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domingo, 26 de novembro de 2023

Papa Linus

Papa Linus
No decorrer dos séculos muito foi perdido em termos de precisão histórica da Igreja. O Papa Lino foi o segundo Papa da história da Igreja Católica. Foi o sucessor de Sâo Pedro, considerado o primeiro Papa por ter sido o fundador da Igreja de Jesus Cristo. Como grande parte dos escritos originais se perderam nesses séculos pouca coisa segura há para se desvendar sobre esse segundo Bispo de Roma, Lino. Sabe-se que nasceu na Toscana, filho de um homem chamado Herculano. Foi um dos primeiros a se converter ao cristianismo. Na época a nova crença era considerada uma religião perigosa e subversiva pelos imperadores romanos. Há controvérsias se Lino teria conhecido ou andado ao lado de Pedro, mas pode-se afirmar com certeza que ambos viveram no mesmo tempo e na mesma cidade, foram contemporâneos. Como a igreja ainda era uma instituição perseguida não se sabe com precisão quando começou seu pontificado. Não havia documentos escritos para evitar execuções dos líderes do movimento.

Para alguns historiadores porém Lino não seria o único a ostentar o título de Bispo de Roma em sua época. Ao que tudo indica o poder de se levar adiante a palavra de Cristo em um império que a oprimia pertencia a três homens diferentes, Lino,  Anacleto e Clemente. Segundo ainda tradições antigas Pedro teria passado a missão de levar em frente a igreja de Roma diretamente a Clemente, só que esse tinha pouca ambição de ostentar esse título (não se sabe se sua atitude partia de um certo temor de ser morto por autoridades imperiais ou por pura modéstia pessoal). Assim Clemente por ser muito modesto retirou-se logo dessa função. Anacleto por sua vez desapareceu subitamente dos poucos registros que sobreviveram, ficando claro que a partir de determinado momento coube a Lino a condução da Igreja logo após as mortes de Pedro e Paulo.

Não se sabe também com precisão por quanto tempo Lino foi Papa. Há um certo consenso de que ele teria ficado no trono de Pedro por onze anos e oito meses. Apesar da perseguição das autoridades seu pontificado foi considerado pacífico e administrativamente organizado. Ele escreveu um dos primeiros documentos da Igreja, um regulamento que proibia as mulheres cristãs de irem aos cultos sem o véu. Depois que Nero descobriu que Lino era o suposto líder da nova Igreja que nascia, resolveu que ele deveria ser martirizado. Segundo algumas fontes Lino foi morto no ano 78, sob as ordens do cônsul Saturnino. Existe uma lenda que Lino teria feito um exorcismo em sua filha, expulsando um demônio evocando o poder de Jesus.

De qualquer maneira, mesmo sem confirmação histórica precisa, o fato é que o Papa Lino teria deixado uma obra escrita em grego sobre os martírios de São Pedro e de São Paulo, contando também parte de suas histórias. Tal obra teria sido de imensa importância histórica hoje em dia, mas certos estudiosos acreditam que eles sofreram adulterações ao longo da história, sendo os escritos originais perdidos para sempre. A tradicional história do conflito entre São Pedro e Simão, o Mago, teria sido tirado do livro original de Lino. Outra suposição é que os textos teriam sido queimados por autoridades romanas que estavam decididas a destruir o movimento cristão em Roma. Em termos históricos o pontificado de Lino coincide com a invasão e destruição do templo de Jerusálem pelo imperador romano Tito, um fato que causou grande comoção entre os cristãos de Roma. A luta de Lino nos primórdios do cristianismo lhe valeu a canonização. Hoje o Papa é reconhecido pela Igreja Católica como São Lino.

Pablo Aluísio.

sábado, 20 de agosto de 2011

Papa Pio V

Papa Pio V
Antonio Ghislieri nasceu em Bosco, na Itália, no dia 17 de janeiro de 1504. Desde cedo demonstrou ter grande vocação pastoral. Em pouco tempo entrou para os quadros da Igreja Católica Romana. Aos 14 anos de idade ingressou na Ordem Dominicana. Estudioso e defensor da doutrina católica ele foi assumindo mais postos e responsabilidades dentro da hierarquia. Tornou-se padre, bispo e depois cardeal, passando por diversas cidades italianas em sua jornada evangélica. Pregou em Milão, Gênova, Parma e Bolonha. Antonio conciliava uma intensa vida dentro da igreja, rezando missas e prestando ajuda aos fiéis católicos, com uma rica produção literária. Assim se tornou um produtivo escritor. Suas obras foram a chave que abriram as portas de sua ascensão dentro do clero romano. Em seus livros Antonio Ghislieri sustentava de maneira teológica a visão da Igreja Católica sobre o evangelho. Durante sua carreira ele vivenciou em muitas cidades e povoados a proliferação do protestantismo. Assim sentiu na pele a desvalorização da doutrina católica. Para defendê-la ele se dedicou a escrever bastante sobre o tema. Isso lhe valeu autoridade cultural e admiração de seus pares.

Quando o Papa Pio IV faleceu, o agora cardeal Antonio Ghislieri foi para Roma exercer sua função de eleitor na escolha do novo Papa. Homem diplomata, conciliador e culto, ele foi ganhando a admiração dos demais cardeais que iriam escolher o novo Papa. Para sua surpresa seu nome começou a surgir nas apurações de votos e após duas tentativas de se chegar na maioria necessária para se eleger o novo papa, Antonio Ghislieri finalmente foi eleito em 7 de Janeiro de 1566. Em homenagem ao papa anterior, que admirava, resolveu adotar o nome papal de Pio V. Na ocasião estava com 62 anos de idade, o que na época significava uma idade avançada já que a expectativa de vida na Europa naqueles tempos mal passava dos 50 anos. Mesmo considerado velho para o pontificado, Pio V deu começo a uma série de medidas que considerava essenciais. Amantes dos livros, ele queria colocar em prática tudo o que havia aprendido em suas páginas.

Como era um homem de letras mandou organizar a elaboração do catecismo da Igreja Católica. Ao longo de sua vida Pio V pôde verificar que grande parte dos católicos não conheciam ou conheciam muito pouco a doutrina da Igreja. Ele queria que o catecismo se tornasse um livro de leitura diária para o católico em todo o mundo. Por isso mandou organizar uma edição definitiva, fruto de estudos e apurado rigor técnico e teológico. Com a bula papa "In cœna Domini" reafirmou a autoridade da Igreja Católica perante os cristãos. Já com outra bula, "Quo Primum Tempore", procurou trazer unidade para a celebração de missas e rituais, instituindo a Missa tridentina. Procurou com isso preservar a liturgia da Igreja Romana. Sensível aos abusos cometidos em touradas, onde animais eram sacrificados na arena, decidiu proibir a modalidade em toda a Itália, como forma de respeito aos direitos dos animais. Nesse aspecto foi um grande inovador. Como administrador ainda procurou realçar o corte de gastos entre o clero, procurando sanar as finanças do Vaticano que viviam em eterna crise. Por fim, ressaltou a importância do Rosário na vida dos católicos. Como era previsto por causa de sua idade, Pio V só conseguiu ser papa por seis anos. Em maio de 1572 ele morreu, sendo canonizado pela Igreja Católica 40 anos depois de sua morte, na mesma data de seu falecimento.

Pablo Aluísio.

domingo, 14 de agosto de 2011

Papa Paulo I

O Papa Paulo I subiu ao trono de Pedro em maio de 757, em uma época particularmente complicada para Roma e a Igreja. Ele era irmão do Papa Estevão II, a quem sucedeu se tornando assim o 93.º papa da Igreja Católica Apostólica Romana. Sua eleição se deu após uma intensa disputa entre os cardeais que desejavam a continuidade da política de Estado implantada por Estevão II e os reformistas liberais que desejavam eleger um Papa não italiano. Esse não foi o único caso na história em que dois irmãos se tornaram Papas. Bento VIII e João XIX também eram irmãos e se tornaram bispos de Roma. De qualquer maneira a eleição de Paulo I levantou a questão da sucessão Papal, onde ficou plenamente afastada a possibilidade de qualquer tipo de sucessão hereditária, como acontecia nas monarquias da época. Os defensores de Paulo I afirmavam que tudo não passava de uma mera casualidade histórica e não uma regra que deveria se seguir dali em diante.

Os Estados Papais sofriam o perigo da presença de Desidério, rei dos Lombardos, nos muros da cidade eterna. Dando sequência às políticas de destruição e conquista de cidades romanas, o monarca bárbaro queria colocar as mãos em Roma, a cidade mais cobiçada daqueles tempos brutais e hostis. Os exércitos do Papa não tinham poder bélico para controlar uma iminente invasão Lombarda e assim Paulo I precisou do apoio de um outro rei poderoso da época chamado Pepino, Rei dos Francos. Sabendo do risco que a cristandade poderia sofrer o rei Pepino jurou lealdade ao Papa, prometendo que iria defender Roma no caso de uma invasão dos Lombardos e o convidando para se tornar padrinho de sua pequena filha Gisela. A aliança entre Roma e os Francos assim se fortaleceu e continuaria por séculos, se intensificando com o reinado de Carlos Magno, futuro herdeiro do império Franco.

