presley em "Ama-me com Ternura" (o faroeste "Love Me Tender"). Ou seja, poucas vezes se viu um elenco jovem tão promissor como nesse filme. Em termos gerais é um suspense noir que se baseia em uma situação limite que dura intermináveis 14 horas, onde um homem em desespero ameaça se suicidar, pulando do décimo quinto andar de um prédio em Nova Iorque. Enquanto ele ameaça pular ou não, um policial tenta convencê-lo a não fazer isso. A história foi baseada em fatos reais. Durante a grande depressão muitas pessoas perderam tudo na quebra da bolsa de valores de Nova Iorque e se suicidaram. O filme assim romanceia um desses casos que terminou de forma trágica.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Janela Indiscreta

Nessa última semana decidi rever dois filmes do mestre Alfred Hitchcock. Fazia bastante tempo desde que os havia assistido pela última vez (alguns deles há mais de vinte anos!) e por essa razão achei uma boa ideia revê-los. Afinal de contas qualquer filme assinado por Hitchcock vale muito a pena rever, sob qualquer ponto de vista. Os dois que escolhi  foram os clássicos absolutos "Um Corpo Que Cai" e "Janela Indiscreta". Em minha memória havia gostado muito mais do primeiro do que do segundo. A impressão que tinha de "Vertigo" era muito mais sólida, mais forte, mais consistente.

Nessa revisão tardia acabei me surpreendendo pois adorei muito mais rever "Rear Window"! Embora "Um Corpo Que Cai" tenha um roteiro bem mais complexo e coeso, com ótimas tomadas externas e variedade maior de situações e cenários (com um ótimo final), "Janela Indiscreta" nos pega por sua extrema criatividade e originalidade. Para quem nunca viu ou não se lembra o filme conta a estória (simples) de um fotógrafo profissional (interpretado pelo grande James Stewart) que fica preso numa cadeira de rodas em seu apartamento após quebrar sua perna. Sem ter o que fazer para passar o tédio ele começa a espiar com uma câmera seus vizinhos de prédio (em uma maravilhosa recriação em estúdio de um típico condomínio de apartamentos residencial de Nova Iorque). Sim, ele se torna um voyeur da vida alheia!

E assim ele vai conhecendo os tipos mais variados. Há uma senhorita muito solitária e deprimida que passa os seus dias a idealizar o encontro romântico de seus sonhos, o jovem casal em lua de mel, a dançarina bonitona que é cortejada por um batalhão de pretendentes, um estranho casal que dorme na sacada de seu apê, usando uma cesta para descer seu cachorrinho de estimação até o pátio lá embaixo e por fim um velho casal que aparenta toda a saturação de um casamento em frangalhos que vai se arrastando por anos e anos. A esposa está inválida sobre uma cama e seu marido, um vendedor cansado da vida, não parece ter mais paciência para cuidar dela. É a massacrante rotina de uma vida ordinária cobrando seu preço.

É justamente sobre eles que as lentes de Stewart começam a prestar mais a atenção pois durante uma noite chuvosa ele acaba se convencendo que o homem matou sua esposa, a cortou em pedaços e colocou seus restos mortais em várias malas que ele vai tirando de seu apartamento aos poucos, durante as madrugadas! Chocante demais para você? Não para o mestre do suspense... Claro que o assassinato deixa alarmado o personagem de Stewart, mas nem seu velho amigo da guerra acredita em sua versão dos fatos. Para o velho tira seu colega está apenas entediado, inventando estórias em sua própria cabeça! Assim o roteiro joga o tempo todo com a dualidade sobre o que de fato estaria acontecendo... Teria havido realmente um crime ou tudo não passaria de uma maluquice na mente entediada do protagonista? Perceba que com tão pouco em mãos o grande Hitchcock acabou criando uma verdadeira obra prima do suspense, inclusive com toques de fino humor negro! E como se isso tudo ainda não bastasse o filme ainda traz a beleza eterna de Grace Kelly no auge de sua juventude e carisma! Dizem que o velho diretor ficou caidinho por ela - completamente apaixonado! Quem poderia condená-lo? Absolutamente ninguém...