Se no campo diplomático Paulo I conseguiu uma certa estabilidade política para Roma, no plano interno resolveu adotar uma forma de governar a cidade de maneira misericordiosa e mais humana. Anistiou condenados à morte, promoveu a humanização das masmorras medievais da cidade e determinou o fim de sofrimentos degradantes aos prisioneiros. Todos deveriam ser tratados com misericórdia. Também determinou que a Igreja se empenhasse em arrecadar fundos para pagar as dívidas daqueles que estavam presos por insolvência pessoal. Para completar sua política de caridade e ajuda aos mais necessitados resolveu promover uma campanha de arrecadação de alimentos para os famintos da cidade. As famílias ricas deveriam criar um fundo de apoio aos mais pobres. Os membros do clero foram orientados a distribuírem a comida pela noite adentro, deixando cestas básicas nas portas das casas mais humildes. Para Paulo I era inadmissível que ainda houvesse fome entre a população romana.

Também empolgado pela vida dos monges mandou construir belas edificações para servirem de monastérios, escolas e hospitais, muitos deles administrados por grupos de religiosos que dedicavam sua vida ao próximo. Assim fundou o convento de São Silvestre no ano de 761. Depois com o apoio de monges gregos ergueu a capela de Santa Petronila, dedicada à filha de Pedro, o primeiro Papa. Usando como base sua política de alianças mandou ainda erguer uma bela igreja em honra à monarquia franca, que ficou conhecida como Igreja dos Reis Francos (onde muitos deles seriam enterrados no séculos seguintes). Também conseguiu selar um tratado de paz entre Francos e Lombardos, evitando um terrível derramamento de sangue, caso os dois reinos entrassem em guerra. Para seu desapontamento porém não conseguiu melhorar as relações com a Igreja Oriental, sediada em Constantinopla, mesmo tendo se empenhado pessoalmente para que isso acontecesse. Paulo I reinou em Roma por exatos dez anos, morrendo de causas naturais em 767. Foi sucedido por Estêvão III, um papa nascido na Sicília, mas sem parentesco com ele e Estevão II, que teve que enfrentar uma grave crise na Igreja Católica com o surgimento de dois anti-papas nos anos seguintes, Constantino e Filipe. A duras penas porém conseguiu manter a unidade dentro da Igreja, fazendo jus ao legado dos irmãos Estevão e Paulo.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Papa Pio IX

Foi um dos grandes Papas da história. Giovanni Maria Mastai-Ferretti nasceu em um berço liberal na cidade de Senigália, na Itália, em 13 de maio de 1792 (reparem que na mesma data em que séculos depois ocorreria a aparição de Nossa Senhora em Fátima). Sua família era conhecida por sempre abraçar as ideologias mais progressistas, mais modernas. Na juventude foi impedido de seguir carreira militar, como muitos jovens de sua época, por causa de um sério problema de saúde: Giovanni tinha ataques de epilepsia frequentes. Muito religioso, desde cedo demonstrou ter vocação para os assuntos de Deus. Resolveu então dedicar-se ao estudo da teologia. Em poucos anos se tornou sacerdote católico, se tornando padre em 1819, com a idade um pouco acima da média da de outros membros do clero ao iniciarem sua carreira religiosa. Foi enviado então para servir na América do Sul, no Chile, onde ficou por longos anos. Foi uma grande experiência de vida pois deu a Giovanni a oportunidade de conhecer outros povos, outras culturas, outras manifestações religiosas do catolicismo. Em 1825 retornou para a Itália onde começou a alcançar postos mais importantes dentro da hierarquia da Igreja católica. Dois anos depois foi nomeado arcebispo na cidade de Spoleto e em 1840 se tornou cardeal na diocese de Imola.

Muito por causa de sua linhagem familiar, Giovanni foi por décadas considerado um representante da ala mais liberal e progressista da Igreja, abrindo diálogo com todos os setores da sociedade, inclusive com a maçonaria. Esse rótulo o acompanhou e quando seu nome surgiu com força no conclave para escolher o sucessor de Gregório XVI, ele foi apoiado justamente por esses setores mais reformistas. Eleito Papa em 1846, Giovanni resolveu adotar o nome Papal de Pio IX em homenagem a Pio VIII, a quem tinha uma admiração muito especial. Queria se espelhar nele como novo Papa da Igreja. Todos esperavam que Pio IX promovesse profundas reformas estruturais e de liturgia dentro da Igreja. No começo de seu pontificado ele foi visto como a grande esperança dos liberais por toda a Europa. Afirmava-se que a maçonaria havia celebrado sua eleição. De fato no começo de seu reinado no trono de Pedro, Pio IX realmente nutriu grandes esperanças em se aliar com esses tipos de movimentos sociais, mas um fato mudou seu modo de ver a questão.

Agentes da Igreja Católica interceptaram mensagens maçônicas que em códigos secretos traziam planos para literalmente destruir a Igreja. Nas mensagens líderes maçônicos influentes planejavam infiltrar membros ligados a eles dentro do próprio clero católico. Era uma forma de desestabilizar as bases de fundação da Igreja por dentro de sua própria estrutura. Pio IX ficou profundamente abalado com as revelações. A partir desse ponto ele entendeu que aqueles que se diziam seus aliados e amigos na verdade estavam planejando sua queda. Pio IX resolveu reagir e começou a tomar uma série de medidas para reforçar os dogmas e os princípios católicos mais importantes. Abraçando o conservadorismo dentro de seu estilo de governar Pio IX começou a surpreender todos os que diziam que ele iria adotar uma linha extremamente liberal. No documento Syllabus Errorum condenou diversas ideologias que começavam a dominar corações e mentes por todo o mundo naquela época. Condenou em especial o comunismo, o socialismo, o racionalismo e a maçonaria. Foi um choque para seus antigos admiradores liberais.

Pio IX também entendeu que a única forma de combater os setores anti-católicos era se tornar extremamente católico. Reforçar o Papado, a crença nos santos e na virgem Maria, pontos sempre atacados por setores protestantes. Começou uma série de canonizações em série, algo inédito dentro da história da Igreja. Assim determinou que os processos de canonização fossem mais céleres e rápidos (alguns levavam séculos para se chegar numa conclusão definitiva). Na visão de Pio IX a Igreja precisava de mais exemplos positivos, de mais santos consagrados em sua história. Em 1854 proclamou o dogma da Imaculada Conceição da Virgem Maria, algo que causou forte reação dos protestantes europeus que defendiam que Maria era apenas uma mulher comum, como todas as outras. Isso porém não deveria ser considerado por católicos e Maria deveria ser sempre valorizada, algo que ficou muito claro na encíclica Ineffabilis Deus.

Dando continuidade em sua valorização do catolicismo o Papa Pio IX convocou o Concílio Vaticano I com a presença de mais de 700 bispos de todo o mundo. Nessa ocasião, procurando valorizar a figura do Papa, foi confirmado o dogma da infalibilidade papal. Os protestantes arrancaram os cabelos de tanta indignação. Os católicos celebraram. Era mais um ato de valorização da religião católica por parte de Pio IX, como sempre valorizando a Virgem Maria, os Santos e o Papa. Outra preocupação do Papa foi reforçar a presença católica em países onde havia ocorrido problemas políticos envolvendo a Igreja no passado. Na Inglaterra, onde a Igreja Católica havia sido praticamente banida por ordens do Rei Henrique VIII, a Igreja voltou a organizar seus quadros. A hierarquia foi restabelecida e muitas propriedades que tinham sido roubadas pelo antigo monarca foram devolvidas para a Igreja Romana. Em países onde havia ocorrido uma verdadeira guerra de intolerância religiosa contra católicos por parte de setores protestantes, Pio IX conseguiu das autoridades locais a garantia de proteção dos templos católicos, seus sacerdotes e os fiéis. Com isso o catolicismo começou a crescer novamente após ter sido banido por décadas por governos protestantes, principalmente nos países nórdicos da Europa.