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Mogambo

Aproveitei a noite de ontem para conferir mais um clássico. O filme em questão foi Mogambo, produção de 1953 dirigida pelo mestre John Ford. Conhecido e consagrado pelos filmes de western que realizou ao lado de John Wayne, Ford aqui mudou de ares, trocando o deserto do velho oeste pelas planícies sem fim da África selvagem. O grande atrativo para o cinéfilo nem vem tanto dessa diversidade, mas sim do maravilhoso elenco que Ford conseguiu reunir. Ele teve sob sua direção três grandes estrelas de Hollywood: Clark Gable, Grace Kelly e Ava Gardner! Poucos filmes da época conseguiram reunir uma constelação como essa.

O galã Gable interpreta um grande caçador branco chamado Victor Marswell; Ele tem um posto avançado no continente africano. Ao lado de sua equipe ele caça animais raros (como uma pantera negra) para vender para circos e zoológicos ao redor do mundo. O negócio prosperou tanto que Vic resolve em determinado momento também alugar sua experiência para safáris pela selva adentro. O pesquisador de grandes primatas Donald Nordley (Donald Sinden) resolve então contratar seus serviços. Donald quer que Victor comande uma expedição rumo às montanhas dos gorilas onde pretende recolher dados sobre o habitat onde vivem esses animais. O problema é que Donald também está acompanhado de sua bela esposa, a educada e delicada Linda (Grace Kelly). Talvez por estar com o casamento em crise ou por pura atração o fato é que Linda acaba se apaixonando por Victor, bem no meio do safári e bem debaixo do nariz do próprio marido!

Para completar o triângulo amoroso improvável ainda há a presença de Eloise Y. Kelly (Ava Gardner). Ela é uma dançarina americana de night clubs em Nova Iorque que foi até a África encontrar um sultão rico. O problema é que o tal milionário foi embora antes da hora e Kelly ficou a ver navios. Sem ter para onde ir ela acaba indo parar na propriedade de Victor que resolve lhe acolher enquanto o próximo barco em direção à civilização não chega. Pronto, fica assim armado todo o drama romântico do filme. Kelly ama Victor que por sua vez se sente atraído por Linda, mesmo sendo ela casada. John Ford teve habilidade suficiente para desenvolver todos esses romances ao mesmo tempo em que desenvolve uma boa aventura. Há muitas cenas reais das paisagens e animais africanos, mas a grande maioria delas foram realizadas por uma segunda unidade, sem a presença do elenco. Os atores geralmente surgem em estúdio, como se estivessem na África. Ford, sempre perfeccionista, coordenou todas as filmagens no Congo, na Tanzânia e no Quênia. Isso trouxe um visual extremamente rico para o filme.

Com tantas qualidades quem acaba roubando o filme em meu ponto de vista é a atriz Grande Kelly. Há um contraponto entre sua elegância, finesse e educação com os modos mais rudes da personagem de Ava Gardner (que de cabelos curtos também está muito sensual). Grace está maravilhosa em seu papel, que combinava perfeitamente com sua imagem pública. O curioso é que nos bastidores ela acabou tendo um caso passageiro com Gable, provando que por baixo de toda aquela imagem de mulher fria e nobre havia um vulcão adormecido. Enquanto Ava, que tinha uma postura mais sensual em cena, se comportava adequadamente no set de filmagem, sua parceira levava o astro principal do filme para debaixo de seus lençóis. O extremo oposto das personagens que interpretavam no filme. De uma forma ou outra tanto Grace como Ava foram agraciadas com indicações ao Oscar, muito embora elas não tenham levado o grande prêmio da sétima arte para casa.