Pio IX governou por mais de três décadas (seu papado durou 31 anos e sete meses) e foi o mais longo da história, atrás apenas de Pedro, apóstolo de Jesus e considerado o primeiro Papa. Ele enfrentou problemas sérios como a perda dos territórios papais e chegou a sofrer risco real de ser assassinado por seus inimigos. Em determinada ocasião precisou fugir de Roma, disfarçado de padre, para não ser morto por assassinos contratados. Enfrentou com coragem a ferrenha oposição de maçons, protestantes, judeus e comunistas. Sua decisão de reforçar o catolicismo foi seu maior legado. Pio IX mostrou grande inteligência e inspiração ao conduzir a Igreja Católica em um dos períodos mais duros da história, quando a fé católica estava sendo atingida por todos os lados e por setores poderosos da sociedade. Sua firmeza de caráter e perseverança em defender a Igreja é um exemplo que deve ser seguido por todos os católicos. Ele morreu aos 85 anos de idade em 7 de fevereiro de 1878. Em setembro de 2000 o Papa João Paulo II o beatificou. Sua festa litúrgica é celebrada no dia 7 de fevereiro. Um merecido reconhecimento por um homem que lutou bravamente por sua fé e suas crenças católicas.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Papa Anacleto

Anacleto foi o terceiro Papa da história. Ele sucedeu a Pedro, apóstolo e primeiro Papa, e Lino (ou Linus), o segundo bispo de Roma. Esse Papa teve um diferencial importante em relação aos demais. Ele era grego de nascimento, porém cidadão romano, o que já demonstrava que o Cristianismo deixava de ser uma religião seguida apenas por estrangeiros, para ser abraçada pelos próprios romanos. A palavra de Cristo havia criado fundações importantes dentro da própria sociedade da cidade eterna. Nessa época o culto ao Cristo era considerado crime em Roma. Não fazia muito tempo que Nero havia realizado uma das maiores perseguições contra os cristãos na história de Roma. Muitos foram sacrificados e mortos, alguns na arena, onde eram jogados aos leões para satisfazer os anseios sádicos de uma população ávida por diversão, mesmo sendo profundamente cruel e sanguinária.

Anacleto ou "Cletus" como também era conhecido, se tornou líder do movimento cristão no mesmo ano em que Vespasiano subiu ao trono de Roma. Imperador enérgico e violento, ele continuou a campanha de Nero contra a nova fé que se alastrava pelos quatro cantos do Império. Assim Cletus, apesar de ser um cidadão romano, seguiu liderando os cristãos na clandestinidade, pois caso fosse descoberto seria condenado à morte. Como era um homem culto e letrado resolveu trazer bases de administração da nascente Igreja Católica. Dividiu o território de Roma em grupos, chamadas de paróquias. Cada paróquia deveria ter um responsável por aqueles fiéis. Os cultos eram realizados muitas vezes em catacumbas para que nenhum cristão fosse capturado por autoridades romanas.
Durante algum tempo historiadores da Igreja debateram a tese de que Anacleto e Cletus, citados em livros antigos, eram pessoas diferentes e não o terceiro Papa da história. Após um minucioso estudo das fontes históricas chegou-se finalmente à conclusão que Anacleto nada mais era do que um nome que Cletus assumiu após se tornar bispo em Roma. Começou assim a tradição de Papas adotarem nomes dinásticos, algo parecido com o que acontecia com os próprios imperadores romanos. O seu nome de origem era Cletus, já Anacleto era seu nome Papal.

Curiosamente muitos soldados romanos que descobriam cristãos escondidos acabavam sendo convertidos pela fé. Como tinha cidadania romana Cletus se empenhou pessoalmente na conversão de seus próprios compatriotas. Com leituras do novo testamento e discussão das escrituras, ele com seu planejamento, colheu excelentes frutos. Essa competência administrativa da Igreja lhe valeu o título de Anacleto, palavra de origem grega que significa "Impecável". Seu papado durou doze anos e durante esse período o Cristianismo entrou definitivamente nas casas das mais influentes famílias de Roma. Inicialmente o Cristianismo foi considerado uma seita formada basicamente por escravos e pessoas marginais, porém a presença de pessoas da própria elite de Roma, como Cletus, mudou essa concepção.

Cletus também adquiriu a propriedade do monte do Vaticano com doações de seus fiéis. No local havia se dado o martírio de Pedro e Cletus sonhava em construir um belo templo no mesmo local onde foi fincada a cruz de Pedro. Seu sonho acabou se materializando, muitos séculos depois, na bela construção da Basílica de São Pedro. Livros seculares na biblioteca do Vaticano também indicam o número de paróquias fundadas por Anacleto em Roma. Foram inicialmente 25 paróquias locais, cada uma com um número próximo de 50 a 60 membros. Esses foram os primeiros cristãos romanos da história. Cletus também firmou a primeira noção de hierarquia dentro da igreja, ao colocar sob seu poder a nomeação dos líderes dessas paróquias - função que séculos depois daria origem ao cargo de Padre na hierarquia católica.

Não se sabe ao certo a causa de sua morte, mas ao que tudo indica Cletus morreu de forma natural, com idade avançada, entre 75 a 80 anos, uma expectativa de vida muito superior à média da época. Seus sucessores resolveram construir uma pequena tumba no monte Vaticano, onde acabou sendo enterrado, junto aos restos mortais de Pedro e de Linus, o segundo Papa da história. Seu grande legado foi trazer as primeiras normas administrativas e de hierarquia dentro da Igreja, ideias que seriam desenvolvidas depois, gerando ótimos frutos para a instituição como um todo. Seu nome (como Cletus) acabou incluído no Cânone Romano da Missa. Embora a data exata de sua morte tenha se perdido nas neblinas dos séculos a Igreja Católica resolveu dedicar o dia de 26 de abril em sua memória. Cletos faleceu no ano 92 e ao ser canonizado recebeu o título de Santus Anacletus, ou em nossa língua, Santo Anacleto.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Paulo VI e o Diabo

Durante muitos anos criou-se uma nova mentalidade sobre a existência real ou não do diabo. Para alguns mestres em teologia o diabo nada mais seria do que uma metáfora, uma alegoria do mal e não uma entidade real, mesmo que fosse tangível apenas no mundo espiritual. Para esses pensadores o mal estaria no próprio homem, como parte de sua natureza e que as escrituras assim o tinham utilizado em suas narrativas. Certamente havia o problema complicado de contornar sobre as próprias palavras do Cristo no Novo Testamento. São inúmeras as passagens em que Jesus citava nominalmente o diabo e não apenas metaforicamente como queriam fazer crer os defensores dessa teoria. Os que defendiam essa visão moderna porém afirmavam que Jesus havia citado o diabo por conveniência pois não havia como explicar algo diferente para as pessoas rudes e ignorantes de seu tempo. As possessões demoníacas passaram a ser encaradas como simples doenças mentais e rituais, como o próprio exorcismo, passaram a ser enfocados como algo medieval, primitivo e sem nenhum fundamento.

Esse tipo de ideologia começou a adentrar e se espalhar inclusive entre o clero da Igreja Católica e isso passou a ser uma preocupação do Papa Paulo VI que viu a necessidade de alertar aos católicos sobre o equívoco dessa visão. O Papa passou a entender que seria muito conveniente ao próprio Satã esse tipo de linha de pensamento, afinal o fato de não se crer mais em sua existência iria facilitar seu trabalho de espalhar o mal e o pecado entre a humanidade. Assim Paulo VI resolveu declarar e reforçar publicamente a posição da Igreja Católica sobre o tema. Em uma audiência pública realizada em 1972 no Vaticano, ao lado de vários membros do alto clero da instituição, Paulo VI deixou claro a existência de Satã e seus demônios, e explicou mais uma vez que eles eram de fato anjos caídos que tentaram usurpar a posição de Deus no Céu e desceram ao inferno por isso. Não se tratava de mitologia ou algo apenas simbólico, metafórico, mas sim real, concreto!

E não foi só, o Papa foi além, afirmando que Satã estava perigosamente se infiltrando dentro da própria Igreja, haja visto o aumento do número de problemas envolvendo seus membros. Paulo VI afirmou estar com a sensação de que "de alguma fissura a fumaça de Satanás havia entrado no templo de Deus." Depois completou: "Acreditamos que algo sobrenatural  veio ao mundo precisamente para perturbar, para sufocar os frutos do Concílio Ecumênico e impedir a missão da Igreja". O Papa reforçou que o clero católico deveria estar preparado para enfrentar esse desafio e expulsar de suas fileiras a presença do grande pai da mentira. Paulo VI se declarava bastante preocupado com os rumos que a Igreja estava tomando. Chegou a afirmar: "Mesmo na Igreja este estado de incerteza reina. Acreditava-se que depois do Concílio Vaticano II haveria um dia de sol na história da Igreja. Ele veio em vez de um dia de nuvens, de tempestade, de escuridão, de pesquisa, de incerteza. Pregamos o ecumenismo e destacamos mais e mais dos outros. Vamos cavar abismos em vez de enchê-los"

Hoje, tantos anos depois do aviso do Papa Paulo VI, podemos olhar para o que a Igreja vem passando e entender a profundidade de sua visão. Embora esteja em pleno processo de recuperação, com uma ampla limpeza de quadros promovida pelo Papa Francisco, o fato é que a Igreja sofreu muito, principalmente nos últimos anos, com escândalos de pedofilia envolvendo padres e demais membros do clero. Nesse aspecto Paulo VI foi visionário ao afirmar que sentia que a fumaça de Satã havia adentrado dentro do próprio seio da Igreja Católica. De fato entrou e maculou a vida de vários sacerdotes com o mais repulsivo dos crimes, abalando até mesmo a próprio instituição milenar de que faziam parte. Maior prova do poder de influência do anjo negro não há. Mesmo assim bons ventos já sopram no Vaticano e na Santa Igreja Católica, pois os homens podem decair em tentações mas a Igreja como instituição viverá eternamente até o fim dos dias, como o próprio Cristo profetizou ao afirmar que "Os portões do Inferno jamais prevalecerão sobre a minha Igreja".

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 21 de junho de 2011

Papa Gregório XIII

Não faz muito tempo e a Rainha da Inglaterra declarou que a mais tradicional monarquia da Europa era a dos Papas. Ela certamente sabia do que dizia. Os Papas, principalmente os da Renascença, eram verdadeiros Reis, cuja extensão de seu poder não se limitava às fronteiras de Roma, mas se estendia por praticamente todos os países do mundo. Ugo Buoncompagni, que passou para a história como Papa Gregório XIII, foi um dos mais notórios Papas reis da história da Igreja Católica.

Ele demonstrou, como poucos, a influência avassaladora das decisões da Igreja para todos os povos do mundo ocidental. Foi Gregório XIII quem implantou o atual calendário que ainda hoje utilizamos. Chamado de calendário Gregoriano, ele dividiu o ano em 12 meses, os meses em dias e os dias em horas e minutos.

Tudo foi elaborado por astrônomos renomados que serviam ao poder do Vaticano. Tão preciso se tornou esse trabalho que mesmo na atualidade, com tantos avanços científicos que foram feitos ao longo dos séculos, ainda se utiliza o mesmo método de contagem de tempo implantado pelo Papa Gregório. Um trabalho realmente magnífico. Através de um decreto Papal o calendário foi colocado em prática, para todas as nações cristãs, organizando e uniformizando a vida dos homens em relação ao tempo. Um trabalho definitivo.

Além de impor o famoso calendário aos povos cristãos esse Papa também decidiu que iria resolver o problema com a coroa inglesa. A celeuma entre a Igreja Católica e a dinastia dos Tudors começou com Henrique VIII. Ele queria se casar pela segunda vez, ao rejeitar sua primeira esposa que não havia lhe dado herdeiros homens. O Papa da época recusou anular o casamento de Henrique. Esse então resolveu romper com Roma, expulsando a Igreja Católica da Inglaterra, fundando sua própria religião, o Anglicanismo.

Nos tempos do Papa Gregório XIII reinava na Inglaterra a Rainha Elizabeth I, filha de Henrique VIII. Ela era uma protestante feroz, muito crítica e até mesmo herege em relação aos ensinamentos do Catolicismo. A Igreja tinha preferência pela outra filha de Henrique, Mary, que era católica como a mãe, a Rainha Catarina. Gregório XIII então fez de tudo para desestabilizar a coroa de Elizabeth, mas as tentativas foram em vão. Para piorar essa política internacional custou muito aos cofres da Igreja. Ao morrer em 1585, o Papa deixou uma série crise financeira para a Igreja. Ele havia reinado por doze anos e ao falecer aos 83 anos de idade, deixou os cofres do Vaticano praticamente vazios. Essa acabou sendo uma das mais graves crises enfrentadas pela Igreja Católica em sua existência. Um problema que deveria ser resolvido por seu sucessor no trono de Pedro.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Papa Pio V

O Papa Pio V foi um dos lideres mais preocupados com a doutrina da Igreja Católica. Ele vinha de família nobre e seu nome de batismo era Antonio Ghislieri. Nascido na pequena vila de Bosco Marengo, que fazia parte do condado de Milão, o jovem Antonio desde muito novo demonstrou ter aptidão para o estudo e para a vida religiosa. Com essas características ele entrou para uma ordem com apenas 14 anos de idade e nunca mais deixou o clero. Foi padre, bispo e cardeal.

Sua carreira foi muito rápida e bem sucedida dentro da hierarquia da Igreja Católica porque ele foi um produtivo escritor de trabalhos teológicos, entre eles várias teses que tinham como objetivo combater heresias protestantes. Esse futuro Papa também foi um inquisidor, considerado rígido e disciplinado. Quando se tornou cardeal logo foi identificado, por causa de seu grande preparo intelectual, como um provável sucessor do Papa Pio IV, que já se encontrava com a saúde abalada.

Assim, como era previsto, Antonio se tornou o Papa Pio V em janeiro de 1556. Na época todos reconheciam nele um grande intelectual, com preparo doutrinário, porém muitos também o consideravam sem carisma, duas características que fariam parte também do papado de Bento XVI. Antonio esteve na cadeira de Pedro por seis anos. Foi um Papado bem produtivo em termos de construção doutrinária por parte da Igreja Católica, como era de se esperar.

Procurando trazer uma definitiva racionalidade para a doutrina católica esse Papa publicou o Catecismo definitivo da igreja, um grande feito. Também determinou ao mundo católico que as decisões do Concílio de Trento fossem efetivamente executados. O Papa era considerado um grande conservador e um grande moralista, a ponto inclusive de se chocar com algumas pinturas de Michelangelo, mandando que os corpos nus das pinturas originais fossem cobertas por roupas. Também determinou e codificou a liturgia que deveria se usada nas missas da Igreja. Pio V, fazendo jus ao seu passado de inquisidor, não admitia maiores liberalidades na hora da celebração do principal ritual católico. Depois de lutar contra o avanço do islamismo na Europa o Papa morreu aos 68 anos de idade, de câncer. Ele foi enterrado na igreja de Santa Maria Maggiore, em Roma, onde até hoje está exposto.

Pablo Aluísio.

sábado, 18 de junho de 2011

Papa Pio IV

Com a morte do Papa Paulo IV começou a disputa pelo trono do Papa em Roma. Quatro grandes potências disputavam entre si para fazer o novo sucessor de Pedro. França, Portugal, Espanha e cidades italianas brigavam para apoiar o seu nome preferido nessa sucessão. O nome escolhido foi uma maneira de amenizar todas essas disputas. Depois de alguns anos o Papa voltou a ser um membro da família Medici. Giovanni Angelo Medici foi o escolhido e subiu ao trono em 1559. Ele adotou o título de Pio IV e começou a enfrentar os diversos problemas que atingiam a Igreja Católica naquele período.

Um deles era o velho problema do protestantismo, algo que quebrou a unidade do cristianismo na Europa. Inúmeras igrejas protestantes foram fundadas, criando tensões e conflitos em países do norte como Suécia, Holanda, Bélgica e Dinamarca. Algumas dessas guerras religiosas envolviam não apenas católicos contra protestantes, mas até mesmo entre seguidores de Lutero e outras vertentes dentro do próprio movimento dissidente. De repente a Europa não tinha apenas uma visão da doutrina cristã, mas dezenas, centenas delas, todas diferentes entre si.

O Papa Pio IV culpou esse estado de coisas à publicação de diversos livros que propagavam visões distorcidas da sociedade, do mundo e do próprio Deus. Assim ele mandou elaborar uma lista de livros hereges e mandou que todos os exemplares em circulação dessas obras fossem queimados em praça pública. O novo Index, ou índice de livros proibidos, baniu diversas publicações consideradas ofensivas ao verdadeiro pensamento do bom e fiel seguidor cristão. Curiosamente, em segredo, o Papa ordenou que pelo menos algumas cópias de cada livro proibido fossem preservadas dentro da biblioteca do Vaticano. A intenção não era erradicar completamente os livros proibidos, mas sim tirá-los das mãos de pessoas que poderiam se tornar subversivas ou perigosas. A criação literária em si deveria ser preservada.

Outro ponto de destaque de seu pontificado foi a conclusão do conturbado Concílio de Trento. Pio IV considerou bons os resultados, encerrando um árduo trabalho teológico dentro da Igreja. Em termos de diplomacia internacional Pio IV continuou a enfrentar problemas com a Inglaterra. Desde o rompimento com o rei Henrique VIII os conflitos continuavam. Londres e Roma não conseguiam chegar a uma saída diplomática para a crise. Depois de tentar uma aproximação com a filha de Henrique, Elizabeth I, o Papa resolveu romper relações de vez. Isso se deu em decorrência de um ofensa da Rainha ao Papa. Depois de tomar conhecimento dela o Papa então decidiu excomungá-la. O último ato do Papa foi a revogação e a proibição da simonia dentro da Igreja. A compra de perdão pelos pecados foi considerado uma indignidade para o pensamento cristão. Em 1565 o Papa foi encontrado morto em seus aposentos. Ele não era tão velho como seus antecessores, mas não gozava de muita saúde. Ele faleceu aos 66 anos de idade, após cinco anos como Papa.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Papa Marcelo II

Após a morte do Papa Júlio III subiu ao trono de Pedro o cardeal romano Marcello Cervini, que resolveu usar seu nome de batismo como título Papal. Esse Papa ficou notório na história por algumas características. A mais famosa foi o fato dele ter sido Papa por um breve, na verdade brevíssimo, período de apenas 22 dias! Eleito em 9 de abril, morreu em 1 de maio de 1555. Mal houve tempo de fazer qualquer coisa que fosse historicamente relevante. Suspeitas de que teria sido assassinado voltaram a rondar o Vaticano após sua morte.