Mogambo (Mogambo, EUA, 1953) Direção: John Ford / Roteiro: John Lee Mahin, Wilson Collison / Elenco: Clark Gable, Grace Kelly, Ava Gardner / Sinopse: Victor Marswell (Clark Gable) é um caçador americano na África que precisa decidir entre o amor de duas belas mulheres, a dançariana Eloise Y. Kelly (Ava Gardner) e a doce e tímida Linda Nordley (Grace Kelly), cujo o marido o contratou para levá-lo até as montanhas dos gorilas selvagens.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Amar é Sofrer

Frank Elgin (Bing Crosby) é um ator e cantor decadente com sérios problemas de alcoolismo que tenta se reerguer na carreira. Tentando conseguir um papel em uma peça off Broadway ele acaba sendo ajudado pelo produtor Bernie Dodd (William Holden) que resolve lhe dar uma última chance. Para isso conta com o apoio da esposa de Frank, Georgie (Grace Kelly), uma mulher de forte personalidade que quer ver o marido brilhar novamente nas marquises da Broadway em Nova Iorque. "Amar é Sofrer" é um excelente drama que foca nos bastidores do meio teatral norte-americano na década de 50. O personagem de Bing Crosby é um presente a qualquer ator. Embora Crosby não fosse um intérprete brilhante aqui ele mostra muita desenvoltura e talento em um papel extremamente complexo, principalmente para ele que era mais cantor do que essencialmente um ator de profissão. Considerado ao lado de Elvis e Frank Sinatra uma das mais belas vozes do século XX, Crosby brilha como Frank Elgin, um sujeito corroído por dentro, amargurado pela vida que tenta desesperadamente por uma redenção final. Para quem é fã do Crosby cantor também não há o que reclamar. Ele interpreta várias canções ao longo do filme, até porque a peça que seu personagem estrela é na verdade um musical de vaudeville. Crosby tinha uma voz poderosa e rica mas era um artista bem modesto em relação ao seu grande talento tanto que mandou colocar em sua lápide a despretensiosa inscrição: "Era apenas um bom sujeito que sabia levar uma boa canção em frente".

Além de Bing Crosby em grande forma o elenco ainda reserva duas outras grandes surpresas. A primeira é a presença magnífica de Grace Kelly. Aqui ela foge completamente dos tipos que costumavam interpretar nas telas. Praticamente sem maquiagem sua caracterização mescla momentos de forte personalidade com ternura. Muitos duvidavam da capacidade interpretativa da atriz, principalmente na época, mas tiveram que dar o braço a torcer diante desse excelente trabalho dela. Grace Kelly acabou vencendo o Oscar de Melhor Atriz e o Globo de Ouro na mesma categoria por essa maravilhosa atuação. Completando o ótimo trio central temos aqui um William Holden dominando todas as cenas com sua imponente presença. Curiosamente em um enredo que toca tão fundo na questão do alcoolismo, Holden parece não ter aprendido muito uma vez que ele próprio sofreu desse mal por anos até ter uma morte indigna de seu nome após uma noite de bebedeiras. Uma ironia do destino? Certamente. Como se tudo isso não bastasse "Amar é Sofrer" ainda tem um dos finais mais sofisticados e elegantes que já vi no cinema. Uma aula de bom gosto em uma produção bem acima da média. Perfeito.

Amar é Sofrer (The Country Girl, Estados Unidos, 1954) Direção: George Seaton / Roteiro: George Seaton baseado na peça de Cliford Odets / Elenco: Bing Crosby, Grace Kelly, William Holden, Anthony Ross / Sinopse: Frank Elgin (Bing Crosby) é um ator e cantor decadente com sérios problemas de alcoolismo que tenta se reerguer na carreira. Tentando conseguir um papel em uma peça off Broadway ele acaba sendo ajudado pelo produtor Bernie Dodd (William Holden) que resolve lhe dar uma última chance. Para isso conta com o apoio da esposa de Frank, Georgie (Grace Kelly) , uma mulher de forte personalidade que quer ver o marido brilhar novamente nas marquises da Broadway em Nova Iorque.

Pablo Aluísio.