E o que poderia ter causada a morte tão rápida desse pontífice? Para muitos historiadores Marcelo II tentou ser bastante revolucionário nos poucos dias de seu pontificado. Assim que foi eleito resolveu doar todo o dinheiro que seria usado em sua festa de subida ao trono para os pobres de Roma. Homem estudioso, metódico, ele queria promover um Papado de extrema austeridade, procurando investigar as finanças do Vaticano.

Também procurou reforçar a doutrina católica, como seu antecessor, Júlio III. Marcello era o encarregado da biblioteca da Igreja antes de ser eleito Papa e tinha uma cultura excepcional do ponto de vista teológico. Também combateu o nepotismo que existia dentro da Igreja, com membros do clero sendo favorecidos por causa de suas linhas de parentesco e fortuna pessoal. Seu exemplo calou fundo dentro do povo que logo percebeu que o novo Papa estava disposto a combater toda a corrupção dentro do alto clero em Roma.

Infelizmente seus anseios de mudança foram em vão pois morreu muito rapidamente. Embora sempre tenha pairado sobre a morte de Marcelo II várias especulações de que ele fora envenenado, historiadores modernos defendem que ele provavelmente já era um homem doente do coração quando foi eleito Papa. Com o stress do cargo e as pressões inerentes a sua posição, ele acabou sofrendo um colapso cardíaco enquanto caminhava apressadamente pelos corredores do Vaticano. Tão rápida foi sua morte que nem sequer foi pintado um quadro oficial do novo Papa, só existindo atualmente figuras e gravuras com sua imagem. Apesar da brevidade de seu pontificado o Papa Marcelo II é bem conceituado entre historiadores da Igreja Católica. Para muitos deles esse foi um Papa que realmente queria limpar a Igreja das pequenas e grandes corrupções. Pena que não houve tempo para isso.

Pablo Aluísio.

Papa Paulo IV

O Papa Paulo IV tinha origens humildes. Ele pertencia a uma família nobre, mas arruinada, de ascendência portuguesa, que morava há muitas décadas em Nápoles. Desde cedo a Igreja se mostrou ser uma boa carreira a seguir. Como seus pais não tinham mais terras e nem poder o jovem Giovanni Pietro Carafa viu nos estudos uma maneira de melhorar de vida. A instituição que tinha as melhores escolas e universidades da época era justamente a Igreja Católica. Carafa era um homem de fé, assim resolveu entrar no seminário. Jovem aluno muito estudioso, logo subiu na hierarquia católica, se tornando padre, bispo e arcebispo em Nápoles. Tornou-se homem próximo do Papa Leão X, que o nomeou embaixador na Inglaterra.

A morte muito precoce do Papa Marcelo II fez com que um novo conclave fosse convocado às pressas. Por suas qualidades pessoais Giovanni Pietro Carafa acabou sendo eleito Papa em maio de 1555. Assim que chegou ao trono Paulo IV precisou lidar com novos e velhos problemas. O poderoso Carlos V não gostava pessoalmente dele e fez de tudo para sabotar seu pontificado. Paulo IV resistiu, mas não sem antes trazer vários problemas políticos para a cúpula da Igreja.

Tendo sido embaixador na Inglaterra conhecia bem os problemas que a Igreja Católica enfrentava naquela nação, entre elas, a mais séria, a subida ao poder de Elizabeth I, que era filha de Ana Bolena e uma protestante feroz. Roma queria que Mary Stuart fosse a nova Rainha, não apenas por ser a filha legítima do Rei Henrique VIII, como também por ser a filha de Catarina de Aragão, rainha católica devota. Para o Vaticano Ana Bolena nada mais tinha sido do que uma amante do rei. A diferença de opiniões criou uma nova crise entre Roma e Londres, levando a mais um rompimento entre o Catolicismo e o Reino da Inglaterra.

Outra luta que o Papa teve que enfrentar foi contra a liberação dos costumes que havia na própria cidade de Roma naquela época. Na capital da fé cristã havia muitos prostíbulos, muitas jovens era prostitutas e a devassidão era completa. Mulheres sem maridos, órfãos jogados pelas ruas, miséria e pobreza moral. Para Paulo IV algo precisava ser feito. Foi assim que ele resolveu trazer a inquisição para Roma, para moralizar à força o povo da cidade. Isso criou para ele sérios problemas, entre eles a antipatia do próprio povo romano que passou a odiar o Papa.

Apesar da idade avançada, 83 anos, o Papa Paulo IV continuava sua problemática política diplomática internacional. Ele criou vários problemas com as mais diversas cortes da Europa. As brigas com Carlos V continuavam, os atritos com a Rainha Elizabeth I eram constantes e para piorar chegou a negar o reconhecimento do reinado de Fernando I. Com fama de austero, briguento e moralizante, o Papa morreu de forma inesperada numa manhã de agosto de 1559. Após quatro anos de um Papado turbulento ele não aguentou as pressões e morreu do coração. O velho Papa continuava muito impopular, mesmo após sua morte, o que fez com que seu túmulo fosse vandalizado. Suas ordens promovendo a moral e os bons costumes, interferindo na vida pessoal de muitos romanos, cobrou seu preço.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Papa Paulo III

O cardeal Alessandro Farnese se tornou o Papa Paulo III em outubro de 1534, pouco tempo após o assassinato de Clemente VII, seu antecessor. Alessandro era um velho cardeal na ocasião, muito bem relacionado nos bastidores do alto clero do Vaticano. Romano de nascimento, ele conhecia toda a cúpula da Igreja Católica na intimidade. Ao subir no trono de Pedro, Farnese precisou lidar com alguns aspectos negativos que envolviam sua biografia no passado. Uma delas era o fato de ter sido muito próximo do corrupto Papa Alexandre VI. Muitos cronistas diziam que a ascensão desse Papa representava a subida novamente ao poder do grupo que cercava o Papa Bórgia.

Outro problema é que Alessandro Farnese tinha filhos! Ele formou uma família enquanto era cardeal, isso em uma época em que o celibato já era regra oficial da Igreja. Ele tinha quatro filhos com uma nobre chamada Silvia Ruffini. Todos eles eram bem conhecidos em Roma e de certa maneira a notícia de que o novo Papa era realmente pai de família não chocou muito as pessoas da época, pois isso era de certa maneira notório dentro daquela sociedade. O celibato ainda era contestado por vários membros do clero, muitos alegavam que não havia base bíblica para essa norma. Curiosamente os escritos de Paulo (ao qual o nome do novo Papa se inspirava) tinham servido de fundamento para os defensores do celibato clerical.

Os problemas de sua vida pessoal porém pareciam menores diante da crise que a Igreja vinha passando. O avanço do protestantismo começava a preocupar os líderes da Igreja Católica. Os papas anteriores não tinham se empenhado muito em deter esse avanço, mas Paulo III chegara na conclusão que a coisa toda havia saído do controle. Durante mil e quinhentos anos o cristianismo havia sido unido sob a bandeira do Vaticano. Era uma igreja única. Com as publicações de Martinho Lutero várias novas igrejas iam surgindo nas mais diversas sociedades da Europa. Mal um novo monarca subia ao trono e logo ele rompia com o catolicismo, criando sua própria igreja. Foi o que fez o Rei inglês Henrique VIII. Com a recusa do Papa Clemente VII em lhe dar o divórcio ele resolveu romper com Roma. Expulsou os membros do clero católico do país e fundou sua própria igreja, a Anglicana. Casou-se com sua amante Ana Bolena e acabou sendo excomungado justamente por Paulo III que o declarou herege, adúltero e pecador.

Para combater o avanço do pensamento Luterano pela Europa, Paulo III também tomou outras providências, dando início ao que ficou conhecido como Contra-Reforma, uma série de medidas que visavam parar a reforma protestante pelo continente. Uma dessas medidas foi a implantação da terrível inquisição que visava julgar e condenar todos os hereges da fé católica. Sob essa bandeira muitos foram mortos em fogueiras por toda a Europa. Paulo III também promoveu e incentivou a fundação da Companhia de Jesus, criada por Inácio de Loyola em 1540.

De certa maneira Paulo III foi um Papa contraditório. Ao mesmo tempo em que ele autorizou coisas terríveis como a inquisição ibérica, também foi um patrono das artes, servindo de Mecenas para que Michelangelo pintasse uma de suas maiores obras primas, o juízo final no altar da Capela Sistina. Também se mostrou muito humanista ao escrever e defender os direitos dos povos nativos das recentes colônias espanholas e portuguesas no novo mundo. Em 1545 também promoveu outra de suas grandes obras, a convocação do Concílio de Trento, que iria mudar a Igreja para sempre. Tudo porém acabou ruindo da noite para o dia. Um de seus filhos foi assassinado por causa de intrigas palacianas e brigas por direitos sucessórios. A morte dele arrasou o Papa. Ele nunca mais conseguiu ser o mesmo. Ao entrar em depressão acabou sofrendo um colapso do coração, pois já estava em idade avançada, com 81 anos. Depois de sua morte ele foi enterrado na Basílica de São Pedro, como havia se tornado tradição no século XVI.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Papa Júlio III

Foi um ato de coragem do cardeal Giovanni Maria Giocci adotar o nome Papal de Júlio III. Isso porque Júlio II havia sido um dos grandes Papas daquele século. Evocar o título Papal Júlio era realmente a prova que o cardeal Giocci queria nada mais do que a grandeza para seu pontificado. Ele subiu ao trono em novembro de 1549, no conclave que foi convocado após a morte do Papa Paulo III. O alto clero de Roma queria mudar alguns aspectos para o novo Papa. Era necessário escolher um sucessor não tão idoso como havia sido Paulo III e não tão jovem como Leão X (que se tornou Papa com apenas 37 anos de idade!).

O que eles procuravam então? Um homem de meia idade, culto, bem relacionado diplomaticamente e que tivesse poder dentro da cúria romana. Nenhum nome se encaixava melhor nesse perfil do que Giocci. Assim que assumiu ele percebeu que o velho problema da cisão do Cristianismo continuava na Europa. Monarcas estavam fundando suas próprias igrejas protestantes, muitas delas controladas por protegidos da nobreza, pessoas sem qualquer qualificação religiosa que só queriam explorar os fiéis. Roma estava apreensiva com essa situação.

Júlio III enquanto cardeal foi um homem de confiança do Papa Paulo III. Muitos diziam que ele era seu braço direito. Assim não houve mudanças significativas no rumo da Igreja durante seu pontificado. O novo Papa se dedicou a completar tudo o que havia começado na gestão de Paulo III, entre eles o desenvolvimento do Concílio de Trento. Essa reunião de mestres e estudiosos católicos tinha sido inaugurada por Giocci quando ele era cardeal. Foi dele a incumbência de fazer as orações iniciais do Concílio e agora como Papa as discussões teológicas deveriam seguir em frente.

As teses de Martinho Lutero foram debatidas durante o Concílio e rejeitadas. Houve uma preocupação especial de Júlio III com os seminários católicos ao redor do mundo. Ele temia influências por parte dos reformistas nas mentes dos jovens estudantes. Por isso reforçou os colégios eclesiásticos, em especial da Alemanha e de Roma. Ajudou a elaborar os estatutos dos jesuítas, considerados essenciais para a Igreja Católica naquele momento delicado. Também fortaleceu a doutrina católica, evitando que fosse contaminada pelas novas heresias vindas dos seguidores de Lutero.

No plano externo, em questões políticas, o Papa Júlio III se aliou a Maria Tudor, filha de Henrique VIII, que havia rompido com o catolicismo. Com a morte do rei o Papa viu a oportunidade de reorganizar a Igreja Católica na Inglaterra, algo em que alcançou certo êxito. Também procurou abrir diálogo com os protestantes alemães, pois apesar de haver discordâncias dogmáticas, as duas linhas de pensamento religioso eram cristãs, acima de tudo. O Papa porém não conseguiu ver suas obras concluídas. Seu papado foi relativamente breve. Após cinco anos no trono de Pedro ele morreu, vítima de gota, uma doença bem dolorosa, que o impedia de se deslocar por sua corte e seus domínios, algo que lhe trouxe fama de ser recluso e alheio ao povo católico da época.

Pablo Aluísio.

Papa Clemente VII

Depois da morte do Papa Adriano VI subiu ao trono mais um membro da família Médici. Júlio de Juliano de Médici, que se tornaria o papa Clemente VII, era bem diferente de Adriano. Enquanto esse vinha de origem humilde e subiu por suas próprias forças, Júlio era parte da rica aristocracia europeia, fazendo parte da elite rica (e corrupta) de Florença, uma das mais influentes e poderosas cidades estado da época. O interessante que Júlio Médici foi por anos um dos grandes conspiradores palacianos do Vaticano, sendo figura central na ascensão de vários Papas como Leão X (com o qual tinha parentesco) e Adriano VI, seu antecessor.

Sua subida na carreira eclesiástica foi fulminante. Em pouco tempo Júlio Médici saiu da posição de padre para arcebispo, bispo e cardeal. Praticamente toda a sua carreira foi formada em Florença, onde sua família exercia uma posição de grande proeminência. Depois de se tornar cardeal foi para Roma, onde com grande tradição política acabou se tornando uma figura central na subida e queda dos Papas da época. Dizia-se nos bastidores que Júlio Médici, muitas vezes, tinha mais poder e influência do que o próprio Papa.

Por essa razão era natural que um dia viesse a se tornar Papa também. E assim ele venceu de forma bem fácil a eleição para a sucessão de Adriano VI. Adotando o nome de Clemente VII ele logo entrou de forma decisiva no jogo político da época, nunca se furtando em se meter nos mais variados assuntos dos diferentes Estados cristãos. Foi seguramente um dos pontífices mais politiqueiros de toda a história. Não havia um só trono ou nação que não tivesse algum representante do Papa em sua corte, sempre jogando o xadrez político daqueles tempos.

Com tanto envolvimento na política da época, Clemente VII negligenciou o lado religioso de seu posto. Ao invés de estar envolvido em questões de fé, espirituais, Clemente parecia mais interessado em colocar monarcas que estivessem ao seu lado, destronando os que iam contra seus interesses. Tampouco quis saber do nascente movimento protestante. Clemente achava aquilo uma bobagem que iria passar, sumir com o tempo, por isso não deu ouvidos às críticas que eram feitas para a Igreja, ao invés disso passou a insistir em coisas erradas, como a venda de indulgências.

O fato histórico mais conhecido de seu papado foi o rompimento com o Rei inglês Henrique VIII. O monarca britânico queria se separar de sua primeira esposa, que não lhe dava um herdeiro homem, para se casar com Ana Bolena, que tinha fama de prostituta. O Papa recusou dar o divórcio a Henrique pois Catarina de Aragão, a Rainha, era uma devota católica fiel. A crise, sem solução, acabou levando ao rompimento de Londres com Roma. Henrique VIII expulsou os padres e membros católicos da Inglaterra, fundando sua própria Igreja, chamada Anglicana. O Papa Clemente VII morreu aos 56 anos de idade, após ser envenenado em sua refeição com um cogumelo venenoso. Quem o matou? Com tantos inimigos nas cortes europeias essa resposta acabou ficando sem resposta.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Papa Leão X

A morte do grande Papa Júlio II abriu um vácuo de poder em Roma. Seu sucessor teria que ser igualmente grandioso. As principais famílias nobres da Europa disputavam o trono de São Pedro na época. Ter um Papa em sua linhagem familiar era seguramente uma grande honra. Assim na disputa pela sucessão de Júlio II a poderosa, rica e influente família Médici se sagrou vitoriosa, dando o trono do Papado para um de seus membros: Giovanni di Lorenzo de' Medici que se tornou o Papa Leão X em março de 1513. Como membro de uma das famílias nobres mais ricas de toda a Europa, Giovanni cresceu recebendo a melhor educação possível para a época. Seus professores ao longo da vida eram mestres da filosofia, das artes e da política. Ele era em razão disso extremamente culto e um dos jovens mais preparados da Europa, tanto que se tornou Cardeal muito jovem ainda.

Esse Papa realmente tinha que ter um preparo intelectual fora do comum porque ele enfrentou um dos grandes desafios na história da Igreja Católica: o desmembramento da fé cristã. Durante séculos, por mil e quinhentos anos,  a Europa viveu unida apenas sob uma única fé: o catolicismo. Agora Leão X precisava enfrentar algo novo, impensável anos atrás. Um grupo de reformistas liderados por Martinho Lutero estava divulgando ideias por todo o continente que dariam origem à reforma protestante. Os reformistas denunciavam a corrupção na cúpula da Igreja Católica e propunham uma reforma radical em seus dogmas, ritos e crenças. A Igreja já havia enfrentado muitos problemas antes, inclusive com invasões de exércitos brutais em seus domínios, mas jamais havia enfrentado uma guerra no mundo da teologia, das ideias religiosas.

Leão X foi um dos papas mais jovens da história. Ele subiu ao poder no Vaticano com apenas 37 anos de idade! Isso aliado aos desafios que tinha que enfrentar colocava em risco os rumos da poderosa Igreja Católica. Assim que assumiu o jovem Papa precisou enfrentar o fracasso do quinto Concílio de Latrão que foi reunido para trazer inovações para a Igreja, mas que concretamente fez muito pouco. Em pouco tempo se chegou na conclusão que havia sido um fracasso teológico. Os problemas porém iam além dos meros fracassos internos. O mundo cristão ocidental estava ameaçado pelo avanço dos guerreiros muçulmanos. O poderoso império Otomano estava prestes a invadir a cristã Hungria, ameaçando invadir a Europa Ocidental. Leão X então precisou reunir todos os grandes monarcas europeus para que eles organizassem seus exércitos para combater os islâmicos antes que fosse tarde demais. Planos para uma grande cruzada foram elaborados, porém no final o Papa conseguiu respirar aliviado ao perceber que os exércitos húngaros tinham conseguido destruir os exércitos invasores do Islã.

Outra crise, essa de natureza doméstica, perturbava a paz de Leão X. Em sua época a península itálica ainda não formava um único Estado (o que futuramente aconteceria com a fundação da Itália). Assim existiam várias cidades-estados, tais como Milão, Nápoles, Veneza, etc, sempre brigando entre si. Leão X exercia assim uma posição de árbitro no meio de tantos conflitos, algo que o desgastou enormemente. Dois porém foram grandes legados do Papa Leão X. O primeiro dizia respeito à escravidão. O Papa condenou publicamente o tráfico de negros para serem usados como mão de obra escrava nas colônias americanas. Para o Papa isso era um completo absurdo. Outra inovação veio do direito canônico pois o Papa Leão X promoveu mudanças para evitar que os postos de cardeais fossem ocupados apenas por fatores puramente políticos. Para ser cardeal agora era necessário passar por anos e anos de dedicação eclesiástica. Ironicamente o Papa Leão X encerrava um modelo que de certo modo havia lhe favorecido no passado. Depois de muitas lutas internas e externas, de política e teologia, o Papa morreu de forma repentina em dezembro de 1521, com apenas 45 anos de idade, o que despertou suspeitas de que ele teria sido envenenado. Algo que nunca foi historicamente confirmado.

Pablo Aluísio.

Papa Adriano VI

O Papa Adriano VI, que sucedeu Leão X, herdou um mundo cristão dividido. O protestantismo estava se espalhando em países do norte da Europa, muitas vezes apoiados por monarcas que tinham problemas políticos com a Igreja Católica. O curioso é que inicialmente o reformador Martinho Lutero queria a fundação de uma Igreja Evangélica unida, única, mas isso de fato não aconteceu. Cada príncipe, cada monarca europeu, cada Rei e Rainha, promoveu a fundação de igrejas subordinadas a eles, com dogmas religiosos que lhes agradavam e nada mais. O cristianismo assim passava por uma verdadeira anarquia religiosa promovida pelas monarquias europeias.

Adriano Floriszoon Boeyens, o Papa Adriano VI, era alemão de nascimento. Ele tinha origem humilde, filho de um simples marceneiro e uma dona de casa. Pessoas simples de sua cidade natal, Utrecht. O jovem porém demonstrava ter vocação para o estudo. Por isso seu pai o incentivou a investir numa vida acadêmica, ter educação formal, algo que lhe faltou. Patrocinado pela Marquesa de Borgonha ele fez dos estudos sua vida. Entrou na universidade e se formou em teologia, filosofia e direito canônico. Era um estudante disciplinado, dedicado e fervoroso amigo do saber. Desde cedo se destacou entre os colegas justamente por essas características.

A Igreja Católica mantinha as melhores universidades da época e assim a vida religiosa passou a ser um passo natural em sua vida. Quando se formou se tornou professor dos filhos da alta nobreza, educando os filhos do imperador Maximiliano I. Era um homem erudito, culto e muito respeitado. Justamente o tipo que o Papa Leão X - ele também um erudito - queria ao seu lado em Roma. Assim Adriano foi chamado para o Vaticano e lá se tornou Cardeal, por seus méritos próprios. Não tinha origem aristocrática, mas soube-se fazer sozinho com dedicação e luta no mundo dos estudos. Foi recompensado por isso.

Quando Leão X morreu uma parte dos cardeais queria a eleição de seu primo, também da família Médici, para o trono de Pedro. Dois terços dos cardeais porém formaram um bloco de oposição e resolveram apoiar Adriano, por ser um homem culto, de origem humilde, que não tinha laços com famílias ricas como os Médicis. Assim Adriano foi eleito Papa em 1522, quando curiosamente ele não se encontrava em Roma. Só depois voltou para a cidade, já eleito Papa pelos membros da Cúria Romana. Tinha 63 anos, uma idade considerada avançada para a época pois a expectativa de vida não ia muito além disso.

Como Papa, Adriano VI tentou lutar contra a corrupção na alta cúpula da Igreja Católica. Combateu as indulgências e promoveu reformas éticas em Roma. Como era alemão, com hábitos diferentes e cultura estrangeira, não conseguiu ganhar a confiança do povo romano, apesar de suas medidas de limpeza da Cúria romana. Era considerado um homem duro, de gestos firmes, não condizentes com o que o rebanho estava acostumado. No trato político era austero, o que lhe criou problemas com a nobreza europeia. Também, para muitos historiadores, não levou muito à sério a Reforma Protestante, achando equivocadamente que ela não iria muito longe e que não prosperaria. Infelizmente, como já era uma pessoa idosa para os padrões do século XVI, não ficou muito tempo como Papa, Após um ano de sua subida ao trono morreu no Vaticano. Foi um dos mais breves papados da história. Um outro Papa alemão demoraria a subir novamente ao poder depois de sua morte.

Pablo Aluísio.

domingo, 12 de junho de 2011

Papa Júlio II

Em uma época em que os Papas eram os monarcas mais poderosos da Europa cristã, o Papa Júlio II foi certamente um dos homens mais influentes e poderosos de seu tempo. Giuliano della Rovere era italiano, nascido na cidade de Savona. Desde jovem esteve ligado aos assuntos da Igreja Católica uma vez que era sobrinho do Papa Sisto IV. Esse parentesco lhe abriu as portas para ter acesso a uma educação primorosa, nas melhores escolas da Igreja. Muitos historiadores acreditam inclusive que Sisto queria formar e modelar um sábio para no futuro se tornar Papa. O jovem Giuliano era basicamente seu projeto pessoal em relação a isso.

Assim o futuro Papa acabou recebendo uma educação das mais completas. Quando se tornou frade resolveu seguir os passos dos franciscanos a quem especialmente admirava. Depois foi subindo na hierarquia da Igreja em Roma. Se tornou bispo na França e depois cardeal em Roma. Sabia falar várias línguas, o que o deixava em posição especial dentro da cúria, geralmente exercendo funções diplomáticas. O Papa Inocêncio VIII o tinha em grande estima pessoal. Quando Alexandre VI, um dos papas mais corruptos da história da Igreja subiu ao poder, Giuliano della Rovere se tornou um dos principais cardeais de oposição aos seus absurdos. Tão indignado ficou com Alexandre VI que inclusive chegou ao ponto de se aliar ao Rei Charles da França para que exigisse um concílio com o objetivo de investigar os abusos cometidos.

Quando Alexandre VI morreu subiu ao poder o Papa Pio III, o breve. Esse Papa vinha como um esperança de renovação contra os abusos e crimes do Papa anterior, mas morreu pouco depois, de uma séria doença incurável. Assim Giuliano della Rovere se tornou seu sucessor natural, uma vez que sempre se alinhara com a oposição ao infame Papa Bórgia, linha política essa que tinha ele e Pio III como principais representantes. Em novembro de 1503 ele finalmente subiu ao trono de Pedro, adotando o nome de Júlio II.

Uma de suas principais medidas foi enfraquecer e aniquilar os poderes que a família Bórgia (do Papa Alexandre VI) ainda tinha em Roma. Em poucos meses ele renovou os principais postos do Papado, eliminando membros fiéis aos Bórgias. No campo teológico convocou o Quinto Concílio de Latrão que evitava deter a visão apocalíptica de Joaquim de Fiore, um abade que pregava o fim do mundo ainda para aquela geração. Também nesse Concílio chegou-se ao dogma que afirmava que a alma humana era individual e imortal. Júlio II também lutou contra a criação de uma Igreja Católica de natureza estatal, sediada na França.

Outro aspecto muito lembrado de seu Papado foi seu intenso apoio aos grandes artistas da época. Considerado o verdadeiro Papa Mecenas, Júlio II contratou os serviços de gênios como Rafael e Michelangelo. Foi Júlio II quem mandou pintar o teto da capela Sistina, considerada uma das maiores obras primas artísticas de todos os tempos. Também se destacou no campo militar. Para defender os territórios papais o Papa Júlio II mandou reorganizar os exércitos do Vaticano, investindo em novas armas e equipamentos para manter as terras que historicamente eram dos Papas.

Durante todo o seu Papado manteve uma aproximação com os monarcas da França, Portugal e Espanha. Ao lado desses dois últimos Estados acabou confirmando o Tratado de Tordesilhas, que dividia as novas terras descobertas entre os dois reinos. Em fevereiro de 1513 o Papa adoeceu misteriosamente e após uma febre intensa morreu no Vaticano. Ele foi enterrado inicialmente na Basílica de São Pedro Acorrentado (onde estariam relíquias importantes, as correntes que teriam prendido São Pedro). Depois seus restos mortais foram transferidos para serem enterrados na Basílica de São Pedro no Vaticano, bem ao lado de seu tio Sisto.

Pablo Aluísio. 

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Papa Pio VII

Quando Dom Pedro I subiu em seu cavalo e gritou "Independência ou Morte", declarando assim a separação de Brasil e Portugal, quem estava sentado no trono de São Pedro era o italiano Barnaba Niccolò Maria Luigi Chiaramonti, que subiu ao papado com o nome de Pio VII. Esse Papa, que foi monge beneditino, foi uma das figuras históricas mais importantes da Igreja Católica porque teve seu pontificado em um dos períodos mais nebulosos da história europeia.

Durante seu pontificado subiu ao poder na França um jovem general chamado Napoleão Bonaparte. Ele era fruto da revolução francesa. Com a deposição e morte dos reis franceses o povo pensou ter se libertado da opressão e da tirania dos reis absolutistas. Durante a revolução o clero também foi acusado de ter participado dos reinados desses reis despóticos e cruéis e por essa razão a Igreja e seus membros foram perseguidos durante aqueles anos de revolução e sangue. O problema é que a própria revolução acabou se tornando ainda mais sangrenta do que o período da realeza. O chamado "Terror" matou milhões de franceses na guilhotina. Muitos padres, bispos e membros da igreja francesa foram mortos, sem julgamentos, em execuções sumárias absurdas. Outros foram torturados, tendo os bens da igreja confiscados pelo poder revolucionário.

No meio do caos subiu ao poder Napoleão. Um militar ganancioso, tão absolutista quanto tinham sido os reis da dinastia Bourbon. Napoleão Bonaparte não tinha qualquer respeito para com a Igreja e o Papado. Na verdade tentou em vão subjugar Pio VII, tentando forçar e forjar seu apoio para suas guerras de conquistas (as chamadas guerras napoleônicas). Com a recusa do santo padre o ditador militar resolveu despachar suas tropas para destruir a sede da Igreja em Roma. Em poucos momentos da história o Papado esteve em tamanho perigo como naqueles anos turbulentos. Seguindo as ordens de Napoleão os Estados que pertenciam à Igreja foram confiscados pela França e o próprio Papa preso em prisões situadas longe de Roma, em território francês. Napoleão queria exterminar o catolicismo da Europa pois esse havia se tornado um empecilho perigoso aos seus planos de dominar todo o mundo ocidental conhecido.

Inglaterra, Prússia e Rússia se aliaram e depois de muito sangue derramado conseguiram destruir Napoleão e seus exércitos. Somente após essas guerras é que finalmente Pio VII conseguiu retornar para Roma. Ele encontrou igrejas saqueadas, membros do clero mortos e muito medo entre os católicos, que apesar da perseguição por parte de Napoleão continuaram firmes na fé. Uma das primeiras medidas de Pio VII de volta a Roma foi autorizar a criação da Companhia de Jesus - um grupo de religiosos determinados a seguirem uma disciplina dura, praticamente militar, para expandir a evangelização dos povos, principalmente no chamado novo mundo (onde estavam as colônias americanas mais importantes).

Pio VII esteve no poder por 23 anos. Seu pontificado foi um dos mais cruciais da história da Igreja Católica em seus dois mil anos de existência. Para muitos na época ele seria o último Papa, isso por causa da revolução francesa e a da perseguição violenta que Napoleão Bonaparte promoveu contra religiosos e membros do clero em seu país e nas nações dominadas. Isso porém não aconteceu. O Papa Pio VII conseguiu sobreviver a todas as perseguições e a todos os violentos inimigos que queriam a destruição da igreja. Assim rompeu as amarras da tirania para retornar para Roma onde após sua morte foi eleito o Papa Leão XII, seu sucessor (que muitos diziam não iria existir). Cumpria-se assim mais uma vez a profecia que o próprio Jesus Cristo havia feito sobre sua Igreja, pois as portas do inferno novamente não tinham conseguido destruir a Igreja Católica. Ela seguia em frente, firme e forte para os novos tempos.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Papa Sisto V

Em abril de 1585 o cardeal Felice Peretti se tornou o Papa Sisto V. Ele ficou conhecido por algumas questões internas e externas que teve que enfrentar. Nos tempos de Sisto V o Papa exercia funções religiosas e de administração pública dos territórios da Igreja. Um dos desafios que Felice teve que enfrentar foi a criminalidade. A cidade eterna Roma estava infestada de marginais, bandidos e assaltantes. O povo romano não aguentava mais aquela situação.

Sisto V então resolveu combater o mal pela raiz. Muitos criminosos se refugiavam nas ruínas do coliseum. Reza a lenda que Sisto mandou distribuir bebidas para eles, fingindo ser o presente um ato de misericórdia. As bebidas estavam misturadas com substâncias soníferas. Os criminosos beberam e caíram em sono profundo.

Quando isso aconteceu os homens do Papa entraram no coliseum e prenderam a todos. Depois, usando de sua experiência como inquisidor quando ainda era bispo e cardeal, Felice implementou uma política de tolerância zero contra os criminosos. Em pouco tempo a cidade respirava ares mais tranquilos e a criminalidade foi praticamente zerada. Por sua política de combate contra os bandidos o Papa acabou sendo chamado pelo povo romano de "Sisto, o duro".

No plano externo continuou a tratar da questão inglesa. Desde os tempos de Henrique VIII, o poder real inglês estava rompido com o poder do Papa em Roma. Sua filha, a rainha Elizabeth I, não facilitava em nada as relações diplomáticas com a Igreja. Havia sido Felice Peretti, ainda nos seus tempos de cardeal, que havia redigido a bula de excomunhão do rei inglês e ele não voltou atrás em uma linha daquele documento agora que era Papa. Sisto V até tentou obter apoio de outras nações para combater a heresia da coroa inglesa, mas não encontrou boa recepção dos reis da época. A Inglaterra havia se tornado uma potência econômica e militar e nenhuma grande nação da Europa queria ter problemas com a coroa britânica. E depois de cinco anos no trono de Pedro, o Papa morreu em agosto de 1590. Sua morte foi decorrência de problemas do coração.

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 29 de março de 2011

Papa Alexandre VII

Depois de Alexandre VI, poucos poderiam prever que haveria um Alexandre VII, isso porque o sexto havia deixado muito a desejar, se envolvendo com escândalos e corrupção das mais variadas formas. Que Papa iria se assumir como o sétimo dessa linhagem? Mas sim, houve esse Papa. O Cardeal  Fabio Chigi assumiu o título de Papa Alexandre VII quando foi eleito no ano de 1655.

Ele era natural de Siena, na Itália, e nasceu no dia 13 de fevereiro de 1599. Ao longo de sua vida no clero exerceu inúmeros postos na hierarquia da Igreja Católica e se tornou um homem importante dentro da instituição quando se tornou secretário de Estado do Vaticano, sendo uma espécie de braço direito do Papa Inocêncio X. Homem estudioso, poeta e escritor, ele contou também com alianças familiares para subir em sua carreira. Era sobrinho do Papa Paulo V.

Começou como um Papa extremamente humilde e devoto que odiava o luxo de Roma. Dizia-se que mantinha seu próprio caixão por perto, para que sempre lembrasse que era um homem mortal que um dia morreria. Porém com o tempo e o poder esse Papa foi perdendo parte dessa mentalidade. Passou a se sentir confortável com todo o luxo do Vaticano e passou a empregar parentes, revelando um de seus piores pecados, o nepotismo.

Ele que havia sido inquisidor também mostrava pouca tolerância para com pessoas que eram consideradas hereges pela doutrina católica. Isso dificultava a diplomacia do Vaticano em relação a embaixadores de países protestantes. Ele morreu de insuficiência renal, após ficar 12 anos no trono de Pedro. Crônicas da época diziam que ele ainda mantinha seu caixão por perto e morreu após rezar a missa da Páscoa, mesmo contra a opinião de seus médicos pessoais. Foi um Papa controvertido, amado e odiado pelas pessoas de sua época na mesma proporção.

Pablo Aluísio.